David Filar David

David Filar

Reebok Zig Kinetica II Edge Reebok Zig Kinetica II Edge
30—05—2022 Fotos por: Kickstory
David Filar
Entrevista Nº 180

Quando estávamos planejando a nossa viagem, a primeira pessoa que entramos em contato foi com o designer Marc V Brosseau. Inicialmente achamos que ele estaria em Boston, mas na verdade ele já tinha se mudado para L.A. (na entrevista dele vocês vão entender melhor). Então, pedimos para ele indicações de nomes em Boston e o primeiro que ele falou foi: David Filar.

O David topou na hora e não poderíamos ter ficado mais empolgados. Pesquisando sobre o seu background, vimos que ele não é apenas um designer. Ele é um artista, um criativo, criador de conteúdo e principalmente um ser humano incrível que tá sempre a procura de ser a melhor versão dele, e também ajudar as pessoas a serem suas melhores versões, criando diálogos por onde passa.

Encontramos ele na frente da Biblioteca Pública de Boston, um lugar histórico da cidade, para falar sobre o tênis que desenvolveu junto com o seu amigo Marc – o Reebok Zig Kinetica II Edge. David trabalhou na Vibram, empresa que desenvolve e comercializa solados de borracha, por quase 8 anos, e esse Zig foi o primeiro Reebok a ter um solado Vibram desenvolvido especificamente para ele. Dos mais de 1.000 projetos que David desenvolveu para eles, esse é um que ele tem um carinho enorme. Duas semanas antes da nossa entrevista, ele saiu do seu cargo como diretor criativo, para ser diretor de produto e design na End State – uma startup fundada por Stephanie e Bennett, que faz a ponte entre ativos digitais e produtos físicos.

“Eu sou o David Filar. Eu digo pras pessoas que sou artista, mas não acredito que eu seja uma coisa. Sou designer de calçados, criativo, pintor, apresentador de podcast, voluntário, sou muitas coisas. Tento fazer o máximo de coisas possível para aprender o que é que eu gosto de fazer e depois o que não gosto de fazer. Sou um imigrante de primeira geração da Polônia, minha família emigrou pra cá e toda vez que eu começo uma entrevista, eu sempre digo que eu não sou nada sem meus pais e o seu sacrifício. Então, estou super feliz, me sinto abençoado, afortunado e grato por poder sentar aqui com vocês neste Starbucks em Boston, em vez de morar na Polônia em uma fazenda. Além disso, estou super agradecido por ter essa oportunidade de estar aqui, obrigado por me pedir para fazer isso. Estou animadíssimo (risos).”

Como você sente que ser a primeira geração de imigrante nos Estados Unidos o moldou como pessoa?

david É tudo, né? Eu acho que a maior coisa que meus pais fizeram foi nos proporcionar uma vida melhor, mas desde muito jovem eles me ensinaram a ter essa ética de trabalho: “Eu acredito que você pode conquistar qualquer coisa na vida se você realmente trabalhar duro, e colocar sua mente para isso.” E acho que os sacrifícios que fizeram e o trabalho que tiveram para chegar onde estão hoje, é realmente notável. Então eu realmente abracei a ética do trabalho e não defini minha vida pelo trabalho. Eu considero que é apenas equilíbrio. Se você faz o que amo, você pode trabalhar feliz e viver ao mesmo tempo. Então, para mim, isso é muito importante.

Meus pais trabalharam muito duro e em muitos empregos de merda ao longo de suas vidas. Quando eu tinha 13, 14 anos, minha mãe limpava funerárias e casas de pessoas ricas para ganhar algum dinheiro, enquanto estudava e criava os três filhos, tudo ao mesmo tempo. Então, à noite, ela sempre pedia para gente ajudar ela a limpar esses lugares por $10, $15 por algumas horas de trabalho, nós recolhíamos o lixo e fazíamos essas coisas. Então, desde muito jovem, eu sempre trabalhei porque eles me ensinaram que se você realmente quer alguma coisa, você só precisa colocar sua mente no lugar certo e trabalhar para isso.

“Eu realmente abracei a ética do trabalho e não defini minha vida pelo trabalho. Eu considero que é apenas equilíbrio. Se você faz o que amo, você pode trabalhar feliz e viver ao mesmo tempo. Então, para mim, isso é muito importante.”

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Como começou a sua trajetória com arte e design?

david Minha irmã é um ano mais velha que eu. Ela foi para a faculdade em Emerson, que não é muito longe daqui. No meu último ano do ensino médio eu fui visitá-la aqui em Boston e eu simplesmente me apaixonei pela cidade. Eu tava tipo “eu preciso ir para uma faculdade em Boston.” Eu só me candidatei a uma, que foi a Wentworth Institute of Technology.

Me candidatei para arquitetura, eu quis ser um arquiteto. Mas eles negaram minha inscrição porque eu não tinha um portfólio e esse era um dos pré-requisitos para ser aceito. Então eles falaram que se eu escolhesse um curso diferente, eles me aceitariam e depois eu poderia me transferir para o curso de arquitetura. Eu sei, é muito estranho. É como um elogio insultuoso: você é bom o suficiente para tudo, menos para arquitetura. Então eu comecei a fazer engenharia civil e eu odiei, pra caralho. Era muito chato. Eu tinha aulas de tijolos e estruturas, não era pra mim.

No meu primeiro ano de faculdade, éramos 13 caras em uma suíte – sim, eram muitos caras em um só lugar (risos). E na época eu tinha um colega de quarto, Lorenzo, que sempre desenhava com marcadores e essas coisas. Ele era a única pessoa de desenho industrial, então perguntei a ele qual era seu diploma e ele disse “tô fazendo o curso de design, sou artístico”. – agora ele faz fotografia (risos). Depois que vi ele fazendo isso, mudei para o curso de desenho industrial, eu não tinha ideia que existia essa graduação. Eu só descobri que existia a carreira de designer de calçados no meu primeiro ano de faculdade. Na época, aprendi que você precisa experimentar de tudo para saber o que gosta de fazer e conhecer novas pessoas para inspirá-lo a fazer outras coisas. Eu sempre faço referência ao Lorenzo porque ele foi a primeira pessoa que me apresentou ao design como uma profissão.

Quando você descobriu sobre o curso de design, o que fez você seguir a carreira como designer de calçados?

david O design é obviamente tudo. Desde o design das cadeiras que estamos sentados, até a escova de dentes, o carro, o calçado, é literalmente tudo ao nosso redor. Eu conheci algumas pessoas ao longo do caminho que me inspiraram a fazer design de calçados, e no meu primeiro ano da faculdade eu fiz uma aula de calçados. Foi aí que eu realmente aprendi os fundamentos do design de calçados e eu realmente curti, esse foi meu primeiro ponto de contato nesse mundo e eu realmente foquei a minha carreira para isso.

O meu TCC foi meio que sobre isso também. Eu adorava jogar tênis na faculdade, então o projeto foi em torno dessa palmilha que você insere no tênis, e ela acompanha seus movimentos e ajuda você a se desenvolver e se tornar um tenista melhor. Era sobre os pés, movimentos anatômicos e coisas assim. Mas sim, quando eu estava terminando a faculdade, 3 a 4 meses antes de me formar, eu tava apenas mandando meu CV para empresas de calçados. Eu estava obcecado com isso naquele momento.

E quando começou o seu interesse especificamente por tênis?

david Quando eu era criança, minha família não tinha muito dinheiro. Nós não éramos super pobres, mas minha mãe não comprava tênis pra mim por mais de $40. Eu ficava com o mesmo par por quatro ou seis meses até detonar eles de tanto usar, e aí eu ganhava um novo (risos). Mas eu lembro que no ensino médio, tinha esse de streetwear chamado Karmaloop. Eles tinham umas marcas estranhas desde relógios, mochilas a camisetas de marca. Lembro de comprar os meus tênis lá, mas eu sempre escolhia os mais diferentões. Eles eram baratos, a marca não era visível, eu nem me importava com a marca, eles eram tão únicos e era esse tipo de tênis que eu gostava. Eu ainda, até hoje, nunca tive um Jordan (risos). Não tem nada a ver comigo. Eu sempre gosto de usar algo que seja original e que realmente chame atenção.

Lembro de comprar os meus tênis lá, mas eu sempre escolhia os mais diferentões. Eles eram baratos, a marca não era visível, eu nem me importava com a marca, eles eram tão únicos e era esse tipo de tênis que eu gostava. Eu ainda, até hoje, nunca tive um Jordan (risos). Não tem nada a ver comigo. Eu sempre gosto de usar algo que seja original e que realmente chame atenção.”

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É engraçado você falar isso porque hoje em dia, a gente vê por aí muita gente comprando Jordan para se destacar, mas todo mundo tem Jordan, então no final do dia ninguém tá com um tênis exclusivo, é doido isso. Agora que você trabalha com tênis, você acha que mudou a sua relação com eles?

david Eu definitivamente presto mais atenção às marcas agora, mas eu ainda gosto de comprar os tênis que são únicos e que você não vê quase ninguém usando por aí. Se eu entrar em um evento, uma sala, ou uma reunião de negócios, quero ter certeza que eu sou a única pessoa usando aquele par de tênis. E é por isso que minha coleção não apresenta muitos tênis hypados, porque simplesmente não ressoa comigo. Quantas colorways de um Stan Smith você pode ter? Ou de um Air Force 1? Pra mim isso é entediante (risos). Então não, não mudou muito, mas estou mais em sintonia com o que as marcas estão fazendo e o que me inspira.

Quais marcas você tem gostado mais hoje em dia?

david Ao longo dos anos, eu tenho usado muito o site Concept Kicks. Daniel Bailey e eu somos bons amigos, e ao longo dos anos ele compartilhou todas essas marcas menores independentes, e eu aprendi sobre elas. Aqui nos Estados Unidos, existem muitas como a Clear Weather ou a Brandblack, ambas fundadas em LA. Uma das minhas favoritas é a Lilith fundada em Nova Iorque pela Sarah Sukumaran, é uma marca de tênis feminina onde eles construíram essas incríveis silhuetas menores que são diferentes de tudo que você já viu. E estou feliz que ela me enviou um par em tamanho masculino. Eles são tão únicos! Sabe quando você entra em uma sala e ficam “que que essa pessoa tá usando?” É isso que eu amo. Então, eu gosto muito de marcas independentes menores, acho que eles estão tentando fazer algo completamente diferente do que essa produção em massa e saturação excessiva do mercado de tênis. Então, se a história da marca e produto for interessante, eu vou dar preferência a essas marcas.

Ao longo dos anos, eu tenho usado muito o site Concept Kicks. Daniel Bailey e eu somos bons amigos, e ao longo dos anos ele compartilhou todas essas marcas menores independentes, e eu aprendi sobre elas. Aqui nos Estados Unidos, existem muitas como a Clear Weather ou a Brandblack, ambas fundadas em LA. Uma das minhas favoritas é a Lilith fundada em Nova Iorque pela Sarah Sukumaran

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Você trabalhou por mais de 7 anos na Vibram. Como você começou a sua jornada lá?

david Então, depois de quase oito anos como diretor criativo de design da Vibram, eu acabei de pedir demissão. Mas a minha história com a marca é: eu tava me formando na faculdade e eu queria trabalhar com calçados, então me candidatei em mais de 100 marcas diferentes para tentar um estágio, trainee, qualquer coisa, mas apenas duas marcas entraram em contato. Uma delas era uma marca feminina de salto alto. E a outra foi a Vibram, e eu adorei. Eu não sabia muito sobre a marca antes de começar a trabalhar lá, mas sabia que eles eram mais voltados para atividades ao ar livre e pessoas ativas, eles criavam produtos de performance. E eu sempre achei isso super interessante, senti que eles tinham um propósito, queria ter certeza de que estava criando e desenhando algo que pudesse impactar as pessoas.

Depois de quatro ou cinco entrevistas, eu tive a sorte de conseguir o estágio. Comecei com um contrato de experiência porque eles contrataram 2 designers ao mesmo tempo, mas só tinham uma vaga aberta. Então o meu estágio começou assim só para eles verem se eu ia bem já que eu não tinha experiência nenhuma, eles estavam dando uma chance pra um cara que tava na faculdade. E então, literalmente três meses depois, eles falaram, “OK, foda-se, você está contratado”. Lembro nos meus primeiros dias no escritório e parecia que eu tava sonhando. E ainda quando penso naquela memória de estar sentado na minha mesa desenhando, fazendo sobreposições em papel translúcido, e apenas esboçando. Lembro da sensação de felicidade tipo “cara, estou criando algo do zero todos os dias”. Era uma sensação maravilhosa.

E honestamente naquela época eu não estava ganhando muito dinheiro, pois era o meu primeiro trabalho logo depois de ter terminado a faculdade (risos), mas eu estava tão feliz por fazer algo criativo e com calçados. Nesses anos na Vibram eu tive a oportunidade de crescer com a empresa. Em quase oito anos passei de designer, a gerente de produto, a gerente de design e desenvolvimento, até diretor de criação no final da minha carreira lá. A marca precisa ser realmente incrível para acompanhar a jornada de um funcionário com a rapidez com que ela cresce, e por isso sou muito agradecido pela minha experiência lá. Eu pude trabalhar em mais de 1.000 projetos diferentes, fizemos muitas coisas legais ao longo dos anos.

Lembro nos meus primeiros dias no escritório e parecia que eu tava sonhando. E ainda quando penso naquela memória de estar sentado na minha mesa desenhando, fazendo sobreposições em papel translúcido, e apenas esboçando. Lembro da sensação de felicidade tipo “cara, estou criando algo do zero todos os dias””

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Hoje em dia você gosta mais de ficar desenhando um novo produto, ou liderando um time de pessoas?

david Na verdade, eu amo os dois. Acho que minha carreira evoluiu para gerenciar pessoas, dirigir e fazer mais do que apenas design – e eu amo design, faz parte da minha essência. Mas se eu fosse apenas um designer durante as minhas 8 horas diárias, acho que eu ficaria entediado. Eu gosto de aprender, experimentar coisas novas, crescer; ou contar histórias através das redes sociais e gerar conteúdos, como vocês fazem. Eu amo por a mão em todos os diferentes aspectos do universo dos calçados.

E porque de todos os 1.000 projetos que já trabalhou, você escolheu falar do Reebok Zig Kinetica II Edge para a sua entrevista do Kickstory?

david Eu escolhi este em específico porque Marc Brosseau, que é incrível, me indicou para vocês dois, então eu sou super agradecido por isso. Na Complex Con de 2018 em Long Beach, em uma noite depois do show, eu e Marc estávamos sentados à beira da piscina, bebendo, trocando uma idéia com vários amigos nossos da indústria de calçados e ele disse: “David, temos que trabalhar juntos, vou fazer a Reebok usar a Vibram”. Na época, ele era apenas um designer e eu também não estava em um cargo muito alto. Foi apenas uma ideia de tentar trabalhar junto com os amigos, e a Reebok nunca tinha feito uma sola exclusiva com a Vibram, eles só compraram os outros tipos que são fornecidos para várias marcas.

Ele conseguiu apresentar um briefing de design na Reebok e isso nos permitiu fazer a parceria com eles pela primeira vez, o que foi muito bonito poder quebrar barreiras assim. Isso mostrou o quão forte são as ideias e a criatividade do Marc. A gente sentou com a equipe da Reebok e Vibram, e juntos desenhamos e apresentamos os conceitos. Lembro que a gente tava junto no escritório em Boston, imprimimos o desenho técnico e estávamos juntos literalmente desenhando e colaborando com todos os pequenos detalhes que você fotografou para a entrevista. Fomos muito táticos sobre a sola, pensando qual era o posicionamento e que tipo de história estávamos contando.

E a Reebok foi ótima, eles nos deram total liberdade do tipo “vocês são os especialistas de solas, vocês projetam do zero”. Marc nos enviou um rascunho e disse: “Eu gosto desse movimento e sensação, mas vocês que vão vir com as ideias”. Então ele nos dando a liberdade de criar foi lindo e eu falo pra todo mundo: trabalhar com seus amigos é o melhor tipo de trabalho que você pode fazer. É por isso que no final do dia, esse é um tênis que existe por si só dentro da Reebok. Ele é muito diferente de qualquer outra coisa que eles já fizeram.

É por isso que existem tantas opiniões polarizadas quando você lê as matérias do Hypebeast e do Highsnobiety, porque as pessoas não sabem onde encaixar o tênis. Eles diziam “isso é mais ou menos assim… ou não, isso é tão único” e quando você tem várias opiniões sobre o mesmo projeto, pra mim isso indica que você ganhou. Isso mostra que você faz algo novo porque as pessoas não sabem com o que comparar. Eles querem dizer que é assim, mas eles realmente não sabem porque é tão fudido e diferente (risos).

“Quando você tem várias opiniões sobre o mesmo projeto, pra mim isso indica que você ganhou. Isso mostra que você fez algo novo porque as pessoas não sabem com o que comparar.”

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Esse tênis é incrivelmente diferente e cheio de detalhes, com certeza muito único comparado com o que tem por aí. Qual foi a mensagem por trás do design, e que história vocês queriam contar com o produto?

david Era sobre o Zig como uma franquia dentro da Reebok, mas o objetivo era elevar esse produto de lifestyle para um lado mais técnico, voltado à performance e trilhas. Eu acho que hoje muitas marcas fazem isso com storytelling, onde você não pode apenas vender um tipo de produto, ele precisa ser versátil e capaz de fazer muitas coisas para o consumidor.

Então, com o Zig Edge, o consumidor tem esse produto versátil no qual ele consegue andar pelas ruas de Boston ou Nova Iorque, mas também fazer uma trilha. Queríamos ter todos esses detalhes bem técnicos. Então tem uma versão dele com Gore-tex; obviamente existe a versão com a sola Vibram para durabilidade e tração. É por isso que temos a borracha envolvida no calcanhar e no bico do tênis para estabilidade; adicionamos todos esses detalhes meticulosamente.

Quando você começou a trabalhar com esse produto, você já tinha uma noção de era o Zig Kinetica II original?

david Marc mandou uns esboços iniciais do que ele tava pensando para o cabedal. Então, sim, tivemos uma boa noção de como seria…mas não era como a gente vê nas fotos hoje em dia. O processo de criação é sempre muito divertido porque, nos esboços iniciais, você pode ver a fundação, é como um edifício – as linhas do grid são a base dele. Mas no final você não vê a beleza e os detalhes que foram colocados no processo.

Conseguimos ver claramente a colaboração no produto entre você e o Marc. Ele fez o tênis e você a sola, mas tem algumas partes da sola que vão até o cabedal, é realmente um trabalho incrível.

david Marc e sua equipe foram incríveis porque eles queriam fazer parecer assim, intencional. Nem todas, mas algumas marcas apenas usam a Vibram pelo composto da borracha, do logotipo e a própria marca. Mas o que eu amei nessa colaboração foi que cada detalhe foi muito bem pensado e colaborativo. Marc me mandava algo e dizia “Ei, o que você acha dessa ideia?” e eu falava “sim, vamos fazer isso e adicionar esse ajuste”, então quando você vê todos os detalhes no produto final você sabe que foi muito bem elaborado. A forma como essa peça sobe para a ponta do tênis e se conecta com a costura em ziguezague, você consegue ver que tem uma intenção por trás.

Eu tive a oportunidade de trabalhar com uma nova startup aqui em Massachusetts chamada End State, que é uma empresa que faz a ponte entre ativos digitais e produtos físicos. Embora o projeto comece como uma NFT construída para o metaverso, sempre terá um componente físico atrelado a ela. Além disso, os tênis são produzidos inteiramente nos Estados Unidos – que é uma história muito importante para mim, que eu posso fazer parte e crescer junto – e eles ainda usam produtos Vibram, então eu não fui muito longe.”

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E agora você começou um novo trabalho na End State. Conta pra gente um pouco mais sobre a empresa e os seus desafios lá.

david O timing desta entrevista é interessante porque, literalmente, há duas semanas eu não trabalho mais na Vibram, mas eu escolhi um produto Vibram porque eu tenho muito carinho por eles. Eu tive a oportunidade de trabalhar com uma nova startup aqui em Massachusetts chamada End State, que é uma empresa que faz a ponte entre ativos digitais e produtos físicos. Embora o projeto comece como uma NFT construída para o metaverso, sempre terá um componente físico atrelado a ela. Além disso, os tênis são produzidos inteiramente nos Estados Unidos – que é uma história muito importante para mim, que eu posso fazer parte e crescer junto – e eles ainda usam produtos Vibram, então eu não fui muito longe.

Eu realmente amo os dois co-fundadores, Stephanie e Bennett, acho que eles são rockstars. Se eu puder fazer parte da história deles, na construção de uma marca do zero, esse é um legado que eu gostaria de deixar. Sabe, ter a oportunidade de entrar na marca como o 5º funcionário – pensa no potencial de crescer uma marca do tamanho da Nike e ser o 5º funcionário, quantas vezes na sua vida você tem essa oportunidade? Eu amo a Vibram, foi uma época interessante. Eu amo o produto, a marca e as pessoas lá, mas para a minha carreira, meu crescimento e para fazer parte dessa história, eu pensei “eu sinto que é a certa decisão.”

Meu maior medo na vida é me tornar obsoleto ou irrelevante. Então marcas que não se adaptam aos novos tempos realmente me assustam, e eu quero sempre estar à frente em termos de aprender coisas novas, me adaptar e entender para onde tá indo a atenção das pessoas. Quando vejo o pessoal falando sobre o Metaverso, NFTs, o quanto isso é assustador e eles não sabem do que se trata; e aí você vê que tem muito dinheiro envolvido, muita confusão e, obviamente, muitas opiniões diferentes – eu amo e quero estar no começo disso tudo. Então, quando tem a oportunidade de combinar a minha paixão por calçados, com ser o líder ou colaborador nesse universo, isso é super empolgante. Mesmo que não exista mais NFT em alguns anos e ninguém se importe com eles, pelo menos eu tentei algo novo. Eu acho que isso é muito importante, não apenas para os criativos, mas todo mundo deveria se arriscar e aprender algo novo.

Então, quando tem a oportunidade de combinar a minha paixão por calçados, com ser o líder ou colaborador nesse universo, isso é super empolgante. Mesmo que não exista mais NFT em alguns anos e ninguém se importe com eles, pelo menos eu tentei algo novo. Eu acho que isso é muito importante, não apenas para os criativos, mas todo mundo deveria se arriscar e aprender algo novo.”

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O processo de fabricação de um tênis pode demorar meses. Como vocês na End State conseguem fazer o produto físico e ao mesmo tempo lidar com a expectativa do consumidor?

david Estamos aqui, sentados, no meio de abril e no final deste mês, a End State completará um ano. Eles desenvolveram toda a marca, infraestrutura do produto, o design, desenvolvimento, os tênis físicos e, literalmente, eles não tinham o design do tênis até o final de setembro do ano passado. Entre seis a nove meses, eles fizeram e fabricaram os tênis. Somos capazes de nos mover em um ritmo tão rápido que as outras marcas maiores não são capazes de fazer. E isso também é muito legal porque eu posso agir o mais rápido possível para garantir que vamos atender às necessidades das pessoas naquele momento e não vamos perder tempo. Então, sim, o NFT será lançado primeiro, mas depois de dois a quatro meses, vamos dar nas mãos dos clientes um tênis.

Você também tem esse projeto incrível, o An Untold Narrative, onde você entrevista pessoas criativas. Qual foi a ideia ao criar essa plataforma?

david O objetivo era compartilhar as histórias desconhecidas de pessoas criativas. Então, as pessoas que não têm milhares de seguidores, ou que não tenham o perfil do Instagram verificado, ou talvez sejam introvertidas e não tenham uma grande presença social porque isso as deixam desconfortáveis, mas são criativos incríveis. E ao longo da minha carreira eu tive muita sorte de conhecer muitas pessoas, então eu tinha esse acúmulo de amigos incríveis, familiares e colegas da indústria que eu só queria começar a contar as histórias deles. Meu primeiro episódio foi lançado em abril de 2020, logo no início da pandemia. Eu entrevistei um cara que tinha acabado de se formar na faculdade, o Shane Leonard, e ele era um jogador de futebol do Boston College. Ele é formado em marketing, mas acabou virando um pintor de belas artes e agora ele é pintor em tempo integral. Tipo, que história incrível! Ele foi meu primeiro. O episódio é meio cru, eu não sabia o que tava fazendo naquela época. Mas desde então, eu entrevistei pintores, fotógrafos, cinegrafistas, obviamente designers de calçados, diretores de arte e de tudo. É sobre dar para alguém que está fazendo coisas muito legais a chance de compartilhar a sua história.

O projeto é muito importante para mim e também, vamos ser honestos, é meio egoísta, eu aprendo algo novo com cada um dos meus convidados e eles me deixam sempre antenados. É tipo o que o Kickstory faz, tenho certeza que vocês aprendem com os seus entrevistados. É por isso que eu adoro conversar com novas pessoas, e até entrevistei pessoas que eu nunca conheci ao vivo, e essa é a parte divertida.

Você também faz essas pinturas a óleo extremamente realistas com a temática de tênis. Qual pintura você está trabalhando no momento?

david É então, eu comecei com tinta acrílica e agora faço principalmente óleo. Agora tô trabalhando em uma peça com tinta acrílica da nova colaboração da HOKA com a Bodega que saiu. Um salve pro Drew White, que trabalha na Bodega, ele me presenteou com um par então eu quis fazer essa linda pintura. Acho que não vou vender nem nada. Talvez eu vou dar pra eles. Eu acho muito divertido, você me dá um tênis e eu te dou uma pintura (risos).

Eu não acho que seria tão criativo fazer tênis se eu não tivesse outras atividades criativas. E as pessoas que fazem uma coisa o tempo todo, eu me cansaria muito rápido. Eles não são tão criativos. Eles desenham repetidamente a mesma merda. Eu quero ter certeza de que eu tô sempre atualizado (risos). Eu pinto como um hobbie e às vezes pego umas encomendas. A galera me pergunta, “você nunca vai se dedicar à arte em tempo integral?” Provavelmente não, porque acho que isso vai tirar minha criatividade e meu amor por ela. Eu pago aluguel do estúdio todos os meses mas eu não vendo uma pintura todo mês… Provavelmente eu perco dinheiro com minha arte (risos).

Tem algum recado que você gostaria de deixar para os criativos que estão lendo essa entrevista?

david Descubra o que te deixa super animado o suficiente para acordar todos os dias. Porque eu sou muito sortudo e abençoado por estar nesta entrevista, e estou feliz por ter encontrado o que me faz acordar de manhã e que me deixa muito animado para fazer o que eu gosto de fazer. E infelizmente imagino que muitas pessoas ao redor do mundo não fazem isso. E sabe, com a internet, temos a oportunidade de descobrir o que é isso, porque é acesso gratuito. Você não tem desculpas porque você pode pesquisar algo no Google, você pode fazer um vídeo de si mesmo e se tornar viral, você pode ir para a “Universidade do YouTube”, tem tantas opções. Eu só diria pra galera tentar descobrir o que elas realmente gostam de fazer e se elas ainda não descobriram, elas tem que tentar mais (risos).

Reebok Zig Kinetica II Edge
Dono: David Filar
Ano: 2021
Fotos: Kickstory

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