João Guedes João G.

João Guedes

Diadora X LimitedEdition<br />
N.9000 'Castellers' Diadora X LimitedEdition
N.9000 'Castellers'
28—03—2024 Fotos: KickstoryColor Grade: Julio Nery
João Guedes
Entrevista Nº 196

Continuando as entrevistas que fizemos em Portugal, entrevistamos o João no Porto, um fotógrafo e designer freelancer, que conseguiu unir suas três paixões – fotografia, design e tênis – em sua carreira. Ele trabalhou por seis anos na Xtreme, uma das maiores lojas de streetwear e sneakers de Portugal, onde atuou como diretor de arte e criativo.

Ele falou com a gente sobre a dinâmica atual do mercado de tênis em Portugal e a importância da comunidade local para as marcas, e como a cultura de tênis em Portugal contrasta com a de outros países europeus.

A paixão de João por tênis começou quando ainda era pequeno, e hoje ele é um dos maiores colecionadores de Diadora em seu país. Para sua entrevista do Kickstory, João escolheu falar de um dos seus tênis preferidos e um dos mais difíceis de conseguir, o tênis que é quase considerado um mito  – o Diadora X LimitedEdition N.9000 ‘Castellers’, uma obra de arte, que homenageia a tradicional festa dos Castellers Barcelona.

“Sou João, fotógrafo e designer freelancer, mas trabalhei durante seis anos numa das lojas que deve ser, se não é, uma das maiores de Portugal de streetwear e sneakers: a Xtreme. Originalmente a loja é de Aveiro, mas tem várias unidades em todo o país. Comecei trabalhando lá como designer e fotógrafo, mas rapidamente a marca começou a crescer e então formei uma equipe para trabalhar comigo. Toda a parte criativa passava por mim, eu era diretor de arte e criativo, ou seja, responsável por toda a comunicação da loja. Continuo trabalhando com eles, mas agora como freelancer.”

Como surgiu o seu interesse pelo mundo criativo, especialmente por fotografia e design, considerando que você trabalha tanto em campanhas publicitárias quanto na produção de imagens para lojas?

joão Meu tio é pintor e então, desde muito pequeno eu gostava de arte e fotografia, muito por causa dele. Queria ser arquiteto, mas quando descobri o design, não quis outra coisa. Me formei aqui em Porto, como designer. A fotografia sempre foi uma paixão também. Lembro de ficar mexendo e brincando com as máquinas antigas que o meu pai tinha. Na faculdade, tive muito contato com a área, então a paixão foi se desenvolvendo, amadurecendo, e eu fui melhorando. Felizmente, com a Xtreme, consegui juntar as três áreas que eu amo – fotografia, design e tênis, que para mim era perfeito. Trabalhei lá por seis anos.

Enquanto a gente visitava algumas lojas de boutiques de tênis aqui em Portugal, nós reparamos uma tendência onde marcas como a Nike e Jordan não são encontradas nessas lojas, sendo disponíveis em lojas de resell ou em. Como você enxerga essa dinâmica no mercado de tênis?

joão Alguns anos atrás, a Nike decidiu que não fazia sentido ter certos produtos em Portugal. E como eles consideram Portugal a Península Ibérica, vai tudo para a Espanha. Se você quer comprar Nike aqui em Portugal, você só acha na em lojas internacionais, tipo Footlocker. 

Acho uma pena a Nike ter saído de Portugal porque eu acredito que nós tínhamos, apesar de ser um país pequeno, alguma expressão para poder ter pelo menos uma loja de referência com esse tipo de produtos. Como já tivemos, com a Sneaker Delight.

A Nike decidiu vender diretamente ao consumidor através do site e app, e perceberam que não fazia tanto sentido manter os produtos nessas lojas. O que eu discordo muito porque as marcas crescem e ganham mais visibilidade, quando existem localmente, com a comunidade do tênis apoiando. E nesse sentido, acho que em Portugal a Nike não tem mais essa comunidade, porque você só acha os produtos nas nas lojas de resale, e não é a mesma coisa. 

Por exemplo, a B.A.E tem uma coleção de New Balance incrível. Lá tem uma comunidade consolidada e sabemos onde comprar esses tipos de pares que procuramos de New Balance. Ou seja, vamos lá não só para comprar, mas também porque gostamos de estar lá. Eu faço um paralelo com as lojas de vinis que também gosto muito, em que eu vou lá e nem é só para comprar, a compra é quase uma consequência. Eu vou lá para ficar, para aprender, conhecer e conversar. 

Se perdeu muito nas lojas de tênis porque primeiro deixamos de ter produtos desse gênero. Por exemplo, eu lembro de ter aqui na Wrong Weather os lançamentos de Yeezy, não foi camping, mas foi quase, juntou muita gente. Se criaram amizades, uma comunidade real, e eu acho que isso é que alimenta esse mundo dos sneakers. Se deixar de existir a comunidade, deixa de ter uma razão, como sempre falo “deixa de ter sumo” – esprememos e não sai nada. Fica muito superficial.

Se perdeu muito nas lojas de tênis porque primeiro deixamos de ter produtos desse gênero. Por exemplo, eu lembro de ter aqui na Wrong Weather os lançamentos de Yeezy, não foi camping, mas foi quase, juntou muita gente. Se criaram amizades, uma comunidade real, e eu acho que isso é que alimenta esse mundo dos sneakers.”

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Para você, que já vive a cultura do tênis há algum tempo, é possível enxergar diferenças e semelhanças entre essa cultura no seu país e nos países europeus vizinhos?

joão Felizmente já tive a oportunidade de viajar para muitos lugares e, obviamente, quando viajo, vou sempre às lojas icônicas de tênis – seja em Nova Iorque, Tóquio, Barcelona, ou Berlim, onde quer que seja, gosto sempre de visitar. E o que eu acho é que a cultura sneaker caiu em Portugal muito por causa do reselling hoje em dia. Os OGs não são mais tão presentes e o pessoal mais novo veio muito atrás do hype. Como falei, ficou uma coisa muito superficial.

Comparando com os países europeus, é onde se nota mais essa diferença. Porque, lá o hype continua, mas é mais que isso. As marcas apostam em modelos diferentes, o público aposta em marcas diferentes, emergentes e aqui acabamos sempre indo pelo seguro, indo nas marcas que sabemos que o consumidor vai querer e não arriscamos muito. E sinceramente, acho que temos margem para arriscar. 

Além disso, acho que lá fora, esta cultura dos sneakers é mais madura, sabe? As pessoas olham para aquilo não de uma forma tão superficial, mas de uma forma mais pelo conteúdo. Quando você vai em uma loja lá fora, qualquer loja, o vendedor sabe o que tá falando, ele está dentro da comunidade e obviamente que esse conhecimento agrega muito valor. Em Portugal são poucas as lojas que têm pessoas assim. Acho que a diferença está aí.

Quando começou sua paixão por tênis? Tem alguma marca mais importante para você?

joão Quando era pequeno, minha avó que comprava meus tênis. Lembro de ficar super animado quando ela me deu um Nike Shox R4, que foi tipo uma recompensa por eu ter tirado boas notas – era assim que eu conseguia os tênis legais (risos). E então sempre gostei muito de ter tênis diferentes, via os meus amigos com vários tênis parecidos e eu gostava sempre de ter aquele par diferente, e isso durou até hoje. Aliás, uma das marcas que mais tenho é a Diadora, que já não é uma marca comum. Normalmente as pessoas têm Nike, adidas, os Yeezys, Jordans e agora muito New Balance, mas a Diadora é bem underdog.

Eu gosto muito da Diadora. Primeiro, porque eles ainda fazem questão de produzir o tênis com um toque mais artesanal, manual, com muito craftsmanship, com materiais de altíssima qualidade. Hoje em dia é raro ver isso porque as marcas querem produzir em massa, querem volume, e isso é uma coisa que gosto muito na Diadora, que eles vão à contramão de tudo isso.

Além disso, grande parte dos pares que eu tenho são colaborações com lojas europeias que contam histórias, e eu considero que a Diadora mais do que o hype, consegue contar muito bem histórias e isso é que me encanta muito na marca. Infelizmente hoje em dia, não estar lançando grandes histórias como fez há alguns anos atrás, mas acho que era ali que ela se diferenciava. E acho incrível.

Eu não consigo andar de sapatos. Eu vou a casamentos, vou de tênis. Reuniões, vou de tênis. Como sou designer e sempre fui muito ligado às artes, acho super interessante o design do próprio tênis, o objeto em si. Fico analisando a escolha de materiais, a silhueta e as diferentes características que elas possam ter. Acho isso super fascinante e por isso é que às vezes eu olho para os tênis e penso “talvez não vou usar isto”, mas com peça de design são super interessantes, disruptivas, então eu compro porque gosto.

Você falou sobre gostar muito da Diadora. Quantas tênis você tem na sua coleção? Quais colaborações você considera mais significativas?

joão De Diadora tenho mais ou menos 36 pares. Talvez eu seja o maior colecionador da marca aqui em Portugal. Todas as que eu tenho são colaborações.  Tenho colaborações com várias marcas, com a Hanon, tenho o com a A Few, tenho com a Keith, tenho com a Slam Jam, tenho várias com a Packer, tenho com a Bait, tenho com a Colette também. Tem algumas que eu quero que ainda não consegui – como a collab com a Ma Maniere,  e também quero outras com a A Few também. Mas é tudo colaboração. É tudo edições limitadas, poucas unidades. Eu tenho uma, mas comprei no dia do meu aniversário, há uns anos atrás, que é uma colaboração com a Hanon, que só tem 100 pares no mundo.

E porque de todos os seus Diadoras, você escolheu contar a história do seu Diadora X LimitedEdition N.9000 'Castellers' para o Kickstory?

joão Esse tênis é incrível, o suede é muito macio, o couro também é incrível. E, bom, gosto é muito subjetivo, mas a combinação de cores também é uma coisa que adoro e foi inspirado pela festa dos Castellers, uma festa muito tradicional de Barcelona, onde os participantes (Castellers) sobem uns em cima dos outros para formar estas enormes torres humanas. Aqui no tênis você consegue ver bem as cores das roupas tradicionais da festa, os materiais, e a estampa do lenço que eles usam amarrados no pulso. Nas colaborações, a Diadora faz muito esses detalhes no calcanhar, normalmente é um bordado, e nesse tênis ele tem bordado dois pequenos Castellers. Eu acho fascinante. O tênis veio com várias coisas, veio com cordões extra, com tipo um chaveiro e também, umas dust bags. Mas sim, este é o meu par. Desde que os comprei usei duas vezes só.

A história faz com que seja além de “só um tênis”. Esse par é super limitado também. Este foi o único par que comprei em resell, justamente porque é o meu grail, o meu favorito. Foi um par em que eu procurei por três anos. Dois amigos meus tinham e quando os vi pela primeira vez, fiquei fascinado. E então comecei a procura. Meu amigo só conseguiu comprar porque ele era cliente da loja e conseguiu ter acesso, mas quem não era cliente, quem não tinha relação com o dono da loja não conseguia comprar. E então esse drop acabou virando quase um mito por aqui, pela dificuldade de acesso ao par. Esse e a outra collab, a “Correfocs” são dos dois pares que têm mais valor de resale dentro da Diadora, precisamente por causa disso, por causa de toda a história por trás do par.

Aqui no tênis você consegue ver bem as cores das roupas tradicionais da festa, os materiais, e a estampa do lenço que eles usam amarrados no pulso. Nas colaborações, a Diadora faz muito esses detalhes no calcanhar, normalmente é um bordado, e nesse tênis ele tem bordado dois pequenos Castellers. Eu acho fascinante.”

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Qual foi a sua inspiração por trás do modelo Mind Blower, na collab com a Fila x Sneaker Delight? Como foi o seu processo criativo?

joão Quando eu estava trabalhando na loja Sneakers Delight, nós fizemos uma colaboração com a Fila, com o modelo Mind Blower. Vendeu em várias lojas pela Europa, mas foi bem limitado. Eu que desenhei e tenho um par lá em casa. Foi inspirado pela Ponte D. Luís I. A ponte centenária, que faz a ligação entre o Porto e Vila Nova de Gaia. Tenho um orgulho enorme de poder fazer isso junto da Fila. O pessoal não liga muito para a Fila, mas eu tenho um carinho enorme porque fui eu que escolhi os materiais, que escolhi as cores, os detalhes, fui eu que escolhi a in-sole. Foi incrível.

Pra terminar: Qual conselho você pode dar para quem quer seguir uma carreira profissional, que envolva as suas três paixões – design, fotografia ou tênis – da mesma forma que você fez?

joão O que posso dar de conselho é: ser curioso. Sou super curioso. Quando eu olhava os tênis, eu gostava de saber mais sobre eles. Qual era a história atrás deles? Quais eram os materiais? De onde vinham? Quem é que desenhou? Por exemplo, a série-documentário Abstract com o Tinker Hatfield, é um bom jeito de entender esse universo.

A parte da história em si, me interessa demais. Eu acho que se você for curioso e gostar de conhecer, isso vai te diferenciar. Olhe para os tênis de uma maneira diferente. E esse meu conhecimento e paixão, consigo refletir na fotografia, nas campanhas, e etc. Como é que eu concílio isto tudo? De ser curioso não só nos tênis, mas de ser curioso em tudo. E gostar de aprender tendências, aprender técnicas, aprender mais e não ter medo de errar. Explorar, não ter medo de errar. Eu costumo dizer que eu erro muito. Muitas vezes as pessoas só veem aquilo que está certo. Mas antes daquilo que está certo, há muitas coisas que estavam erradas antes, pra chegar até o resultado. E isso faz parte do processo, é super importante. Errar faz a gente ganhar maturidade.

Diadora X LimitEdition N.9000 ‘Castellers’
Dono: João Guedes
Fotos: Kickstory
Color Grade: Julio Nery
Ano: 2023

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