bob Eu não sou skatista, não sei andar de skate, mas tudo que envolve a subcultura do skate é algo que sempre me chamou a atenção, seja na parte estética, na comportamental, na música. E a Vans, por ser uma marca que apoiou o skate desde os seus primórdios, foi uma das marcas que sempre me chamaram a atenção ali na adolescência. Eu vi ela calçando as bandas que eu gostava de assistir, nos finais dos anos 90, início dos anos 2000. 

Eu gostava muito de frequentar uma casa de shows punks aqui em São Paulo, o Hangar 110, e o Vans era praticamente o tênis que todas as bandas e todas as pessoas que estavam lá, usavam. O que mais me chamava a atenção era o side stripe no painel lateral. Eu queria me vestir e me comportar como aquelas pessoas. Eu era jovem, tava formando a minha personalidade.

Se você reparar, os clássicos são calçados básicos de lona e borracha, só. Eu gostava dessa estética, e da simplicidade conectada com a rebeldia. Foi algo que me chamou a atenção como adolescente, e que agora chama a atenção de adolescentes com novos rebeldes trazendo influência.

bob Eu gosto muito dos clássicos da marca. São cinco clássicos, mas dentre os cinco clássicos, o meu predileto é o Vans Era. Ele é uma espécie de modernização do Vans Authentic, que é o primeiro calçado da história da Vans. No final dos anos 70 os skatistas tornam o calçado Vans como o predileto para andar. O Vans Authentic era um tênis durável, que tinha boa aderência para a prática do skate. Naquela época o skate não tinha lixa, então eles precisavam de algo que desse aderência.

O Vans Era se torna o primeiro tênis de skate feito por skatistas na história. Tony Alva e Stacy Peralta se conectaram à família Van Doren ali em meados dos anos 70. Eles gostavam muito de usar o Vans Authentic, mas precisavam de algo que era uma progressão daquele calçado. Eles pediram algo que era um pouco mais confortável. Se você reparar o Authentic é mais sequinho e o Era é mais acolchoado. A Vans adicionou aqui no colar um acolchoado, o contraforte do Authentic, que é a parte do calcanhar, é feito em duas peças; já no Era, é uma peça só, tendo assim menos rachaduras. Aqui na parte do calcanhar ficou mais protegido também, e o tecido no cabedal é mais resistente. 

Pela primeira vez uma marca foi escutar os skatistas, que eram subjugados ali na época, eram vistos como marginais. A Vans entendeu que eram adolescentes afoitos em busca de diversão, e criou o primeiro tênis de skate da história feito por e para skatistas. Por isso que esse é o meu clássico predileto.

bob Essa daqui é a colorway original do Vans Era. Todo mundo conhece a colorway original do Jordan One, do Air Max 90, mas quase ninguém conhece a colorway original dos Vans. Essa foi a primeira colorway vendida para o consumidor. Ela era denominada como Two Tone (dois tons), Red Navy (vermelho e azul). Mas na foto publicitária da divulgação, em que o Stacy Peralta está praticando uma manobra, na verdade, o tênis está com três tons – vermelho, azul marinho e amarelo. Essa é a cor que não foi à venda ao público.

Quando a Vans fez 50 anos em 2016, ela resgatou essa história. Uma história de imperfeição porque esse foi o que foi para a foto (Vans Era Pro 50th ’76 Multi), não é o tênis entregue para o público. Mas é uma história super legal que me intriga. E que bom que nos 50 anos eles puderam resgatar e trazer finalmente para o público consumidor o tênis que estava na foto.

Daqui a pouco a Vans completa 60 anos de história e várias surpresas vêm por aí. Muitas histórias legais como essa, resgatadas.

bob Vou começar contando sobre a origem da marca. A Vans não nasce do skate, e sim de calçados para esportes náuticos. A marca é californiana, e trouxe a paixão do californiano pelo mar e por esse estilo de vida náutica. O tênis tinha uma ótima aderência, o que o tornava ideal para não escorregar nos decks molhados dos barcos. Só que além de ser boa para isso, ela tinha boa aderência em qualquer tipo de terreno ou de situação – e os skatistas da época se ligaram nisso. Então, a Vans, não nasce do skate, mas é abraçada pelos skatistas.

Antigamente os tênis da Vans não tinham nome comercial, eram números. O primeiro calçado da Vans é o Authentic, conhecido originalmente como Style 44, ele era um deck shoe, e aí passam a utilizar o Authentic como o tênis predileto para a prática do skate. Do Authentic a gente tem a evolução para o Vans Era, como falei anteriormente, junto com o Tony Alva e Stacy Peralta.

Nosso terceiro clássico é conhecido originalmente como Style 36, e é o grande best seller da marca que a gente conhece como Old Skool. Nem o Authentic, nem o Era carregavam um grande ícone identificador no tênis. Então Paul Van Doren, criador da Vans, falou “preciso trazer algo que chame atenção, que o consumidor saiba que aquele calçado é um Vans”. A Nike em 1977 já tinha o Swoosh, a adidas já tinha as Stripes. Como apaixonado por automobilismo, através de um desenho de um escapamento de um carro, ele cria a Side Stripe. Eles aplicam no painel lateral dos nossos calçados, e assim nasce o Old Skool.

O quarto clássico é o Vans Slip-On, que é o tênis mais prático da marca. Sem cadarços, é um calçado que abraça diferentes tipos de público. Na época, no final dos anos 70, outras marcas já produziam esse tipo de calçado sem cadarços, mas a Vans trouxe um diferencial para o público consumidor que é a aplicação desses elásticos na lateral, que dava um calçar e um descalçar mais prático.

E o último, mas não menos importante, o Style 38, conhecido hoje como Sk8-Hi. A Vans foi novamente escutar as demandas dos skatistas. Na época, o skate era praticado dentro de piscinas vazias, e os skatistas acabavam machucando muito o tornozelo. O Sk8-Hi vem com  um cano alto para proteger o tornozelo nesses impactos nas manobras. 

bob Eu vou contar um pouquinho do famoso checkerboard do Vans Slip-On. Essa não é a colorway original, mas é a colorway que se torna mais consagrada. A Vans vendia os calçados em cores sólidas e ela percebeu que os skatistas, os artistas, os músicos, gostavam deles mesmos customizar os calçados, e alguns deles desenhavam esse padrão quadriculado. Através de uma observação do público consumidor, a Vans passa fabricar o tênis com esse padrão xadrez, e ele se torna o mais icônico.

Outra história bem legal, é que o Slip-On checkerboard se tornou muito popular no mundo através de um filme chamado Fast Times at Ridgemont High. É um filme de 1982 estrelado por Sean Penn, onde ele interpreta um jovem, surfista, super rebelde e mal-educado. E ele calça esse tênis. Como a gente sabe, rebeldia vende para o público jovem, né? Os jovens acabam se inspirando em ícones subversivos e maldosos. Então esse tênis se tornou um sucesso no mundo graças a esse filme. 

Os cinco clássicos da Vans, desde que foram introduzidos no mercado, o primeiro a partir de 1966, os outros a partir dos anos 70, nunca pararam de ser produzidos. De temporada atrás de temporada, geração atrás de geração, a Vans tenta se reconectar com um novo público consumidor, conversar com o jovem. Agora o nosso foco é a geração Z.

A Vans se conecta basicamente através de alguns pilares: esporte de ação, com o skate, BMX, surf, o snowboarding; através da música, a marca está sempre atenta nas novas gerações de músicos, principalmente nas subculturas do punk e hip-hop. A Vans também se conecta através da arte, da expressão criativa. Ela tem um grande lema que é incentivar a expressão criativa, fazer com que o consumidor se sinta bem, sinta autêntico, monte a sua estética visual e consiga transparecer a sua personalidade dentro da sua estética visual.

Por ser tão autêntica, por ser uma marca com valores tão bacanas, os clássicos em si, acabam se tornando atemporais. As gerações passam, a moda muda, as coisas mudam, os tênis ficam mais sequinhos, os tênis ficam mais gordinhos; cano alto, cano baixo, mas os cinco clássicos se mantêm ali. No meu ver é totalmente devido a essa originalidade e autenticidade.