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Kaiju, Moonraker and Tabi Kaiju, Moonraker and Tabi
15—06—2023 Fotos: Kickstory
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Entrevista Nº 189

Em 2022, fizemos nossa última entrevista em Los Angeles com os fundadores da Brandblack, uma marca independente que se destaca pela sua qualidade, por trazer constantemente inovações e testar novas tecnologias em seus produtos, sem comprometer sua funcionalidade. David e Billy, cansados das restrições e limitações de trabalhar para grandes empresas de calçados, uniram forças para criar sua própria marca – a Brandblack, que leva no seu DNA fundir moda e alta performance.

Com um forte background no basquete e quase uma década de existência, a Brandblack já desenvolveu os tênis de assinatura de Jamal Crawford (ex-jogador da NBA), esteve por trás dos tênis assinados pelos irmãos Ball pela Big Baller Brand, além de colaborações com grandes nomes, como Saleheen Bembury. David e Billy estão constantemente na busca de criar produtos que acreditam e da maneira que sempre quiseram, trazendo tênis verdadeiramente únicos, de altíssima qualidade e altamente funcionais, que vão do casual, a corrida para o basquete.

Ter a oportunidade de conhecer pessoalmente o David, Billy e a Brandblack foi realmente a realização de um sonho, e dedicamos toda a o nosso cuidado e atenção para esta entrevista. Então, não deixem de ler essa entrevista repleta de aprendizados valiosos sobre design, desenvolvimento de tênis e a história fascinante dessa marca tão interessante. Agradecimento especial para o David Filar por fazer a ponte com o Billy e o David.

Billy Eu sou o Billy Dill, cofundador e diretor criativo da Brandblack. Trabalho com design e marketing de calçados há mais de 15 anos. Minha formação é em design, mas principalmente em vestuário. Já trabalhei para várias marcas diferentes, de moda à marcas esportivas. Eu conheci o David por conta de um projeto que girava em torno do skate e foi assim que nós dois nos conectamos e, a partir dessa conexão, nossa amizade cresceu. O David surgiu com o conceito da marca e fundou a Brandblack, e aí ele me chamou para reunir forças. E hoje estamos aqui.

David Eu sou o David Raysse, cofundador e CEO da Brandblack. Comecei no mercado de calçados há quase 30 anos atrás como estagiário trabalhando para a Fila, onde eu desenhava predominantemente tênis de basquete – como os tênis do Grant Hill e do Stackhouse. Depois disso fui para a adidas, onde trabalhamos com tênis para o Kobe, Jalen Rose, Antoine Walker, etc. Depois trabalhei para muitas outras marcas. Por um tempo deixei o mundo do calçado e trabalhei com Philippe Starck fazendo puro design industrial. Eu tava morando em Nova Iorque na época e comecei a trabalhar no projeto de skate que o Billy mencionou, e nós nos conectamos. Nós dois éramos designers neste projeto e acho que as nossas energias bateram. Nós fomos encarregados de iniciar uma divisão de performance para esta outra empresa e, a partir daí, fundamos a Brandblack em 2014. E aqui estamos agora, praticamente nove anos depois.

Billy Dill e David Raysse
Billy Dill e David Raysse

Como vocês dois chegaram no design – vocês já tinham algum background criativo?

David Os meus pais eram da moda – meu padrasto é francês e é fotógrafo de moda; e minha mãe era modelo, ela foi a primeira modelo afro-americana a aparecer na capa da Vogue. Eles estavam em Paris nos anos 70 e foi lá que ela conheceu meu pai. Eles foram os fundadores da Kenzo by Kenzo. Eles estavam bem inseridos no cenário da moda, e isso sempre fez parte da minha vida.

Eu joguei basquete na escola e na faculdade, e como eu curtia muito tênis, queria encontrar uma maneira de combinar meu amor por tênis com moda. Mesmo nos meus primeiros dias na Fila, eu tava sempre tentando forçar o lado fashion das coisas – hoje em dia tênis e moda são a mesma coisa, mas naquela época não era assim, era performance. Isso sempre foi o que nos motivava, então, quando fundamos a Brandblack, já que o Billy também tinha um forte histórico na moda, queríamos realmente ir além quando se tratava de fundir moda e performance.

“Eu joguei basquete na escola e na faculdade, e como eu curtia muito tênis, queria encontrar uma maneira de combinar meu amor por tênis com moda. Mesmo nos meus primeiros dias na Fila, eu tava sempre tentando forçar o lado fashion das coisas – hoje em dia tênis e moda são a mesma coisa, mas naquela época não era assim, era performance. Isso sempre foi o que nos motivava, então, quando fundamos a Brandblack, já que o Billy também tinha um forte histórico na moda, queríamos realmente ir além quando se tratava de fundir moda e performance.”

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Brandblack Moonraker
Brandblack Moonraker

Quando você sentiu aquela conexão com um tênis pela primeira vez e o que essa conexão significou para você?

David Para mim foi com o Air Jordan II. Foi a primeira vez que identifiquei o que era design de uma forma que pudesse entender. Mesmo que, o II foi o Jordan que ninguém dava muita bola até esses últimos anos.

Eu tive que ir até esse lugar no Harlem espanhol, em Nova York, e era um lugar bem das antigas, onde embrulhavam os tênis no plástico e deixavam na parede. Essa foi a primeira vez que lembro de ver o Air Jordan II e pensar – eu nunca vi um tênis tão louco quanto esse. Eles tinham aqueles com cabedal branco, entressola preta e cadarços pretos. Na época eu jogava na escola, e a primeira vez que eu usei o tênis todo mundo ficou enlouquecido. Eu sinto que esse tênis, foi a primeira vez que alguém dentro da marca disse “vamos tentar algo completamente louco”.

Aí foi quando eu entendi: isso é design, você pode se expressar e fazer algo muito diferente com isso. Naquela época eu tinha uns 12 anos, e também foi quando eu comprei meu primeiro álbum de Hip Hop – o terceiro álbum do Run DMC. É interessante ver essas duas coisas acontecendo ao mesmo tempo, uma expressão de cultura e design.

Billy A primeira vez que eu realmente me senti conectado com uma marca foi com a Nike por volta de 1977. Eu tinha uns 8 anos e naquela época, o único lugar que você conseguia encontrar os tênis da Nike era em lojas especializadas de corrida, tipo, loja super técnicas, só para os nerds da corrida.

Essa conexão com a Nike veio porque eu jogava na liga infantil de baseball e as crianças mais velhas me zoavam por conta do meu tênis. Quando você é criança, seus pais que escolhem que tênis você vai usar, você usa o que sua mãe colocar no seu pé. Então foi a primeira vez que percebi que um tênis legal era status, eles representavam algo que era legal. Naquele dia, voltei para casa pensando “Preciso comprar aqueles Nikes”.

Mas a questão era, naquela época, tênis da Nike era difícil de encontrar e eles só tinham 2 ou 3 modelos à venda. Mas o que eu queria era meio no estilo do Waffle Racer em azul com o swoosh (símbolo da Nike) em amarelo. Quando meus pais finalmente conseguiram comprar um do meu tamanho, eles não eram exatamente como os que eu queria porque o swoosh era azul claro. Mas eu tava nem aí, eu só conseguia pensar “isso é tão legal, consegui os Nikes!” Eu fui para o treino no dia seguinte, eu tava tão orgulhoso e empolgado para mostrar para todo mundo os meus tênis novos. Mas todas as crianças mais velhas me zoaram de novo “você está usando tênis de menina!” Eu era tão pequeno que os únicos tênis que me serviam eram os femininos. Então essa foi minha introdução com tênis (risos).

Quando fiquei um pouco mais velho, comecei a gostar de Vans por causa do skate. Naquela época você podia criar o seu Vans com o próprio esquema de cores, e era assim que você se destacava, a gente queria ter os tênis legais com cores diferentes e interessantes. Eu também lembro dos “Shelltoes” – os adidas Superstars. A adidas era a marca naquela época, e a Stussy era meio que o selo dourado de aprovação na época, fazendo a ponte entre a cultura punk-rock, hip-hop e reggae, era o início do streetwear como a gente conhece hoje.

De repente, os tênis eram o que faziam o seu look funcionar. Você pode ter tudo – camisetas de surfe, ir a um brechó e encontrar uma jaqueta legal ou o que for, mas os tênis eram a âncora, e isso sempre ficou comigo. Durante toda a minha vida, e tenho 50 anos, tênis é a primeira coisa que penso e a última que eu tiro.

“De repente, os tênis eram o que faziam o seu look funcionar. Você pode ter tudo – camisetas de surfe, ir a um brechó e encontrar uma jaqueta legal ou o que for, mas os tênis eram a âncora, e isso sempre ficou comigo. Durante toda a minha vida, e tenho 50 anos, tênis é a primeira coisa que penso e a última que eu tiro.”

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Vocês trabalharam tantos anos na indústria da moda e de calçados. O que fez vocês decidirem sair de tudo isso e criar Brandblack?

David Foi só porque a gente tava cansado de todos os tênis legais que nunca chegavam ao mercado. Era tão irritante. Você acaba trabalhando com tantas pessoas que estão lá apenas para receber um salário. É uma empresa grande, mas eles só querem receber, almoçar, tirar férias e receber seus benefícios. E é isso.

Billy E acaba também sendo menos sobre o produto, né? Eu sinto que, especialmente do ponto de vista do design, você está realmente conectado ao produto, você fica animado com ele; você está lá, deitado na cama às três horas da manhã, você tem uma ideia, levanta correndo, faz um esboço e isso te deixa super animado. Quando você trabalha para uma empresa realmente grande – e isso pode ser qualquer uma, da Skechers à Nike, ou qualquer outra – no final do dia, eles estão vendendo produtos. É sobre: quantos podemos vender e quanto dinheiro isso vai gerar. Tem os caras do marketing, o financeiro e todo o resto, mas do ponto de vista do designer, tudo o que importa é fazer um produto realmente legal e interessante.

Então, quando você entra naquela reunião para mostrar seu novo produto super legal, e todo mundo diz “legal, mas isso vai custar muito caro. Vamos tirar isso. Ano passado a gente fez aquele tênis com aquele solado. Porque a gente não pega esse cabedal e coloca naquele solado?” E quando você vê, a sua ideia original deixou de existir faz tempo. E isso é realmente frustrante para o designer.

David Vou dizer algo ainda mais polêmico. Eu, não consigo pensar em um único design importante, produto, ou qualquer coisa que o mundo tenha se beneficiado que tenha nascido do marketing. O trabalho do marketing é vender. É isso que eles tem que fazer, vender o máximo que puderem para as pessoas, encontrar jeito de fazer as pessoas gostarem das coisas, ou dizer por que elas deveriam gostar dessas coisas, ou até convencê-las de que elas precisam dessas coisas.

Acho que se seu objetivo é apenas criar algo, quero dizer, se o produto é a coisa mais importante e você está tentando mudar o mundo ou o que seja, vai ser difícil fazer isso em um mundo onde você tem toneladas de caras do marketing, de finanças, porque eles complicam os processos criativos. E esse é o trabalho deles. Não é nada contra eles, esse é literalmente o trabalho deles e provavelmente é o que mantém as empresas vivas, eu entendo.

Já tínhamos trabalhado nessa dinâmica por muito tempo e estávamos cansados ​​de tudo isso. Eu não queria mais fazer isso. Se eu quiser, eu posso voltar agora, arranjar um bom emprego e ouvir um cara do marketing me dizer porque eu preciso colocar a porra de uns brilhilhos no meu tênis.

Billy E você ganharia muito mais dinheiro fazendo isso. E às nove horas, você voltaria para a sua casa, para sua família. Quando você tem sua própria empresa, sempre tem muita coisa acontecendo. No momento, os nossos celulares estão recebendo notificação sem parar. Assim que sairmos daqui, vamos voltar para o inferno dos e-mails. Tem muita coisa para fazer o tempo todo.

David E não é só diversão, mas é complicado. É sobre – o que você está tentando fazer? Você quer apenas estar na cultura e fazer parte dela? Isso é bom o bastante pra você? Ou você quer realmente dizer alguma coisa, ou mudar alguma coisa? Acho que depende de cada pessoa, o que você realmente quer com isso? Então, para nós, queríamos mais, queríamos fazer mais, dizer mais e não dava para fazer isso de dentro das “máquinas” das empresas que fazíamos parte.

E não é só diversão, mas é complicado. É sobre – o que você está tentando fazer? Você quer apenas estar na cultura e fazer parte dela? Isso é bom o bastante pra você? Ou você quer realmente dizer alguma coisa, ou mudar alguma coisa? Acho que depende de cada pessoa, o que você realmente quer com isso? Então, para nós, queríamos mais, queríamos fazer mais, dizer mais e não dava para fazer isso de dentro das “máquinas” das empresas que fazíamos parte.”

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E qual era a ideia por trás da marca, o que vocês queriam trazer para o mercado que não estavam vendo por aí?

Billy O David que começou a empresa, ele é o fundador, e eu entrei logo depois. O histórico dele, da família dele, ele foi um grande jogador de basquete e jogou em alto nível durante a faculdade, eu tenho certeza que ele ainda é muito bom (risos). Mas ele cresceu cercado pela alta moda, a alta moda de Paris. Então era óbvio que essas duas ideias que estavam enraizadas no seu dia a dia, acabariam aparecendo.

Quando eu cheguei, essa era a ideia inicial. Ele me apresentou a marca inicialmente como moda e basquete, especificamente porque sua formação em design é no design de tênis de basquete. Mas quando começamos a falar sobre isso, ficou muito claro que, embora ainda não fosse muito falado no mundo ainda, era definitivamente uma combinação de performance esportiva e moda, especialmente para homens.

E você realmente não via isso na época, mesmo o Kanye, que foi um ótimo jeito dessas duas ideias se unirem instantaneamente. E todo mundo entendeu.

David Mesmo que você não veja ninguém jogando basquete de Yeezy. Você não vê corredores correndo em Yeezys. Ainda é um item fashion, que por acaso tem as tecnologias de um tênis de performance, mas não é necessariamente funcional. A Y-3 deveria ser isso. Mas ninguém está correndo em Y-3 também.

E até mesmo os Jordans naquela época eram significativamente mais caros do que qualquer outro tênis, e provavelmente foi assim que eles chegaram no espaço da moda – porque ter um Jordan era status. Hoje em dia, poucas pessoas realmente jogam basquete de Jordan. Agora pega a Ferrari por exemplo: é uma marca que faz carros esportivos condicionados para correr na pista. E eles até fazem umas versões limitadas que são ainda mais nervosas. Você compra uma Ferrari sabendo que ela vai ter um desempenho de alto nível na pista, mas a maioria das pessoas nunca vão levar um carro desse para uma pista, mas ele vai performar na pista. E essa é a parte importante, e essa é a essência da Brandblack. Enquanto isso tem algumas marcas que fazem produtos que você não conseguiria usar para praticar o esporte no qual ele foi designado. Temos alguns tênis como o Moonraker que é pura moda e estilo, mas se rotularmos um tênis como de performance, eles são 100% feitos e projetados para isso.

Billy E há um valor de performance e inovação em tudo o que fazemos, por exemplo: Essa é a nossa versão de um tênis vulcanizado, mas o mundo não precisa de outro Chuck Taylor ou de um Vans, a gente queria ter um tênis que se encaixasse nessa zona mas que fosse da nossa marca porque eu gosto de um simples tênis vulcanizado. A gente sempre brincou com a ideia de fazer um tênis desse estilo, mas parecia que nunca era a hora e o jeito certo. Por que a gente deveria fazer um tênis desse? Porque queremos ganhar dinheiro em cima disso? Ou para ocupar um espaço já lotado com mais uma outra versão de algo que nunca vai ser melhor do que um simples Converse?

Então a Vibram nos mostrou essa tecnologia chamada Wrap, e não parecia absolutamente nada com isso que temos hoje. Aqui está uma ideia realmente diferente e possivelmente inutilizável, mas o que vimos nisso foi uma oportunidade. Nenhuma outra fábrica conseguia fazer isso, e trabalhamos com um dos maiores grupos de fábricas da Ásia. Eles até falaram que querem parar de fabricar essa tecnologia porque é muito difícil de fazer. Mas essa é a nossa versão do simples tênis vulcanizado, que é impossível para qualquer outra marca fazer. E esse é o tipo de coisa que a gente ama fazer.

Então, o que eu estou dizendo é que tudo o que fazemos, leva algum elemento que tenha valor de performance ou alguma inovação. Não queremos apenas fazer outro produto que pareça uma versão de algo que já existe. Queremos fazer algo que nunca foi feito.

David E não podemos esquecer quem são os verdadeiros heróis dos quais não estamos falando – os engenheiros. Eles são tão importantes quanto os designers, eles fazem as ideias malucas funcionarem. E se você deixar um engenheiro criar algo por conta própria, ele vai inventar algo com uma cara tão maluca, e isso é o que muda o paradigma. Tem uma coisa bela no trabalho dos engenheiros porque eles estão apenas procurando soluções. E para mim, se você projeta só pelo design, isso não significa nada. Para mim é mais interessante quando – como é a Wrap Tech, você tem uma nova forma de construir produtos, é uma forma diferente de fazer as coisas. Acho que é por isso que gostamos de fazer produtos funcionais, porque tem algo muito legal em lidar com desafios funcionais.

Mas os designers dentro de nós gostam do fato de que parte do que torna os tênis vulcânizados legais, é que eles são meio “brutos”. Eles não são perfeitos. Hoje em dia tudo é tão perfeito. Isso meio que perde um pouco de personalidade, um toque humano, sabe? Foi isso que nos deixou animados com esta tecnologia.

Agora pega a Ferrari por exemplo: é uma marca que faz carros esportivos condicionados para correr na pista. E eles até fazem umas versões limitadas que são ainda mais nervosas. Você compra uma Ferrari sabendo que ela vai ter um desempenho de alto nível na pista, mas a maioria das pessoas nunca vão levar um carro desse para uma pista, mas ele vai performar na pista. E essa é a parte importante, e essa é a essência da Brandblack. Enquanto isso tem algumas marcas que fazem produtos que você não conseguiria usar para praticar o esporte no qual ele foi designado. Temos alguns tênis como o Moonraker que é pura moda e estilo, mas se rotularmos um tênis como de performance, eles são 100% feitos e projetados para isso.”

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Brandblack Capo
Brandblack Capo

É muito interessante como vocês vêm de origens diferentes, ambos são criativos e trabalham juntos para criar esses produtos incríveis. Como funciona a dinâmica entre vocês dois?

David Tensão, esse é o segredo. (risos)

Billy E respeito.

David Sim. Se um artista não tem com quem brigar, discutir, então o trabalho se torna desinteressante. E quando um artista se torna muito poderoso e pode fazer o que quiser, a obra sempre sofre. Não vou falar quem são esses artistas, mas todo mundo tem uma ideia de quem eles são.

Você precisa de alguém para te desafiar, para te empurrar, para fazer você se questionar, você precisa de alguém para brigar com você e você ficar tipo “foda-se ele, eu vou mostrar para ele”. A gente vive para isso, e essa tensão é importante. Se você não tem isso, o trabalho é medíocre. Você precisa de alguém para checar seu ego, é a coisa mais importante.

Vocês fizeram alguns tênis realmente incríveis ao longo dos anos, então porque de todos os tênis da Brandblack, vocês escolheram o Kaiju, o Moonraker e o Tabi para essa entrevista?

David Eu escolhi Kaiju e o Moonraker porque é um exemplo perfeito das duas vertentes da Brandblack. É performance, moda e como os dois podem coexistir. E o Rare Metal II, que é nosso tênis de basquete mais recente, ficaria bem no meio desses dois, seria a transição. Acho que cada um representa um pilar daquilo em que a gente acredita.

Acho que o Kaiju, o tênis de corrida, levíssimo, espuma supercritical, tem uma folha de Kevlar em vez de placa de carbono. Super técnico e avançado. Esse é provavelmente um ótimo exemplo do que é nossos produtos de performance no lado esportivo. Foi o nosso primeiro tênis verdadeiramente de alto nível, e investimos muito tempo e esforço nele. Chegamos a mandar alguns pares para canais e blogs de corrida, que nos deram bastante feedback. Mudamos o design, o molde, realmente gastamos muito tempo, esforço e dinheiro nesse tênis  para deixá-lo o mais alto nível possível. E estamos muito orgulhosos de como ficou.

E então o Moonraker representa o lado da moda. É obviamente uma homenagem ao Air Force One, mas feito de uma forma tão específica e única. É feito em uma fábrica em Portugal, por isso é de altíssimo nível com belos materiais e acabamentos.

Billy Eu trouxe o Tabi porque naquela época era algo realmente único para a marca, e até único para o mundo. Eu estava em Copenhague para o Fashion Week e conheci esse estilista Willy Chavarria. A gente se deu muito bem e nós dois tínhamos ideias semelhantes sobre moda, indústria, produto etc. Decidimos fazer uma cápsula colaborativa de vestuário sobre igualdade racial, gênero, e todos esses tópicos que estão em alta hoje. Construímos essa cápsula de vestuário em torno disso e, sendo uma marca de calçados, sentimos que tínhamos que completar essa cápsula com algum produto de calçado que fizesse sentido para o mundo do Willie. Quando eu vi ele pela primeira vez, tava usando uma sandálias tipo Tevas com meia, parecia um turista alemão, e usando isso de uma maneira tão fashion (risos). Ele tava arrasando, o jeito que ele usava era único.

Montando a coleção, eu tava conversando com o David e estávamos trabalhando no Gama, um tênis que fizemos com uma malha circular. “E se pegarmos a sola Vibram, as cintas, e juntarmos as duas ideias para fazer o calçado maluco do Willie, mas de forma super técnica?”. Então fizemos isso. E é por isso que eu trouxe este calçado, porque senti que ele diz algo sobre a marca e como olhamos para um produto e tentamos nos desafiar para torná-lo algo interessante. Ele tem um revestimento DWR (repelente de água durável) para que seja resistente à água, antimicrobiano, ele contém todo tipo de componentes e tecnologias, mesmo que não esteja visível, é produto silencioso. Quando o lançamos pela primeira vez, todo mundo disse: “vocês fizeram uma sandália com uma meia?”. Mas é mais difícil de fazer do que parece (risos).

Brandblack Kaiju
Brandblack Kaiju

E para o futuro, vocês tem planos de abrir uma loja da Brandblack?

Billy Somos poucos em mão de obra, há cinco pessoas que trabalham para a Brandblack no total, e somos pequenos no sentido de que todo o dinheiro que fazemos, volta para a empresa para expandir. E como você sabe, o calçado é muito caro de produzir, os moldes custam muito dinheiro, e também toda a logística que vem com essa produção, então é difícil.

Para mim, é por isso que não tem mais marcas pequenas de calçados, tem um milhão de marcas de vestuário, mas não de calçados. As empresas grandes, eles fazem isso muito bem, eles têm as fábricas, os meios, eles têm as pessoas certas. Então tudo que a gente faz tem que ser pequeno. E sobre abrir nossa própria loja, adoraríamos. Isso está no plano de negócios, mas primeiro, o mundo precisa se normalizar um pouco, em relação a pandemia. De qualquer forma, eu não curto vender no varejo no modelo antigo, então acho que uma loja própria faria todo o sentido porque você tem controle da narrativa, e você controla a identidade da marca.

Brandblack Tabi
Brandblack Tabi

Brandblack Kaiju, Moonraker and Tabi
Donos: Billy Dill e David Raysse
Ano: 2022
Fotos: Kickstory

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