Cybercafé Skateshop Gabriel

Cybercafé Skateshop

Last Resort AB VM001 Last Resort AB VM001
21—05—2025 Fotos: Kickstory
Cybercafé Skateshop
Entrevista Nº 199

Durante nossa viagem por Portugal em 2023, a Cybercafé foi uma das lojas que mais recomendaram para a gente – e com razão. Se você curte skate, tênis e cultura, você não pode deixar de passar por lá se estiver em Lisboa. Mais do que uma loja de Skate, a Cybercafé é um ponto de encontro criado por dois brasileiros, Gabriel Mafra e Lui Appratto, que transformaram uma ideia antiga entre amigos em um espaço real, com zines, livros, arte e café.

Na nossa entrevista com o Gabriel, ele conta como foi sair de Floripa pra abrir uma loja de skate em outro país, os desafios desse começo e o impacto que a Cybercafé já causou na cena local em tão pouco tempo. Ele escolheu falar do seu Last Resort AB VM001, que representa muito da essência da Cybercafé: independente e feito por skatistas para skatistas.

Meu nome é Gabriel Mafra, eu sou de Florianópolis, Santa Catarina. Eu tenho 23 anos e ando de skate há uns 13 anos. Me mudei para Portugal há alguns anos, e hoje eu sou sócio da Cybercafé com o meu amigo Lui Appratto. Abrimos a loja no final da pandemia, em 2021.

Além da loja, também trabalho como videomaker, faço imagens e vídeo, o que acaba se associando também ao nosso trabalho aqui na loja. Acabamos de lançar um filme que eu fiz, e para o lançamento fizemos um evento que veio mais de 600 pessoas! Tomou uma proporção que a gente não esperava, foi muito legal.”

Como começou o seu contato com o skate?

Gabriel Os meus primos já andavam de skate, e o meu pai sempre demonstrou interesse por skate também. Quando eu era bem novo, meu pai me deu um daqueles skates de mercado mesmo. Eu andava às vezes e depois parava por muito tempo, mas não levava muito a sério, até que um dia, quando eu tinha 11 anos, assisti o documentário “Vida Sobre Rodas”, achei muito style e pensei: agora eu quero andar de skate de verdade.

No meu aniversário eu pedi um skate de verdade para os meus pais, e desde esse dia eu não parei mais. Eu sempre tentava começar algum esporte, mas eu não me encontrava em nenhum – tentei futebol, basquete, tênis, surf, natação, tentei fazer teatro, nada batia. Mas com o skate foi imediato.

Em Floripa, tinha algum lugar que você gostava mais de andar?

GabrielEu cresci andando em uma pista chamada Trinda Times, que ficava ao lado de uma quadra de futebol. Quando comecei a ir lá a pista não era tão boa, e aí eu e o pessoal fizemos uns obstáculos bem DYI (faça você mesmo) na quadra, com corrimão, rampas e caixote. Toda vez que o pessoal do futebol vinha jogar, tínhamos que tirar os obstáculos. Às vezes dava briga, até que o pessoal do skate foi dominando o espaço e começamos a fazer obstáculos de concreto.

Foi lá que eu comecei a andar de skate, conheci meus amigos, e também onde conheci o Lui. Uns dois anos atrás a pista foi destruída, e aí lançaram uma pista nova, tá bem legal. Não tem aquela vibe de ser DIY, com aquelas imperfeições, mas tá bem boa. Essa é uma das maiores pistas de Santa Catarina.

“O começo foi bem difícil. Tirando a comunidade brasileira do skate, que é bem forte, nós não conhecíamos mais ninguém. Ficamos inseguros nesse começo, desse peso de abrir uma loja de skate, de você tá fazendo pela cena. Normalmente quem abre loja já é um OG do skate, que já está anos na indústria…eu tinha 21 e o Lui 24 anos! Tivemos que botar a cara e criar coragem. Mas demos sorte que toda a comunidade abraçou a loja.”

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Como vocês foram de andar de skate juntos em Floripa para abrir uma loja de skate em Lisboa?

gabrielEm 2018, a minha mãe veio para Portugal para estudar, e eu estava estudando cinema na época e não queria vir junto, então tive que arrumar um lugar para ficar. Na mesma época, a mãe do Lui estava se mudando para Brasília, e ele também queria ficar em Floripa. Então nós e mais um amigo fomos morar juntos. Eu estava completando 18 anos, era uma bagunça, a gente fazia festa e tudo, a galera chamava nossa casa de “stink house” para vocês terem uma ideia (risos).

Nessa época a gente conversava muito sobre o que fazer no futuro. Eu tava começando a faculdade, e ele tinha acabado de se formar em design gráfico. A gente começou a pirar falando que seria legal criar uma loja de skate, mas que tivessem mais coisas, como livros, zines, revistas, cervejas, cafés. A ideia original seria de ser um espaço de convivência mesmo. Sempre falávamos, mas nunca tinha ido para frente.

Então a Eliane, mãe do Lui, se aposentou, e decidiu ir para Portugal. Ele quis ir junto, e eu fiquei, fazendo as minhas cenas trabalhando com vídeo. Com a vinda dela pra Lisboa, nossas mãe ficaram muito amigas. Aí chegou a pandemia, tava tudo dando errado e eu decidi ir para Portugal passar um tempo. Minha ideia era ficar estudando um curso de cinema de um ano, quando eu cheguei o curso foi cancelado e tive que trocar por um de dois anos.

Nós quatro nos vimos na situação de precisar arranjar um emprego aqui em Portugal, mas por conta da pandemia era muito difícil encontrar. Então as nossas mães decidiram empreender, assim eu e o Lui conseguiríamos trabalhar com elas também. A ideia de abrir uma skate shop não foi a primeira coisa que veio à cabeça. Isso surgiu bem depois, quando elas já estavam pensando em abrir algum negócio pra que nós quatro pudéssemos trabalhar juntos. No começo, elas cogitaram abrir um mercado de produtos veganos ou até uma petshop. Aí o Lui comentou que, se fosse isso, claro que a gente ajudaria, mas que talvez fizesse mais sentido criar algo que realmente curtíssemos. Foi aí que veio a ideia da loja de skate — algo que eu e ele já tínhamos falado no passado e que, em Lisboa, não tinha nenhuma. Elas viram que fazia sentido, e aí alugamos esse espaço que estamos hoje. 

O começo foi bem difícil. Tirando a comunidade brasileira do skate, que é bem forte, nós não conhecíamos mais ninguém. Ficamos inseguros nesse começo, desse peso de abrir uma loja de skate, de você tá fazendo pela cena. Normalmente quem abre loja já é um OG do skate, que já está anos na indústria…eu tinha 21 e o Lui 24 anos! Tivemos que botar a cara e criar coragem. Mas demos sorte que toda a comunidade abraçou a loja.

Durante a nossa viagem por Portugal, a Cybercafé foi uma das recomendações mais unânimes — todo mundo dizia que a gente tinha que passar por aqui. Em só três anos, o impacto que vocês causaram na comunidade é nítido. A história que mais ouvimos foi sobre o soft opening da loja, que lotou tanto que chegou a fechar a rua.

gabrielColocamos o flyer do evento dois dias antes no nosso Instagram. Na época era pandemia ainda, o pessoal tinha que usar máscara e mesmo assim veio muita gente. Veio até o dono da Last Resort AB, o Pontus Alv! Ele nos parabenizou, até tomou champanhe com a gente (risos)

Quais são os próximos passos para a Cybercafé?

gabrielNosso foco maior agora é fazer a loja crescer como marca. A Supreme, Dime e a Civilist são referências fortes pra gente – que nasceram como skateshop e hoje são o que são. Já temos coisas nossas, da nossa própria marca, e queremos um dia crescer como eles.

Pra mim era muito importante trazer uma marca que a gente trabalha aqui na loja, e trazer uma marca que tá fazendo um trabalho diferente, que não seja tão conhecida, e bring something new to the table, sabe? A Last Resort AB é uma marca independente, de skatista, feita para skatista – isso eu acho muito interessante.”

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E porque de todos os seus tênis, você escolheu o Last Resort AB VM001 para o Kickstory?

GabrielPra mim era muito importante trazer uma marca que a gente trabalha aqui na loja, e trazer uma marca que tá fazendo um trabalho diferente, que não seja tão conhecida, e bring something new to the table, sabe? A Last Resort AB é uma marca independente, de skatista, feita para skatista – isso eu acho muito interessante. 

Eles lançam três por ano, e a cada coleção eles melhoram alguma coisa do produto a partir do feedback do pessoal. Na primeira coleção, a palmilha não saía, e o pessoal reclamou porque ela não absorvia muito o impacto; aí na coleção seguinte isso foi arrumado.

Eles fazem bastante video part, apoiando bastante o pessoal do skate. Todo mundo que eles botaram no time, eu me identifico. O Chris Milic em específico, eu me identifico muito, foi uma das pessoas que mudou a minha percepção do skate quando eu era mais novo.  Ele faz um skate totalmente for fun, na rua, com umas manobras que eu nunca tinha visto antes. É um skate bem criativo – ele tem uma forma de ressignificar os elementos da rua.

Esse é o primeiro modelo que eles lançaram, que é o VM 001, e tinha em versão canvas e em versão em suede. As iniciais VM significam Vulcanized Model. Uma das coisas que eu gosto muito do 001 é que é um tênis simples, mas retrô, baseado em alguns tênis dos anos 80, 90. Além de que, eu acho ele bonito e confortável, para andar de skate é muito bom, ele segura bem no skate, o que a gente chama de board feel, isso pra mim é bem interessante.

Eles lançaram um pro model para o Chris Milic, o VM004. É interessante porque é uma marca nova, que mesmo sendo pequena já está dando pro model para skatista, coisa que só as marcas grandes fazem.

Quando você começou a andar de skate, qual era o tênis que você mais usava? E tinha algum modelo que você sonhava em ter naquela época?

gabrielLembro que tinha um tênis da Nike 6.0, que era pré-Nike SB, voltado para esportes radicais tipo Skate, BMX, Surf etc. Eu tinha um tênis desse, e curtia muito ele. Eu sempre gostei muito dos tênis da Nike. 

Muitos anos atrás, a Emerica lançou um vídeo chamado Stay Gold, e eu só queria usar tênis dessa marca. Até hoje essa marca existe, mas eu acho que as pessoas mudam, os tempos mudam, e as marcas têm que se inovar também. Às vezes a marca continua fazendo a mesma coisa de quando ela lançou, que por um lado é interessante, mas as pessoas podem perder o interesse. Hoje não é uma marca que eu me identifico mais.

Eu gosto muito da Vans também. Existem vários tipos de contas da Vans e agora aqui na loja conseguimos a conta máxima, que dá acesso aos modelos especiais, que poucas lojas tem. Hoje em dia, pra andar de skate, eu uso muito Last Resort ou Converse.

Hoje, quantas pessoas fazem parte do time de skate da Cybercafé?

GabrielOficialmente são nove pessoas. A maioria recebe um valor mensal para usar na loja, a gente sempre apoia. A ideia é que eles representem a loja, filmando os videos part. Sempre incentivamos que eles consigam apoio, a loja conseguiu fazer uma conexão para que um deles recebesse tênis direto da Vans, conseguimos apoio de marca de shape também.

A gente fica achando formas para que eles não tenham que gastar para andar de skate. Pra quem ta andando todo dia, o skate é bem caro, por isso sempre tentamos apoiar o pessoal.

É muito legal ouvir a trajetória de vocês! Admiramos muito a coragem que tiveram de abrir uma loja de skate, em outro país, conhecendo poucas pessoas, e ver hoje no que virou isso tudo. Que conselho você daria para alguém que quer trabalhar com a indústria do skate?

gabrielQuando eu era pequeno eu queria ser skatista, mas teve um momento que eu vi que não era tão bom quanto os meus amigos, a ponto de ser profissional e ganhar dinheiro com skate. Isso é muito difícil, hoje em dia tem muita gente boa no skate, e pra ganhar dinheiro não basta só andar bem – precisa estar no lugar certo, na hora certa e ter os contatos. Quando percebi isso, eu comecei a filmar, consegui estar dentro da cena do skate mas sem ser “o skatista”.

Então comecei a filmar, comecei a gostar muito e trabalhar com isso. Depois abrimos a loja. Às vezes as pessoas pensam muito, ficam achando o que as respostas vão ser, mas no final você tem que acreditar e fazer as coisas para si mesmo. Isso tanto para você ser skatista, ou ter uma profissão dentro do skate. E acima de tudo é fazer algo que você goste, e depois o que vier junto é bônus.

Last Resort AB VM001
Dono: Gabriel Mafra – Cybercafé Skateshop
Ano: 2023
Fotos: Kickstory
Color Grading: Julio Nery

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