Semana passada à convite da adidas Brasil sentamos com o Doncesão para falar com um cara que manja muito de Kanye e toda a linha Yeezy. Ele falou um pouco sobre como é ser rapper, produtor, amante de moda e pai!
Surpreendentemente, Doncesão escolheu não falar diretamente dos seus pares, mas sim dos Yeezys do seu filho e o que eles significam para ele. Doncesão também compartilhou com a gente um pouco da sua visão que tinha não só sobre tênis, mas sobre si mesmo como artista, e como essa visão mudou e amadureceu, principalmente com a chegada do Don.
Em uma música você mandou aquela rima: “eu sou o Doncesão e você não”. A gente quer saber, quem é o Doncesão?
DoncesãoAcho que hoje eu tenho um entendimento muito maior do que é a minha figura, o que eu trabalhei pra conquistar e o que eu quero e o que eu to prospectando, do que aquela época que eu falei isso, aquele sentido ainda era uma coisa do ego de MC mesmo. Tipo eu sou o Doncesão e eu faço essas paradas que as outras pessoas não fazem. Era isso que eu achava que era a minha importância mas hoje em dia eu já tenho outra noção. Tenho 33 anos, tenho um filho, uma empresa, uma sociedade com pessoas que são ídolos pra mim como o Djonga, o Rodrigo TX, dentro da cultura de rua que é o que eu amo mesmo, o hip hop, o skate, a cultura negra de um modo geral. Hoje eu consegui estar na tabela com essas pessoas que são ídolos da minha geração.
Tipo “sou Doncesão mas você não” porque a gente consegue ligar outros mundos também que algumas pessoas não conseguem permear, então o que eu quero fazer cada vez mais é isso. “Sou o Doncesão e as pessoas não” nesse lance de ser uma peça fundamental, não como era antes de estar tão na frente do palco, mas ser uma peça da engrenagem, tá ali fazendo a parada acontecer mas não sendo necessariamente a pessoa que tá com a voz nesse momento. Ainda mais, porque eu acredito muito nesse lance da cultura, da construção, aqui que a gente tá com fala é muito recente do começo do hip hop, anos 80 e 90 e 2000. Então acho que hoje quando a gente fala de construção de cultura a gente tem que saber quem são as vozes que tem que estar falando. E acho que, como MC ou como uma pessoa que ama o hip hop e estuda isso, hoje no ano 2019 não tem que ser eu falando – um rapper branco que já conquistou um monte de coisa, um monte de privilégios por um monte de questões da sociedade e da vida, que tenho que estar sendo a voz nesse momento. Eu tenho que ficar no espaço que eu tenho e tentar proporcionar isso para pessoas que eu acredito que tenham que estar contando essa história agora, ou que estejam ali, construindo isso de uma maneira que todo mundo acredite e fale “pô, isso aí faz sentido”.
Então você vê uma evolução daquela época pra hoje, em muitas coisas?
“E assim, eu uso sem dó. Não tô nem aí. Quando eu gosto, eu quero ter e usar ele no momento e não quero ficar guardando, eu já perdi muito tênis de dar hidrólise, de amarelar, de sola ficar dura. Não quero guardar e ficar com aquele sentimento “ele é meu, my precious”. (risos). Aí a hora que você vai usar, você não pode.”
Você tem uma coleção grande de tênis e vimos que você curte pra caramba. O que você acha que mudou do começo da sua coleção pra agora? Como é sua relação com tênis hoje em dia?
Mas tem algum par que não dá mais pra você usar e você acabou guardando?
Eu acho que a sua figura e a figura do Kanye tem umas interligações. Kanye é um produtor de música, um rapper e ele tem uma presença na moda. E você muito similarmente também tem. Como você se vê paralelo a ele?
Como que é seu dia-a-dia da Ceia? Qual seu papel nela hoje em dia?
“Hoje a relação que eu tenho com tênis mudou por dois motivos: o nascimento do meu filho, isso muda a sua perspectiva de tudo, até da vaidade, tudo muda muito, você não fica mais pensando numa parada pra você. E o outro motivo é que graças ao meu trabalho, a relação de anos que a gente construiu com a Adidas, hoje a maioria dos lançamentos que eu quero, eu não preciso comprar. Ainda bem (risos).”
Você tá falando bastante de uma fase nova na sua vida e você escolheu mostrar o tênis do seu filho, Don, para o ensaio – que é uma novidade no Kickstory. E a gente quer entender, por que de todos os seus Yeezys você escolheu os Yeezys Boosts do Don para a entrevista?
“Mas primeiro as pessoas que tão próximas, a gente tem que ter a humildade pra aprender e tem que estar com o radar ligado. Acho que inspiração vem sempre do dia a dia de pessoas que tão próximas – minha família me inspira, minha mulher, as pessoas que trabalham comigo da Ceia.”
Quais são suas grandes inspirações tanto na música como na arte?
Falando de um cara que com certeza foi transformador: qual que é seu Adidas Yeezy e album favorito do Kanye West?
“O rap, é uma expressão artística que movimenta muita gente. Tipo você faz um show, você vai lá, é um público enorme, e hoje a gente consegue ver a identificação na molecada até no jeito de se vestir. Então acho que isso é uma parada que a Adidas conseguiu ver que era uma identificação legítima com o público ali, e falou “pô, a molecada gosta deles ali por um motivo”. E eles sempre viram a gente de Adidas, saca? Eles viam a gente.”
Você falou um pouco da sua relação com a Adidas que é muito boa. Mas no início você era apenas uma aposta deles e você conseguiu construir essa relação com eles. O que você acha que fez a Adidas ir crescendo a confiança dela com você?
DoncesãoEu acho que primeiro foi a minha identificação real com o tênis e depois essa identificação real com a cultura urbana de tentar mudar, tentar trazer e fomentar. Eu diria que eles tavam na busca de pessoas que formentassem a cultura urbana de alguma maneira. O rap, é uma expressão artística que movimenta muita gente. Tipo você faz um show, você vai lá, é um público enorme, e hoje a gente consegue ver a identificação na molecada até no jeito de se vestir. Então acho que isso é uma parada que a Adidas conseguiu ver que era uma identificação legítima com o público ali, e falou “pô, a molecada gosta deles ali por um motivo”. E eles sempre viram a gente de Adidas, saca? Eles viam a gente.
No começo, claro, você se sente contemplado: você fala “caramba, que foda, uma marca que eu sempre admirei, que a gente usa, tanto eu, quanto os menino do Rio lá da pirâmide, tá com a gente”. O pessoal da Adidas via a gente nas fila dos tênis, quando saiu os primeiros Yeezy, eles viam a gente lá, eles viram que a gente gostava mesmo. Acho que foi criando essa relação por causa da verdade, acho que quando é uma relação que depois vira comercial, tem que ser uma verdade, se não ela acaba indo sempre pra um outro lado, tipo, os dois lados não vão ficar felizes. Eles falam “pô, os cara gostam mesmo de Adidas, é real a conexão que eles tem com a molecada e com a rua, é verdadeiro”. É uma coisa que a gente gosta mesmo, então pra mim, poder fazer parte, trabalhar em cima, é foda porque eu sempre fui fã.
Se não fosse Yeezy, qual outro tênis da sua coleção da Adidas você escolheria?
Isso não dá pra saber agora mas você acha que o Don vai pegar mais influências sua da música ou da cultura de moda no geral?
Adidas Yeezy Boost
Entrevistado: @doncesao
Fotos: @vitorialeona