Uma conversa com Myles O’Meally, fundador da Areté Myles O.
Uma conversa com Myles O’Meally, fundador da Areté
Histórias

Uma conversa com Myles O’Meally, fundador da Areté

Durante a nossa viagem na Holanda, tivemos a oportunidade de conversar com Myles O'Meally, fundador da Areté, um estúdio de design e engenharia de produtos com sede em Amsterdã. Ele compartilhou com a gente sua jornada como jogador de tênis para desenvolvedor de calçados na Nike, e eventualmente criando sua própria empresa.

29—02—2024

Ele falou sobre sua fascinação por como as coisas são feitas, sua experiência trabalhando em projetos como a colaboração ‘The Ten’ da Off-White com a Nike, a coleção de calçados de Raf Simons, e as tecnicidades da fabricação de calçados. Myles enfatizou a importância do propósito na criação de produtos e compartilhou sua visão para a Areté, para expandir para outras áreas de criação e fabricação de produtos.

Fotos: Kickstory
Color Grade: Julio Nery

“Meu nome é Myles O’Meally, sou de Birmingham, no Reino Unido. Sou o fundador da Areté, um estúdio de design e engenharia de produto com sede em Amsterdã. Atualmente, somos especializados na criação de calçados, mas no futuro, vamos expandir para outras áreas de produtos. Antes de começar o estúdio, trabalhei na Nike por cinco anos como desenvolvedor de calçados. Passei dois anos na Nike em Amsterdã e depois três anos no Vietnã, trabalhando nas fábricas. No final de 2018, decidi sair da Nike e, em 2019, fundei a Areté.”

Como foi a transição de sair de uma carreira promissora no esporte, como jogador de tennis, para trabalhar com engenharia de design de produtos?

myles Dos 5 aos 20 anos de idade, por 15 anos, só jogava tennis, era o que eu mais curtia. Queria ser jogador de tênis profissional. Então eu jogava, treinava todos os dias, participava de torneios e viajava. Como júnior eu tinha um ranking internacional, no Reino Unido eu tava entre os 25 melhores.

Foi incrível porque a mentalidade que você constroi praticando esportes em alto nível, é uma mentalidade que você pode aplicar para muitos outros aspectos da vida. Então para mim, foi uma experiência incrível jogar tennis, viajar e desde criança, ter esse nível de competição, mas também as características e as mentalidades que você desenvolve durante esse período são não tem preço. Eu uso essa mentalidade até hoje.

Quando subi para a categoria adulta, e esse foi o meu primeiro ano como profissional, a mudança foi simplesmente louca. O nível é muito alto. E mesmo nesse nível, você não tá ganhando muito dinheiro. Então eu pensei: “Quantos anos a mais tenho de treino, crescimento para chegar a esse nível, o suficiente pra ganhar a vida com o esporte?”. E simplesmente não fazia sentido para mim. Então decidi parar, e comecei a olhar para as outras áreas da minha vida que me interessavam muito: engenharia de design de produtos e design gráfico.

Desde criança, sempre fui fascinado em entender e aprender como as coisas são feitas. Queria encontrar um curso que conectasse essas duas paixões: esportes e engenharia de design de produtos. Fiz um curso em Sheffield chamado Tecnologia Esportiva e depois fiz um mestrado em Design de Engenharia. Foi o ano que realmente acelerou meu pensamento e eu mudei muito, esse mestrado foi a qualificação que me garantiu o emprego na Nike.

 

Foi incrível porque a mentalidade que você constroi praticando esportes em alto nível, é uma mentalidade que você pode aplicar para muitos outros aspectos da vida.”

Quando você decidiu fazer design industrial, você tinha em mente com o que queria trabalhar?

myles Sim, bens duráveis, equipamentos, como raquetes, caneleiras e equipamentos de proteção. Eu gostava da ideia de estar envolvido na fabricação de produtos que o atleta usa para performar, como calçados por exemplo. Esse foi um dos motivos porque a vaga na Nike para trabalhar com calçados era tão atraente. Durante a faculdade e mestrado, eu nunca tinha feito nada em calçados, nem uma aula antes do meu emprego na Nike. O que me mostrou como as habilidades de design de engenharia são aplicáveis a diferentes categorias de produtos.

Quando parei de jogar tennis, meu foco era: “Se eu não vou ser um atleta profissional, pelo menos vou me envolver na indústria criando os equipamentos que ajudam os atletas”. Eu entendia o que o atleta queria nos equipamentos, porque já tinha passado por isso. Então vou fazer a transição para o outro lado e ser quem faz essas coisas.

Quais foram os primeiros produtos com que você trabalhou na Nike?

myles Os produtos que trabalhei foram um bom ponto de partida porque não era super técnico para entender. Trabalhei na sede europeia aqui na Holanda, em Hilversum, e a equipe se chamava “Criação de Produto da Europa Ocidental”. A gente criava produtos para esta região. Packs e coleções especiais para Londres, produtos especiais para contas-chave como a size? e Footlocker. Não fazíamos nenhuma criação nova em termos de tecnologia, peças ou novos cabedais. A estética de um Air Max 1 para o consumidor norte-americano não é necessariamente a mesma para o consumidor europeu ocidental. A gente tinha que ajustar um pouco, com cores, materiais, estampas, gráficos e o storytelling. Tinha estilos e silhuetas existentes e basicamente a gente fazia com que fosse adaptado para nosso grupo de consumidores na Europa Ocidental, seja em Berlim, Londres, Paris ou onde quer que fosse.

Fiz isso nos dois primeiros anos. Foi uma boa mistura de consumidor, cultura e indústria com o processo físico de fabricação de calçados. Uma ótima maneira de começar a aprender sobre calçados.

Você foi de trabalhar no escritório, com a equipe de criação na Europa, para trabalhar no Vietnã nas fábricas vendo como os produtos eram feitos em tempo real. Como foi essa experiência para você?

myles Eu amei. Como falei, minha formação é em engenharia de design. A fascinação que eu tinha em como as coisas eram feitas, agora eu tava no centro disso tudo. Foi onde me soltei totalmente, eu me identifiquei muito com isso. Óbvio que culturalmente, era diferente no Vietnã, é dia e noite, mas é muito legal ver como a cena em Saigon se desenvolveu. Definitivamente tive momentos difíceis, mas o meu lado nerd tava curtindo o que eu tava lá para fazer. Eu amava ir às fábricas todos os dias e só trabalhar em um produto, aprendendo como ele era feito.

Que tipo de produto você trabalhava em Vietnã?

myles A Nike envia você em um contrato de expatriado de três anos, e você basicamente trabalha em uma categoria de produto. No meu primeiro ano, trabalhei em corrida de performance básica, que são todos os tênis de corrida abaixo de $100. É obviamente legal aprender a fazer tênis técnicos com o preço mais baixo porque você realmente tem que se aprofundar no tênis e aprender muito sobre como ele é feito.

Mas depois de um ano, pensei: “Não posso passar mais dois anos fazendo o mesmo tênis de novo”. Então falei pro meu chefe: “Não faz sentido. Vocês estão desperdiçando o investimento que fizeram em mim, me colocando aqui e me pedindo para aprender a fazer apenas um tipo de tênis. Eu vou ficar aqui por três anos, deixa eu aprender a fazer todos os tipos de tênis”.

Então meu chefe disse que ia tentar me dar projetos de Lifestyle porque viu que eu tinha bastante conhecimento e interesse com esse lado da indústria. Algumas semanas depois, ele falou: “Tem essa colaboração com a Off-White. Vou colocar você para gerenciar o projeto”. Obviamente, eu fiquei super animado, e foi assim que consegui o projeto da Off-White. Obs.: ele não tinha ideia do que era Off-White.

Todos os tênis do “The Ten” foram feitos na China, com exceção de três modelos que foram feitos no Vietnã: o Air Max 97, o Zoom Fly e o Hyperdunk. E foi nisso que eu fiquei trabalhando pelos próximos oito meses.

Todos os tênis do “The Ten” foram feitos na China, com exceção de três modelos que foram feitos no Vietnã: o Air Max 97, o Zoom Fly e o Hyperdunk. E foi nisso que eu fiquei trabalhando pelos próximos oito meses.”

Como foi para você trabalhar em tênis tão técnicos com tantos detalhes e materiais diferentes?

myles Eu amei. Quando trabalhei com corrida de performance básica, como engenheiro, precisei realmente me aprofundar nos tênis porque são 1,5 milhão de pares de tênis feitos de um modelo. Se você puder economizar $0,05 nesse tênis, agora pensa isso vezes 1,5 milhão de unidades, é muito dinheiro. Eles realmente te pressionam como engenheiro de calçados para decupar o tênis e entender como ele é feito para economizar dois, três centavos em algum tipo de padronagem ou material.

Então tive a chance de implementar o que aprendi no ano anterior em um produto em que o preço não era uma questão. Eu podia só fazer. Eu falava tipo: “Gente, mas se eu fizer desse jeito, vai custar x”, e a equipe de design de Portland falava de volta: “Myles, não se preocupe com o preço. Só faz como tem que ser feito”. Isso foi incrível. Eu pude ser realmente criativo como engenheiro, o que era muito dahora.

Então tive a chance de implementar o que aprendi no ano anterior em um produto em que o preço não era uma questão. Eu podia só fazer. Eu falava tipo: “Gente, mas se eu fizer desse jeito, vai custar x”, e a equipe de design de Portland falava de volta: “Myles, não se preocupe com o preço. Só faz como tem que ser feito”. Isso foi incrível. Eu pude ser realmente criativo como engenheiro, o que era muito dahora.”

Tem algum outro projeto que você trabalhou e que também curtiu muito?

myles Na Nike, as coisas da Off-White foram muito legais, mas sinceramente, o produto mais legal e interessante que trabalhei foi no meu último ano quando entrei no que a Nike chama de “Cleated” que é basicamente chuteiras e qualquer calçado com cravos na sola. É tão técnico, que meio milímetro faz uma grande diferença. É meio parecido com aquele lance de bens duráveis e equipamentos duros que eu curtia lá no começo. O que eu gosto é quando você tem que abrir um molde de alguma coisa. No momento que você tem que fazer engenharia para montar um novo molde, é quando eu penso, incrível, vamos lá.

E no futebol, é tudo tão baseado na precisão. Chuteiras de futebol americano também, dependendo da posição do jogador; se ele é um wingback, ele está correndo; claro que ele quer uma chuteira leve, quase como uma chuteira de futebol. Mas se ele é um dos grandalhões no meio, ele precisa dessas chuteiras cheias de proteção, construídas quase como uma armadura por todos os lados. Então para mim, a categoria mais prazerosa e interessante de trabalhar foi essa chamada “cleated” com certeza.

O que fez você sair da Nike e começar sua própria empresa?

myles Durante todo o ano de 2018, eu tava tentando encontrar um lugar na Nike onde eu pudesse atuar em diferentes papeis, ou pelo menos estar envolvido de alguma forma em várias áreas. A Nike é uma empresa tão grande, e obviamente precisa ser altamente estruturada, então todos os funcionários têm seu próprio caminho.

Eu me mudei para o Vietnã aos 26 anos, então você fica em uma fábrica da Nike dos 26 aos 29 anos. Nos olhos deles, agora você vai ser esse cara para eles. É tão único ter essa experiência. Aí agora eles querem que você cresça nessa área e eu não queria fazer só isso. A alternativa que eles tavam me dando era mudar para uma categoria completamente diferente, como gerente de linha de produtos ou algo assim. Eu ainda queria ser engenheiro, mas não engenheiro. Então foi por isso que, eventualmente, ficou claro que a gente não ia achar um ponto de encontro. Meu contrato terminou em dezembro de 2018, e eu decidi não renovar.

O que fez você querer criar sua própria marca, Areté? E qual era a ideia por trás dela?

myles Em Julho de 2019 foi quando comecei oficialmente. Originalmente, a Areté era uma ideia que apresentei pra Nike: montar uma equipe satélite de criativos, estrategistas, engenheiros, pessoas de produto e pessoas de consumidor. E eles se moveriam pela Europa e trabalhariam nesses projetos de colaborações, dentro da Europa. Eu tava propondo essa ideia para os VPs, mas eu era muito júnior na época; provavelmente eu precisava de cinco ou seis anos pra minha ideia levar a qualquer tipo de conversa depois.

Peguei essa ideia e decidi que eu mesmo ia construir. É sobre remover as barreiras da indústria. E gradativamente evoluiu para “Como podemos ter mais propósito na maneira como criamos e no que criamos?” E foi assim que cheguei no nome Areté – é uma palavra grega, e significa seguir um propósito; é uma maneira de viver sua vida, aquele máximo respeito e foco. Ter verdadeira realização em tudo que você fez seria uma vida de Areté.

A empresa foi basicamente construída a partir dessa ideia e se transformou em uma plataforma que tira as barreiras em uma indústria complexa, com o foco principal de criar com propósito. Fazer calçados é muito difícil – é super técnico, a cadeia de logística é uma loucura, as fábricas são difíceis de entrar, os custos são muito altos, o conhecimento é muito exclusivo, é uma categoria de produto muito difícil de entrar. Em tudo que fazemos, tentamos nos concentrar mais no processo do que no produto final.

A empresa foi basicamente construída a partir dessa ideia e se transformou em uma plataforma que tira as barreiras em uma indústria complexa, com o foco principal de criar com propósito. Fazer calçados é muito difícil – é super técnico, a cadeia de logística é uma loucura, as fábricas são difíceis de entrar, os custos são muito altos, o conhecimento é muito exclusivo, é uma categoria de produto muito difícil de entrar. Em tudo que fazemos, tentamos nos concentrar mais no processo do que no produto final.”

Você já trabalhou para grandes nomes e marcas, e fez produtos incríveis. Como você conseguiu seu primeiro cliente?

myles Obviamente tudo começou com Raf Simons, e isso foi só muita sorte; foi literalmente estar no lugar certo, na hora certa. Quando voltei do Vietnã, eu tava reconectando com os meus contatos na Europa. Um dos caras que encontrei na Soho House em Amsterdã falou: “Você precisa conversar com esse cara em Londres, chamado Chris Kyvetos“. Chris é uma daquelas pessoas super importantes dos bastidores que fazem tudo acontecer na indústria há mais de uma década, e o fundador da Athletics FTWR, uma marca que eu também tô construindo com ele.

A gente se conheceu em Londres no início de 2019 e nos demos super bem. Menos de um mês depois, ele ligou e disse – “O Raf Simons quer criar a sua própria linha de calçados; Eu indiquei seu nome. Vai para Antuérpia agora para encontrar com ele”. Foi assim que consegui o Raf. Foi através do Chris.

Obviamente tivemos muita sorte porque o primeiro projeto da Areté com o Raf foi a Semana da Moda de Paris de 2020, literalmente dois meses antes do início do COVID. Ele fez o desfile; e toda a imprensa estava lá, tirando fotos, e obviamente os tênis e calçados eram o grande destaque das matérias. Recebemos muita mídia por conta disso, e foi com isso que consegui praticamente tudo no ano seguinte: MCQ, Stone Island, e A-COLD-WALL*. Esses projetos surgiram por conta da atenção da mídia que recebemos.

Obviamente tivemos muita sorte porque o primeiro projeto da Areté com o Raf foi a Semana da Moda de Paris de 2020, literalmente dois meses antes do início do COVID. Ele fez o desfile; e toda a imprensa estava lá, tirando fotos, e obviamente os tênis e calçados eram o grande destaque das matérias. Recebemos muita mídia por conta disso, e foi com isso que consegui praticamente tudo no ano seguinte: MCQ, Stone Island, e A-COLD-WALL*. Esses projetos surgiram por conta da atenção da mídia que recebemos.”

Quando um cliente vem até você para um projeto, qual é o processo de criação, até a fabricação do produto final?

myles O processo, em um mundo ideal, é que o cliente explique a necessidade, o que eles estão tentando fazer de calçado, o que eles estão tentando criar, e qual é o objetivo deles. E hoje em dia, sempre desafiamos eles sobre propósito, qual é o ‘por quê?’. Para conseguir enxergar isso, tivemos que aprender muito nos últimos três anos.

Às vezes a gente envia uma série de perguntas para realmente entender e fazer o cliente pensar: “Por que estamos fazendo isso?”. Uma vez estabelecido o propósito, partimos para o período de pesquisa em que vamos atrás de tudo sobre esse assunto, esse tópico, para ajudar a construir esse propósito, para fornecer alguma substância que possa dar apoio e ajudar a projetar para esse propósito, resolvendo o problema do cliente.

O concept depois disso é pegar essas descobertas através da pesquisa e começar a construir algumas ideias tangíveis. Durante a fase de pesquisa e design, sempre tem um ponto de contato muito próximo com o cliente, com uma constante troca de ideias. Não é só a gente fazendo coisas e mostrando para eles. Muitas vezes, tem comunicação; Durante a fase de concept, também construímos os calçados fisicamente, não apenas esboçamos. A gente faz mockups com a máquina de costura, colando, costurando e cortando.

Isso também é algo que a gente aprendeu nos últimos três anos, que não podemos apenas confiar nos sketches para compartilhar conceitos e ideias. Muitas vezes o cliente tem dificuldade de entender a forma real do design, a natureza 3D. Por causa disso, adaptamos o processo de concept para também compartilhar ideias físicas e modelos 3D e impressos. Descobrimos que essa é a melhor maneira de expressar os conceitos e ideias para os clientes. Uma vez que o conceito é aprovado, podemos seguir para a fase de design final, onde criamos um pacote técnico para enviar às fábricas. Então o período de amostra começa, e pode levar de 6 a 18 meses, dependendo da complexidade do produto.

O que mais te chama atenção nessa bota Raf Simons Cycloid-4?

myles Eu realmente gosto dessa bota Cycloid-4 porque é uma verdadeira fusão de tudo que os calçados do Raf aspiravam ser. É uma verdadeira fusão de eras e formas passadas, combinado com tecnologias e mentalidades futuras. Ele tava colidindo esses dois mundos em todos os seus calçados. Ele é muito bom nisso. E para mim, esse é o melhor calçado que fizemos nos três anos que trabalhamos com o Raf Simons. Ele realmente acertou em cheio essa identidade porque, tirando tudo isso, ela é uma bota clássica. A referência é uma bota renascentista vitoriana em termos de forma e porte, mas você tem o nylon esportivo e essa peça muito louca no calcanhar de plástico injetado, que é um material usado mais no solado de chuteiras, e esse tipo de calçado.

Este tipo de molde é super caro, muito técnico, e o detalhamento na sola também. Isso, para mim, tem tanta informação interessante, e a execução foi feita tão bem. Mas quando se trata da construção, o mix de materiais e a tecnicidade da construção, como tudo isso é feito – eu sei como esse tipo de molde para esse tipo de sola é complexo, e é por isso que amo essa bota.

É uma mistura perfeita entre um calçado da era renascentista, início dos anos 1900, colidindo com as técnicas de engenharia modernas de 2030, técnicas de modelagem que não são necessariamente usadas neste tipo de produto. Na minha opinião, é um produto muito à frente de seu tempo porque é super futurista. Então esse é um dos meus produtos favoritos que Areté fez até hoje, com certeza.

Eu realmente gosto dessa bota Cycloid-4 porque é uma verdadeira fusão de tudo que os calçados do Raf aspiravam ser. É uma verdadeira fusão de eras e formas passadas, combinado com tecnologias e mentalidades futuras. Ele tava colidindo esses dois mundos em todos os seus calçados. Ele é muito bom nisso. E para mim, esse é o melhor calçado que fizemos nos três anos que trabalhamos com o Raf Simons. Ele realmente acertou em cheio essa identidade porque, tirando tudo isso, ela é uma bota clássica.”

Quais são os planos para a Areté no futuro?

myles Melhorar a forma como fazemos calçados. Agora temos um processo recalibrado, trabalhando como equipe para conseguir o melhor resultado. Também temos novos projetos que levam a gente pra novos espaços, design de roupas, design de acessórios, design de interiores e de objetos também. Com esses projetos, tô tentando abrir novas portas para nós, como estúdio, expandir a criação e fabricação de produtos além de calçados. Mas a fabricação ainda vai ser uma parte importante do nosso estúdio – para poder criar fisicamente as coisas que criamos.

É preciso muita coragem sair do seu trabalho e abrir sua própria empresa, que trabalha com algo tão difícil e complexo como calçados. Você tem algum conselho para quem deseja criar sua própria empresa e construir sua marca?

myles Você tem que aprender muito rápido, no sentido de que você não pode cometer o mesmo erro muitas vezes. Você vai cometê-los, e precisa fazer isso para aprender, evoluir e crescer. Mas você precisa ser gentil consigo mesmo durante os estágios iniciais da jornada, mas sempre colocando a régua lá em cima. É um equilíbrio complexo.

Você precisa de muita paciência e fé no processo. Nada acontece da noite para o dia, então você tem que realmente acreditar, passo a passo, que está fazendo a coisa certa. Eu vi um tweet de Steven Bartlett, do podcast Diary of a CEO, que dizia assim: quando você planta uma semente, você não fica constantemente desenterrado ela para ver se ela tá crescendo, certo? Você planta a semente, rega,  alimenta, nutre, cuida dela, coloca ela nos ambientes certos, e tem fé que você tá fazendo as coisas certas para que ela cresça e vire uma árvore ou o que quer que seja. Você não fica lá constantemente desenterrando a semente para ver se ela cresceu.

Tenha fé em si mesmo e no seu processo. Acredite no seu processo e se mantenha positivo.

Você tem que aprender muito rápido, no sentido de que você não pode cometer o mesmo erro muitas vezes. Você vai cometê-los, e precisa fazer isso para aprender, evoluir e crescer. Mas você precisa ser gentil consigo mesmo durante os estágios iniciais da jornada, mas sempre colocando a régua lá em cima. É um equilíbrio complexo.”

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