Michael Hesterberg Michael H.

Michael Hesterberg

Pyer Moss x<br />
Reebok Experiment G Pyer Moss x
Reebok Experiment G
10—08—2022 Fotos por: Kickstory
Michael Hesterberg
Entrevista Nº 183

A nossa última entrevista em Boston foi realmente especial e uma experiência única. Em uma entrevista incrível dentro do arquivo da Reebok, sentamos para conversar com Michael Hesterberg, Diretor de Design de Inovação da Reebok.

Michael está na Reebok desde 2016, onde trabalhou com várias coisas muito legais ao longo dos anos, desde corrida ao lifestyle, basquete, e até passou algum tempo na equipe de Advanced Concepts (da onde sai todos os tênis mais loucos da Reebok). Mas a história que ele escolheu contar foi sobre seu trabalho com Kerby no Pyer Moss x Reebok Experiment G.

O Michael não só nos convidou para conhecer os arquivos, mas também tirou algumas amostras originais e protótipos de alguns tênis que, do seu ponto de vista, representavam a essência do que ele gostava na marca. Ele apontou alguns dos tênis e elementos de design que usou como referência, que claramente estão presentes no Experimento G.

“Me chamo Michael Hesterberg, sou o Diretor de Design de Inovação da Reebok, e tô animado pra mostrar a vocês meu trabalho e um pouco sobre nossa marca.”

Para começar, vamos falar sobre seu interesse em design e como é trabalhar na área criativa. O que fez você querer criar tênis?

michael Eu sempre me interessei por objetos e sou apaixonado por criar coisas. Meu avô sempre comprava um tênis “de volta às aulas”, e tinha aqueles que eu não conseguia pagar, ou meus pais não compravam para mim. Então ele gastava dinheiro a mais para me dar uns tênis legais (risos). Foi assim que me interessei por tênis. 

No ensino médio eu trabalhava como vendedor na Champs Sports e eu adorava aprender sobre as diferentes propriedades de performance, e contar sobre os tênis para as pessoas comprarem. Um dia, meu chefe falou: “Quem será que desenhou esse tênis?.” E eu nunca pensei que isso fosse uma coisa que acontecesse, que tivesse alguém que fizesse tênis. Então, daquele momento em diante, eu falei “é isso que eu vou fazer”. Meu pai era pintor, minha mãe professora, e eu queria fazer algo em que pudesse trabalhar, ser criativo, ter uma renda estável e não ter que viver como artista na Carolina do Norte, que não é uma metrópole movimentada, é uma cidade de raízes agrícolas. Então comecei a pensar “para onde eu poderia ir? O que posso fazer que tenha design e arte?” Na época, essa área não era muito conhecida. Acho que aprendi sobre design industrial em um panfleto ou algo do tipo.

Eu queria entrar no mundo dos tênis e descobrir como eles eram feitos, e na época você não encontrava quase nada sobre isso na internet, diferente de como é hoje. Hoje, o Instagram é como se fosse um currículo, você pode ver tudo, você pode aprender qualquer coisa no YouTube, o que é muito legal. Mas quando eu comecei nesse ramo, não tinha um “mapa” de como chegar onde você queria ir, você tinha que descobrir sozinho. Teve um livro que encontrei chamado “Sole Provider”. Não me lembro quem era o autor, mas tinha alguns esboços de uns tênis da Nike e eu pensei comigo “nossa, então é assim que deveria ser”.

Entrei na NC State, que é uma escola de design industrial bem importante, na Carolina do Norte. Ela traz algumas origens da Bauhaus, mas não é muito conhecida. Estudei desenho industrial lá e mesmo assim, o tênis sempre foi algo que existiu fora do desenho industrial tradicional, e ao mesmo tempo, fora da moda também. Você pode ir para a faculdade de moda, ou para a faculdade de desenho industrial e aprender sobre calçados, mas nenhuma dessas disciplinas abrange tudo o que você precisa saber sobre como ser um designer de tênis. É a modelagem, as formas em 3D e a fabricação. É diferente como as pessoas se relacionam com essas coisas, tênis têm uma conexão emocional com o consumidor.

No ensino médio eu trabalhava como vendedor na Champs Sports e eu adorava aprender sobre as diferentes propriedades de performance, e contar sobre os tênis para as pessoas comprarem. Um dia, meu chefe falou: “Quem será que desenhou esse tênis?.” E eu nunca pensei que isso fosse uma coisa que acontecesse, que tivesse alguém que fizesse tênis. Então, daquele momento em diante, eu falei “é isso que eu vou fazer.””

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E como você aprendeu mais sobre tênis e como criá-lo? Você teve que fazer algum curso específico?

michael Eu só estudei muito. Quer dizer, é por isso que minha coleção de tênis é tão interessante, porque não tem uma tonelada de produtos hypados lá. A maioria são coisas que eu queria experimentar – qual é a sensação de usar este tênis, como funciona essa tecnologia, como é a construção desse tênis? Essas eram coisas que eu queria aprender. Então eu fui aprendendo, conversando com as pessoas, cortando tênis no meio, comprando amostras interessantes e usando todos eles. O meu interesse era nas coisas mais estranhas que eu conseguisse achar.

A maioria são coisas que eu queria experimentar – qual é a sensação de usar este tênis, como funciona essa tecnologia, como é a construção desse tênis? Essas eram coisas que eu queria aprender. Então eu fui aprendendo, conversando com as pessoas, cortando tênis no meio, comprando amostras interessantes e usando todos eles. O meu interesse era nas coisas mais estranhas que eu conseguisse achar.”

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Como começou sua carreira como designer?

michael Eu queria tanto desenhar tênis que em todos os meus projetos da escola, se eu pudesse fazer sobre tênis, eu fazia sobre tênis. E acho que as pessoas ficaram um pouco cansadas disso (risos). Mas eu não sabia se eu conseguiria ser designer de tênis porque não tinha nenhuma marca disso na Carolina do Norte e também, tentar encontrar um estágio não era fácil, principalmente vindo daquela escola. Mas eu tive muita sorte logo depois que me formei porque o homem que me contratou, tinha estudado na NC State e teve o mesmo professor que eu. Ele era um designer da adidas e tava na cidade para um evento de golfe em Pinehurst. Ele decidiu parar na escola porque precisava de um estagiário, e perguntou para o meu professor se ele tinha alguém para recomendar. Meu professor disse “o cara que sempre desenha tênis”.

Eu comecei na adidas golf como estagiário. Eles ainda estavam fazendo esboços à mão e refinando no aerógrafo. Eu tinha uma Cintiq (tablet de desenho) que eu comprei para fazer os meus trabalhos pessoais, levei para a empresa e isso meio que modernizou a forma como eles faziam desenhos para apresentação. Não sei como eu consegui o emprego, a real é que eu só desenhava muito, o tempo todo (risos).

Você se lembra do primeiro projeto que fez por lá?

michael Foi um chinelo pós-jogo. Eu só peguei os projetos que ninguém queria fazer, ou que ninguém tinha tempo para fazer. Eu também fiz alguns takedowns (versões mais simples e baratas de outros modelos); Eu fiz uma versão de golfe do Stan Smith, com as travas na sola e tudo, não foi muito difícil ou desafiador, eu só falei – ok, eu posso fazer isso, fácil.

E como você acabou chegando na Reebok?

michael Eu trabalhei na adidas por 10 anos. Basicamente, tudo correu o seu ciclo, eu estava começando de novo todas as coisas que eu já tinha feito. Fizemos o adidas Tour 360, trouxemos adiZero, Boost Golf e outras coisas. O golfe foi a segunda categoria que mais usou Boost em 2015 – primeiro foi a corrida e depois o golfe. Foi na época em que não se conseguia produzir boost na mesma quantidade em que fazem hoje, então as mesmas peças tiveram que ser alocadas para diferentes tênis. O primeiro tênis de golfe a ter boost foi na verdade uma peça do calcanhar que veio de um tênis de corrida, já que com a chegada do UltraBoost, eles não precisavam mais da forma para produzir essa peça. Então tivemos que pegar essa parte de boost que já tínhamos o molde, e modificar o resto do tênis para se encaixar nela.

Eu realmente me interessei por tecnologia e em como tornar os atletas melhores, e realmente me dediquei nos detalhes de como criar coisas. Mas, ao mesmo tempo, queria tentar algo novo, e eu realmente me interesso por tênis e a cultura de tênis. Mas eu não queria fazer apenas coisas para performance, eu queria fazer algo realmente expressivo. E o que eu fazia para a adidas era muito voltado para um jogador de golfe de 55 anos, não era muito a minha cara.

Então, em 2016, tive a oportunidade de vir para a Reebok para trabalhar com corrida de performance e, mais tarde, mudei para corrida lifestyle – trabalhei principalmente com Zig, e mais alguns outros produtos. Depois eu trabalhei com basquete e Advanced Concepts – todas as coisas ultra-secretas e legais. E porque eu trabalhei tanto com Advanced Concepts, quanto em moda lifestyle, eu tive a oportunidade de trabalhar no Experimento G. Foi uma das experiências mais legais que eu tive, porque foi um projeto que tinha um pouco de todas as coisas que eu gosto. É preciso ter muito conhecimento técnico de como fazer tênis, porque os prazos da moda são tão rápidos e agressivos que limitam o que você pode fazer no calçado. Mas por conta de todas as minhas experiências, eu aprendi a fazer muitas coisas e tive a oportunidade de fazer esse tênis. 

A Reebok é uma marca com uma história semelhante à adidas, não existem muitas marcas que tem toda essa herança que você pode resgatar. Poder trabalhar com uma marca que faz coisas legais por anos e anos é emocionante, é o que me mantém aqui fazendo coisas legais.

Poder trabalhar com uma marca que faz coisas legais por anos e anos é emocionante, é o que me mantém aqui fazendo coisas legais.”

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Para você, qual a diferença entre fazer um tênis de performance e um de lifestyle?

michael Para a maioria das empresas esportivas menores, acaba que são semelhantes. Por exemplo, para performance, suas considerações são sobre o atleta e como melhorar a sua experiência – é mais confortável? É mais leve? Melhorou sua capacidade de corrida? Protege de lesões? Nenhum desses questionamentos são usados ​​para moda. Você pode fazer coisas assim para a moda, mas o ponto de vista é sobre estética. É proporção, materiais, postura, construção, atitude. É um lugar muito emocional. Muito desse ponto de vista vem do designer e, neste caso, foi o Kerby Jean-Raymond da Pyer Moss. A estética é dele, é o que ele quer dizer. E eu tive a sorte de ser o lápis que criou a parte de calçado dessa história.

Muito desse ponto de vista vem do designer e, neste caso, foi o Kerby Jean-Raymond da Pyer Moss. A estética é dele, é o que ele quer dizer. E eu tive a sorte de ser o lápis que criou a parte de calçado dessa história.”

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E por que de todos os projetos que você já trabalhou, você escolheu falar sobre o Reebok x Pyer Moss Experiment G para sua entrevista no Kickistory?

michael Acho que é por isso, são todas as coisas que eu mais me interesso. Muitas vezes sou maximalista, quero fazer tudo em uma única coisa, e ter a oportunidade de trabalhar com alguém que também vê as coisas dessa maneira, que quer fazer algo deliberadamente diferente, é único. Muitas vezes, quando você trabalha com sportswear, você precisa que seja algo que apele para muitas pessoas, porque você quer que seja o melhor possível para todos. Mas na moda, você está mais interessado em contar histórias e em se destacar, certo? Então você precisa fazer coisas que são diferentes dos outros. E isso é muito divertido para mim.

Eu gosto de colocar correntes de ouro e hologramas nas coisas. O tecido enrugado, a maciez, não tem porque fazer essas coisas para roupas de sportswear ou para qualquer produto de performance, a menos que faça com que ele seja mais flexível. Não tinha nenhuma razão para fazer essa estética ondulada, mas fica bonito, parece o movimento e ondulações de um tecido. Então, para mim, foi uma rara oportunidade de experimentar todas essas coisas que me deixam tão animado. Trabalhar em Advanced Concepts, você está sempre tentando encontrar os mais novos materiais e métodos de fabricação para criar novidades. Todas essas coisas atrás da gente foram criadas por pessoas que procuram novas ideias, experiências, materiais e métodos de fabricação. Eu quero poder continuar isso, preencher o arquivo para quem for “eu” daqui 10, 15 ou 20 anos. É a junção de todas as minhas experiências e conhecimentos. Poder encher o tanque criativo de outras pessoas também faz parte do objetivo.

Trabalhar em Advanced Concepts, você está sempre tentando encontrar os mais novos materiais e métodos de fabricação para criar novidades. Todas essas coisas atrás da gente foram criadas por pessoas que procuram novas ideias, experiências, materiais e métodos de fabricação. Eu quero poder continuar isso, preencher o arquivo para quem for “eu” daqui 10, 15 ou 20 anos. É a junção de todas as minhas experiências e conhecimentos.”

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Este tênis é tão único. Qual é a história por trás do Experimento G?

michael Eu não sabia exatamente como seria a coleção, o que eu podia ver era limitado e ainda estava tomando forma. A gente tava criando objetos que iam tomar forma do que a coleção viesse a ser, mas ao mesmo tempo eu não tinha visibilidade do todo. Mas para esta coleção em particular, a gente queria altura, queríamos que fosse o tênis mais alto de todos os outros tênis que fizemos para a Pyer Moss. Além disso, ele estava explorando algumas ideias sobre espiritualidade – o que você também nunca faria em uma empresa de esportes – mas você pode fazer isso como designer de moda.

Eu tinha acabado de chegar de uma viagem de Barcelona, onde eu fui à La Sagrada Familia, que por sinal, é o lugar mais lindo do mundo, é simplesmente deslumbrante! Eu não sou uma pessoa religiosa, mas é um lugar espiritual. E quando vi as referências de design do Kerby, ele estava pensando em joias, realeza, auto-reflexão e auto-estima. Eu definitivamente trouxe muitas referências da minha experiência na La Sagrada.

Quando você olha para as vigas da igreja, tem esses orbes brilhantes e eu nem sei o que são, mas eu pensei – a gente pode fazer isso. As correntes também são uma referência à realeza. Por exemplo, essa joia no tênis vem de um vitral, é translúcido e parece uma joia. São coisas que acrescentei para embelezar essa história e trazer algo que não vem de mim, para criar esse tênis. E isso também foi outro desafio, ele não é super cheio de logos da Reebok.

Este efeito de tecido na parte superior é incrível. Qual foi a inspiração por trás disso e como você chegou nesse resultado?

michael O Kerby mostrou uma pintura de uma mulher envolta em um pano, e parecia algo muito religioso. Mas como você cria algo que parece drapeado? Eu queria que parecesse congelado no tempo, mas também macio, e tive que descobrir como fazer isso. A primeira coisa que fiz foi pegar um pano, soltar ele várias vezes e tirar fotos do movimento que formava no tecido quando caia no chão. Então, eu o esculpi em argila e digitalizamos em 3D.

Essa não foi a única maneira que eu tentei fazer isso. Eu também peguei essas formas e recriei em um software 3D, para que eu pudesse entregar isso para a fábrica e chegar nessa forma suave. Eu poderia passar horas desenhando todas essas seções, mas nunca ficaria tão natural. Tentamos a vácuo, mas não funcionou também. Então eu tive que criar um molde duro, para que a fábrica pudesse colocar um material sobre ele e fazer com que parecesse macio e drapeado. Mas como era para ser um tênis de moda, para um prazo muito apertado, como você faz isso rapidamente sem perder tempo?

Por causa do COVID esse tênis quase não rolou, e esse é só mais um motivo para eu querer falar sobre ele. O tênis foi apresentado na Semana de Moda de Paris. No espaço do Kerby, fiz um render em 3D para que pudessem visualizar o tênis. Então, eu comecei o tênis em 2019 e deveria ter saído em 2020, mas o COVID realmente fechou toda a indústria de tênis. Não podíamos fazer nada, não podíamos enviar nada, tudo ficou em espera e basicamente tivemos que começar o tênis inteiro do zero.

A primeira versão tinha uma sola diferente – mas foi legal fazer essa sola – inicialmente eu ia usar sola que já existia, mas por conta do atraso, tivemos tempo para fazer esse sola única. O Kerby não tinha feito produto de corrida ou inspirado em trilha, e também ainda não tinha usado nenhuma espuma mais premium nos seus tênis. Então, analisamos quais eram nossas opções para entressolas e tiramos essa da corrida. Usamos a entressola do Floatride Energy Symmetros, que é uma espuma de cápsulas.

Podemos ver que a sola tem padrões e texturas bem diferentes. De onde veio isso?

michael As texturas do calcanhar e da ponta do pé são referências da corrida, para que tudo tenha um pouco de conexão entre si. Além disso, isso é uma das referências que escondi no tênis. Eu faço um pouco de Yoga, e acho que é uma prática espiritual e consciente, e quando você junta os pés, o nome disso é “colocar os pés em oração”. Então eu queria que a sola fosse duas mãos, orando. Não sei, talvez seja um pouco demais, mas foi divertido, as pessoas podem descobrir esses detalhes. É por isso que o solado é dividido desta forma.

Também tem esse logotipo holográfico lenticular na sola – este padrão circular é algo das referências de design, era uma explosão radial de um logo do Frank Ocean ou algo do tipo. E então, tem também essa textura de solado de grama nesta área aqui. As formas podem não parecer congruentes, mas tem uma razão pela qual todas elas existem juntas.

Antes de ir para a faculdade, você já gostava de tênis. Você acha que sua relação com os tênis mudou desde que você começou a desenhar e trabalhar com isso?

michael Sim, definitivamente. Sempre gostei de coisas que fossem bem únicas. E acho que a indústria de tênis está de cabeça para baixo agora, em relação a isso. Virou uma commodity, todo mundo quer vender milhões e milhões de pares, e essas coisas têm que agradar muita gente. Mas muitas marcas não querem fazer coisas que não sabem se serão bem-sucedidas. Acho que esse é um aspecto.

O outro aspecto é que eu acho que a cultura mudou. O DJ Clark Kent veio aqui uma vez e estava falando como ele tinha que ir a lugares diferentes em Nova Iorque só para conseguir um tênis de uma cor diferente. Você não podia olhar na internet, você não podia usar um bot. Mesmo a BAPE, você tinha que trazer as coisas do Japão para ser único e diferente, e era difícil. Isso foi uma das coisas que a globalização matou.

Além disso, acho que é por isso que as pessoas também se interessam por coisas antigas, como brechós, coisas de segunda mão e revenda – elas querem ter algo único que ninguém mais vai ter. Você tem que procurar nos lugares que as outras pessoas não estão procurando.

Quais são as suas silhuetas de tênis favoritas do ponto de vista de um designer, e como consumidor?

michael Eu definitivamente tenho silhuetas favoritas. Às vezes me pego vestindo coisas mais simples do que gostaria de criar. Se estou praticando algum esporte, quero usar algo bem louco, quero usar algo que seja da mentalidade “me sinto bem, jogo bem”. Ter algo novo e chamativo é o que eu quero se vou jogar basquete, com certeza.

Quando você está criando um tênis, o que você espera que as pessoas tirem dele, o que espera que elas sintam? E o que chama sua atenção?

michael Meu sonho é que as pessoas se sintam tão inspiradas por isso quanto eu, quando eu comecei a me empolgar com tênis. É ver algum tênis e pensar “puta merda, isso é insano! Como eles fizeram isso?” Na real, no começo era mais uma resposta emocional, mas com o tempo passou para “como eles conseguiram fazer isso?”

À medida que minha idade e conhecimento aumentam, fico mais familiarizado com os processo de como se faz um tênis. Mas eu acho que a YEEZY está fazendo coisas que eu nunca vi antes. Essa é uma das coisas legais daquele time, por causa da escala desse negócio e dos consumidores, esse é um dos espaços onde as pessoas são realmente motivadas pela novidade. Então acontece muito o “eu gosto” ou “eu não gosto”, mas é definitivamente diferente. 

E quando falamos de retrôs, essa é uma conversa interessante por si só. Existe a pessoa que quer o OG idêntico ao original, e tem a pessoa que quer esse sentimento emocional, mas também quer aproveitar o tênis com a tecnologia de hoje em dia. E quanto isso muda? Isso estraga o produto? Um OG idêntico ao original, exatamente como foi feito em 1996, podemos torná-lo melhor? É um assunto realmente complicado.

Precisa ser exatamente o mesmo, quando poderia ser melhor? Você acha que o designer de 1996 acha que ficou exatamente do jeito que ele queria? O protótipo está bem aqui. Você acha que o Scott Hewitt ficou feliz com o que foi para o mercado? É uma conversa clássica para os “sneakernerds” (risos).

“Meu sonho é que as pessoas se sintam tão inspiradas por isso quanto eu, quando eu comecei a me empolgar com tênis.”

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Você pegou tênis dos arquivos da Reebok e podemos ver algumas referências de design presentes no Experimento G. Falando em design, que elementos tem neles que você gosta tanto?

michael Embora eles não sejam super cheios de logo, é uma memória coletiva da marca que eu retirei do arquivo. Já vi eles, já estudei ele, são coisas que me inspiram a criar coisas novas. E então, às vezes, eles aparecem em lugares inesperados ou esperados. 

Meu sentimento sobre o design de tênis é que ele existe no período em que os designers aprenderam a fazer design. Então, tudo antes dos anos 2000, é desenhado à mão e cortado, era todo o processo físico de fazer algo. E então, o período do final dos anos 90 é o AutoCAD, desenho auxiliado pelo computador, era tudo meio Ford Taurus. Ele tinha esses  faróis meio em forma bolha e o carro todo era arredondado. Foi como se os fabricantes de automóveis finalmente descobrissem como fazer chapas metálicas que não fossem quadradas, e eles usaram o desenho por computador para fazer isso. Então, tudo daquele período tem elipses, era tudo muito regido por elipses.

Nos anos 2000, foi quando os designers industriais, que até onde eu saiba, não era uma área que fazia isso, viraram designers de calçados. Muitos dos designers da Reebok das antigas eram pessoas locais de Massachusetts – talvez fossem da faculdade de arte Mass Art, ou interessados ​​em arte – eles não foram contratados profissionalmente através de uma escola de design de tênis. Mesmo o Mutiny, e definitivamente o Diamond Series, você pode dizer facilmente que foi feito por uma pessoa que estudou design industrial. Tem uma pegada de produto. Eu sempre acho que um designer industrial quer que tudo seja um ícone e eles querem que seu design seja um pictograma do objeto, o que eu realmente não gosto.

Embora eles não sejam super cheios de logo, é uma memória coletiva da marca que eu retirei do arquivo. Já vi eles, já estudei ele, são coisas que me inspiram a criar coisas novas.”

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O Reebok Mutiny é um dos meus favoritos. Provavelmente vem daquela era do Foamposite, meio Flightposite, essas coisas fortemente moldadas. Eu sempre amei esse porque tem a modelagem, a transparência, a modularidade e sempre achei legal o visual. Ele também tem a tubulação reflexiva que tem um pouco de brilho para quando você tiver correndo de noite – é um lance de segurança para os corredores, os tênis de corrida normalmente tem algum toque de refletivo neles. Essa é uma das características da linha DMX, é algo que que sempre reaparece, ressurge e evolui.

Sinto que tudo nos anos 2000 foi feito por designers de automóveis. Essa linguagem não se traduz muito bem em objetos 3D assimétricos como um tênis. O calçado original foi criado com base em um padrão, como de um sapato social tradicional, tipo um Blucher ou um Derby. O próprio Reebok Classic Leather, por mais que o painel lateral seja o nosso logo, parece um sapato social masculino, você quer colocar a melhor e mais forte peça do couro na bico do sapato, e as menos piores no meio e calcanhar. É uma referência bem das antigas. Você pega esse conhecimento, o conhecimento de designer industrial, processos de fabricação e agora está tudo se misturando no espaço criativo do Instagram, onde tem pessoas realmente fazendo pares únicos de tênis e também tendo acesso a esse conhecimento. Esse é o tipo de estética de agora – pessoas fazendo seus próprios sapatos e os imprimindo em 3D.

Pyer Moss x Reebok Experiment G
Dono: Michael Hesterberg
Ano: 2022
Fotos: Kickstory

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