Pedrita Junckes Pedrita

Pedrita Junckes

Air Jordan IV 'Starfish' Air Jordan IV 'Starfish'
29—10—2021 Fotos por: Julio Nery
Pedrita Junckes
Entrevista Nº 175

E fazendo estreia no nosso novo site, hoje vamos contar um pouco da história da Pedrita. Nascida em Itajaí, Santa Catarina e formada em design gráfico, hoje ela trabalha como fotógrafa e criativa, e já fez campanhas para marcas como Nike, adidas, Colcci e outras. Fomos até o seu estúdio, Flyz, para conversar sobre sua carreira e a influência que os tênis tiveram na sua vida. Falamos de alguns modelos que foram marcantes para ela, e como ela viu seu primeiro Etnies representado neste Air Jordan IV ‘Starfish’.

“Eu sou a Pedrita, tenho 33 anos e sou fotógrafa. Eu sou de Itajaí, Santa Catarina e moro em São Paulo há 9 anos. Eu vim pra cá com a ideia de trabalhar com fotografia e agora tô aqui, no meu estúdio no centro de São Paulo conversando com vocês. Ter o Flyz, meu estúdio, é uma conquista pra mim.”

Qual foi sua trajetória, como e quando você se interessou pela fotografia?

pedrita Eu me formei em design gráfico lá na minha cidade, em 2009. Eu fazia design para pizzarias, empresas do ramo imobiliário, marcas, construção civil e etc. Fiz muitos materiais impressos, revistas de decoração, lá o mercado era bem esse. Quando terminei a faculdade achei que essa seria a minha vida, que eu ia ficar para sempre na minha cidade fazendo isso. Eu tinha 20 anos, né.

Então eu fui atrás de um curso de inglês em Londres, fiz o esquema todo e fiquei 10 meses estudando lá. O curso era a manhã toda, das 9:00 às 12:00, e aproveitei também para fazer outros cursos, como um de comunicação em design e ilustração; fiz também de fotografia de retrato. E lá eu só fotografava com câmera analógica, já que era bem acessível, era £1 o filme e mais £1 pra revelar. Então eu fotografava o cotidiano, a minha vida lá, os amigos, as paisagens, diversão, de tudo. E aí teve um dia que um amigo meu que era fotógrafo, o Robson, falou “um amigo meu precisa de umas fotos e vídeos de making off de um clipe, vai lá e faz”. Eu fui e curti muito.

“Em 2010 eu voltei pro Brasil já pensando em não trabalhar mais com design gráfico porque eu ficava muitas horas na frente do computador, eu queria um trampo que eu pudesse viajar, um trabalho que pudesse ser em qualquer lugar do mundo. Então quando voltei para Itajaí eu falei com meu contato na Colcci, mostrei essas fotos e vídeos, eles curtiram, e eu comecei a fazer esse tipo de material de making off para eles. Na época a Colcci fez grandes produções, tipo em Los Angeles com o Steven Klein, e eles me levaram pra fazer esses materiais de making off.”

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Em 2010 eu voltei pro Brasil já pensando em não trabalhar mais com design gráfico porque eu ficava muitas horas na frente do computador, eu queria um trampo que eu pudesse viajar, um trabalho que pudesse ser em qualquer lugar do mundo. Então quando voltei para Itajaí eu falei com meu contato na Colcci, mostrei essas fotos e vídeos, eles curtiram, e eu comecei a fazer esse tipo de material de making off para eles. Na época a Colcci fez grandes produções, tipo em Los Angeles com o Steven Klein, e eles me levaram pra fazer esses materiais de making off. Vi grandes fotógrafos e grandes nomes no mercado de moda trabalhando. Percebi na hora que era isso mesmo que eu queria fazer, eu queria ser fotógrafa.

Na época, a gente aproveitava a viagem e eu fazia também alguns editoriais para a revista deles, a Colcci Mag. Então fui pra Los Angeles, Buenos Aires, fui vários anos seguidos pra Nova Iorque, foi muito bom. Tudo isso que aconteceu comigo foi muito com a confiança de outras pessoas no meu trabalho e muita mão na massa também. Eu tava sempre correndo atrás para aprender.

E então, em 2012 vim morar em São Paulo. Nesse meio tempo eu conheci o Dando da Way Model e o irmão dele, Fabio Bartelt, que é fotógrafo, e aí fiquei 2 anos e meio, de 2012 até 2015, trabalhando como assistente dele. Ele tinha 3 assistentes – o primeiro e o segundo foram saindo, e aí eu fiquei um ano como a primeira assistente – eu cuidava de todos os detalhes, e aprendi muito, muito de como funciona o mercado. O Fábio trabalhava com grandes empresas, revistas, ele fazia muita capa de Elle, Vogue, e aí eu conheci como tudo funciona – assim, naquela época, né? Porque o mercado de 10 anos atrás é bem diferente do de agora. Ainda bem, na verdade.

Ao mesmo tempo, eu continuei com os editoriais pra Colcci, pra Coca-cola Jeans. Então eu era assistente mas também tentei continuar o meu trabalho como dava, com os meus clientes.

Fiquei dois anos e meio como assistente, e uma hora senti que eu não estava mais somando, eu tava só entregando e entregando, não tinha mais desafio. E eu precisava de um choque, eu não gosto de ficar acomodada. Ao mesmo tempo que nos meus 20 anos eu pensei “meu Deus, fudeu minha vida, terminei a faculdade, moro em Itajaí”, eu nunca tinha ido pra fora, o mercado ali já não tinha tanta oportunidade, eu dei um jeito de mudar a minha situação. Então, quando eu estava muito confortável sendo assistente, percebi que era a hora de mudar.

Além disso, eu ficava chateada porque eu chegava em casa depois de uma diária e não tinha nada pra chamar de meu. Era muito trabalho mas eu curtia demais ser assistente, eu tive várias experiências, fui em grandes produções, e eu sendo pequena, participando, sabendo como funcionava tudo, era ótimo. E eu não tinha nenhuma responsabilidade, né? Claro, eu tinha que cuidar dos equipamentos, transporte, mas eu já tava administrando tudo muito bem. Porém, no final do dia, eu passava por tudo aquilo mas não tinha nenhum poder de decisão. Então achei que tava na hora de botar a cara a tapa.

“Tenho total consciência que tudo isso que to vivendo hoje, só foi possível graças a esses clientes que investiram e continuam investindo no meu trabalho. E é um investimento – quando você contrata um profissional, você não tá comprando só a entrega. Você concorda com essa pessoa, com os valores dela, o lifestyle, com tudo.  Então quando o cliente me chama, eu quero dar o melhor pra ele dentro do que ele precisa, e dentro do que eu gosto também.”

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E nessa época você produzia mais campanhas ou lookbooks?

pedrita Eu fazia os dois. Lookbook é algo que eu faço com o maior carinho, mesmo que hoje em dia eu faça poucos. Mas pra esses clientes que estão comigo desde o começo eu faço com o maior gosto. Tem o Tex Cotton lá de Blumenau, duas vezes por ano, todo ano, que eu vou lá e passo uns 10 dias fotografando pra eles. E é lookbook mesmo, com muitos looks por dia, e eu faço sorrindo. A Colcci também, eles conseguem o que querem comigo, eu sempre tento ajudar do jeito que consigo. Faço isso com o maior orgulho.

Tenho total consciência que tudo isso que to vivendo hoje, só foi possível graças a esses clientes que investiram e continuam investindo no meu trabalho. E é um investimento – quando você contrata um profissional, você não tá comprando só a entrega. Você concorda com essa pessoa, com os valores dela, o lifestyle, com tudo.  Então quando o cliente me chama, eu quero dar o melhor pra ele dentro do que ele precisa, e dentro do que eu gosto também.

Ele tem várias opções boas no mercado pra escolher, então se ele chegou até mim, eu preciso dar o meu melhor. 

O que você aprendeu de mais importante nesses anos trabalhando com moda?

pedrita Eu sou fotógrafa, entendo de luz e também sou formada em design gráfico – eu uso esse meu background para o trabalho. Então eu sempre tenho em mente que existe uma entrega, que o cliente tem um produto pra ser vendido. Entendo que têm várias pessoas tomando decisões na mesma empresa – tem o marketing, o setor de compras, têm as pessoas com a cabeça mais aberta e querem transformar, têm outros que são mais apegados, mais tradicionais – e eu tô procurando o meio-de-campo porque eu vou fazer a imagem disso tudo pra vender, e eu quero que venda. 

Tudo é um processo. Pra chegar no produto final que eu tô fotografando, o cliente viajou, fez pesquisas, comprou peça piloto, foi pra uma modelagem, fez pesquisa de tecido, de costura, de linha, da estampa… tem muito trabalho, suor e energia naquela peça que tá sendo fotografada, então tem que valorizar. Se a imagem que o cliente busca não é exatamente a imagem do meu trabalho autoral, eu não me importo, eu quero realmente que ele veja que a imagem tá valorizando o produto dele, que a unidade do meu trabalho tem atitude, e não só estética. Eu não uso sempre a mesma luz, efeito, ou colorimetria. Eu quero juntar todas as peças do quebra-cabeças, todas as expectativas e entregar o que dá pra fazer de melhor.

Tivemos, e ainda estamos vivendo, um ano e meio muito complicado por conta do COVID, que trouxe muitos desafios e mudanças na vida de todo mundo. Como a pandemia afetou o seu trabalho?

pedrita Eu quero ser mais artista, mas a minha visão de artista não é de ficar sozinho no ateliê bebendo ou pirando… Pra mim, artista é tipo cientista, sabe? Tentar várias coisas diferentes, fotografar o mesmo objeto de vários ângulos diferentes, com luzes e props diferentes, fazer intervenções, é você acreditar todos os dias, numa ideia, foto, alguma coisa, e pesquisar muito. Essa é minha ideia de artista.

E aí na pandemia eu fiquei muito travada, com um bloqueio criativo gigante. Eu não consegui fazer nada porque estava estressada demais pra fazer, criar alguma coisa. Essa pandemia foi um choque, acho que a gente esperava muito de 2020. É um ano bonito né: vinte vinte. E querendo ou não, os trabalhos de 2019 tavam voando, veio todo esse negócio e fiquei 5 meses sem fazer uma foto. Eu não tava acostumada a ficar sem trabalhar e eu também tava confusa demais pra aprender a fazer um pão natural (risos). No final eu tirei mesmo um tempo pra mim. A gente assistiu todo o “Naruto” e “Shippuden”, a gente viu várias vezes “O Poderoso Chefão” e os clássicos filmes de máfia (risos).

Repensei muita coisa porque eu estava no automático só entregando e entregando. Eu ia começar a reforma aqui no estúdio e parou, por conta da pandemia. E aí ressignifiquei várias coisas, do tipo, como usar o meu tempo, de como eu vou investir, como seria o espaço do Flyz e etc. Antes pensava mais em ser empreendedora, do estúdio ser uma empresa. Mas graças à pandemia eu tô com muitas ideias voltadas à criatividade, pesquisa e colaboração com outros artistas. Agora eu tô com a ideia de ser menor, fazer mais collabs e trabalhar nos projetos com mais tempo.

E aí na pandemia eu fiquei muito travada, com um bloqueio criativo gigante. Eu não consegui fazer nada porque estava estressada demais pra fazer, criar alguma coisa. Essa pandemia foi um choque, acho que a gente esperava muito de 2020.”

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O que eu pretendo fazer com ele, além de alugar pra fotografia ou casting, é fazer um grupo de estudos com fotógrafas meninas e fazer workshops, e ter exposição de outros artistas. Chamar alguém como se fosse uma residência, “esse mês vamos trabalhar juntos e no final vamos bolar uma exposição”, ou trabalhar pra uma marca.”

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E hoje estamos aqui fazendo as fotos no seu estúdio. Qual é a sua proposta para a Flyz?

Ai, eu adorei porque foram as primeiras fotos do estúdio! A Flyz é um espaço multiversátil, híbrido, aqui no centro de São Paulo. Na parte da frente é um espaço vazio que dá pra fazer um estúdio pequeno, eficiente e prático. Já na parte de trás é o meu escritório. O que eu pretendo fazer com ele, além de alugar pra fotografia ou casting, é fazer um grupo de estudos com fotógrafas meninas e fazer workshops, e ter exposição de outros artistas. Chamar alguém como se fosse uma residência, “esse mês vamos trabalhar juntos e no final vamos bolar uma exposição”, ou trabalhar pra uma marca.

Por exemplo, eu sou apaixonada pela marca da Camila, a Suí. A gente tava planejando trabalhar numa coleção juntos, fazer a campanha e abrir uma pop-up store aqui em um final de semana. Então é isso, quero casar e juntar as coisas. Tem o treino da Mad Killa Crew aqui toda terça, quarta e sexta na parte da noite, e quando a pandemia melhorar queremos fazer uma vez por mês um “Flyz e Mad Killa Convida”, chamando outros Crews para treinarem juntos.

E nesse meio tempo fazer várias fotos e projetos autorais, poder tirar uma ou duas semanas pra fazer retratos de pessoas aqui em volta. Realmente parar pessoas na rua, “ou, posso fazer uma foto sua? Vem aqui”. Eu tenho muita expectativa aqui. Por enquanto eu tô só arrumando as coisas, enquanto a pandemia ainda tá rolando, mas se pá em 2022 eu vou fazer uma reinauguração de 10 anos de Flyz. São muitas ideias pro estúdio, mas eu quero fazer aos poucos e sem muita pressa ou ansiedade, como tava antes.

Agora vejo que eu não preciso mais esperar um cliente ou alguém pra fazer o projeto rolar, sabe? Dá pra fazer no meu tempo, mais devagar. E acho que eu já entreguei tudo o que eu queria. Já fiz bastante coisa, já viajei bastante, já conquistei esse espaço, então agora é outra fase mais de colaboração, de juntar.

Você lembra quando começou a sua paixão por tênis? Quando foi aquele momento que você viu um par e deu aquele “clique” especial?

pedrita Um tênis que eu tive muito carinho foi um Qix, que até teve um relançamento de 20 anos. Num treino do Mad Killas aqui, veio a Donna e eu olhei pro tênis dela e falei: “nossa! Eu tive esse tênis aí, mas assim, muito tempo atrás”. Eu fiquei com vergonha de falar pra ela que era uns 20 anos atrás porque eu andava de skate com 13 anos, e agora eu tenho 33. Ela tem 19. Ela não tinha nem nascido quando eu tive esse tênis. Aí ela: “é, ano passado lançou 20 anos de comemoração desse tênis”. Eu falei “caralho! Vinte anos desse tênis” (risos). O meu era laranja, e o dela todo preto. Além deste, nos meus 13 anos eu tive a Mary Jane gordinho que foi muito legal. Foi bem na época do Drop Dead, eu tive uma camiseta que eu usei até se desfazer (risos).

E aí, com 16 anos comecei a trabalhar, fazer faculdade – eu tava um ano adiantada, por isso que entrei cedo na faculdade –, e aí parei de andar de skate. Mas como eu tava trabalhando, eu consegui comprar um Etnies, que inclusive, é parecido com esse Jordan. O Etnies foi o meu primeiro tênis caro, custou a metade do meu salário.

Eu lembro também que eu queria muito ter tido aquele Reebok preto meio botinha com os dois velcrinhos, sabe? Eu lembro que foi um tênis que eu olhei com muito carinho. Eu nunca tive ele, mas hoje em dia acho que compraria um.

E por que você escolheu o seu Air Jordan IV 'Starfish' para o Kickstory?

Esse é o meu primeiro Air Jordan. Estou sendo influenciada pelo Branco, lança um tênis foda e ele “você tem que ter, você tem que ter!” e eu “calma! Não dá”, não dou conta (risos). Eu comprei esse ano – vi, gostei e consegui comprar. É que tem essa, também, né? Tem que conseguir comprar (risos). E como eu já tinha falado, eu amo ele porque me lembra muito o Etnies que eu tive, além de ser muito confortável e style.

Eu gosto do calcanhar dele, que é bem estruturado, bem bonito. E ele combina com muitas coisas, tipo eu tô com uma calça social e fica daora, coloco uma calça cargo e fica legal, se eu colocar uma saia, ele fica com uma presença. Esse é um tênis de presença.

E além desse Jordan IV, qual outra silhueta você curte bastante?

pedrita Eu uso muito o Nike Air Force todo preto também, já cheguei a ter quatro iguais. De 2012 até 2017 eu só vestia preto, tudo. Todo o meu armário era preto. E eu só usava Air Force preto, eu literalmente só tinha esse tênis. Mas era mais por uma questão que eu trabalhava com moda e eu ficava pensando: “meu Deus, eles vão descobrir que eu não sou fashionista”. Eu tava um pouco com aquela síndrome de impostora, sabe? Então eu me vestia de preto, tênis preto, cabelo amarrado, sempre igual, básica, com uma jaqueta, para passar despercebida mesmo…esse mercado é bem doido. Mas de 2018 pra cá eu comecei a inserir mais cores e aí veio o Air Force branco. Eu não tinha nenhum tênis branco, ganhei um AF branco de natal, muito bonito, e fui me acostumando.

Hoje eu me visto de uma maneira básica, confortável, que eu me sinta bem, mas eu não faço combinações mirabolantes. Tive também aquele Puma da Rihanna de plataforma, foi o primeiro que eu usei depois do Air Force, ele era todo preto também, eu usei ele até “acabar”. E tenho também o Air Force Shadow.

Como você vê a sua relação com tênis no geral?

pedrita Olha, tênis é tentador. Eu gosto de pegar um e usar até o fim, e vou segurando do jeito que dá. Mas sempre quando vamos ao shopping, a gente fica namorando as vitrines, namorando os tênis. É gostoso demais, sabe, pegar um par e um kit de meias pra combinar. Tênis, faz parte, soma na sua personalidade.

Eu gosto de estar pronta pra tudo: se eu precisar sair correndo, subir agora no telhado, ou se eu precisar andar de skate – eu consigo resolver tudo usando o tênis. Se tô aqui fotografando mas quero comprar um tecido pra fazer um fundo, eu vou rapidão na Santa Ifigênia, depois resolvo um negócio de elétrica, aí vou lá na 25, volto pra cá, e o tênis me acompanha muito bem em tudo isso.

Agora que eu tô prestando atenção que eu era meio preguiçosa…quatro Air Forces pretos? Eu poderia ter escolhido outros modelos, mas eu comprava o mesmo (risos).

Air Jordan IV ‘Starfish’
Dona: Pedrita
Ano: 2021
Fotos: Julio Nery

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