Vitor Costa Vitor C.

Vitor Costa

Sanjo BSK33 Sanjo BSK33
07—03—2024 Fotos: Kickstory
Vitor Costa
Entrevista Nº 195

Para a nossa primeira entrevista em Portugal, na cidade do Porto, falamos com o Vitor Costa, que trabalha na indústria de calçados há dez anos, e hoje ele é diretor criativo e head de produto e design da Sanjo, uma marca de calçados portuguesa com 90 anos de história, mas que hoje traz modernidade, muito bom gosto e qualidade para os seus tênis. Dentro da marca ele tem uma papel 360º, onde cuida do criativo da marca, controlando a imagem, editoriais de moda e a linguagem da marca. Ele contou da importância da narrativa da marca e como a Sanjo está inovando a cultura portuguesa.

Para a sua entrevista ele destacou o BSK 33, um tênis que carrega muito da essência e tradição da marca, e que traz materiais de altíssima qualidade em uma execução impecável. Se estiver atrás de um tênis realmente único e especial em Portugal, não deixe de conhecer os tênis da Sanjo.

“Meu nome é Vitor Costa e trabalho na indústria de calçados há dez anos. Estudei design de moda, design gráfico também, mas o que me inquietava mais eram os tênis, pois sempre fizeram parte do meu imaginário. No início era muito aquele universo de ver nos videoclipes ou então na moda.

Fiz um curso bem técnico de calçados na Academia de Design e sempre procurei ir atrás dos tênis. Trabalhei em uma marca de botas, até tentei continuar nesse universo, mas não fluiu tão bem. E aí veio a Sanjo no momento certo – eu estava começando a trabalhar como freelancer e a fazer projetos com algumas marcas. 

Hoje na Sanjo eu faço uma cobertura 360º da marca, controlo a imagem e toda a parte criativa, até linguagens editoriais. Isso dá mais força ao meu trabalho, porque o que entrego tem mais harmonia. Eu acho que é fácil para uma pessoa com base de design entregar um bom produto, mas ter essa consistência de fazer as coleções e elas estarem em harmonia no mesmo espaço, numa mesma linguagem, é mais difícil.”

Portugal é uma potência muito grande na indústria dos calçados e vestuário. Como você acha que o país te moldou como um criativo?

vitor Eu vivia relativamente perto das indústrias, apesar da minha família não trabalhar nem na indústria de calçado, nem na de moda. Eu cresci vendo as coisas acontecendo muito de perto, em fábricas de amigos. Eu sempre falo que Portugal podia ser um viveiro de convergência à cultura sneaker.

Eu lembro que em 2000, tinha marcas de sneaker premium, como a Filling Pieces, que eram produzidos em Portugal. Também produzia marcas holandesas e eu me questionava: como é que tantas marcas holandesas, um país tão pequeno, e que não tinha a cultura de sneakers como os Estados Unidos, conseguiram fazer coisas grandiosas? Esse pra mim é o gap entre os países europeus que produzem aqui, e Portugal.

Eu vivia relativamente perto das indústrias, apesar da minha família não trabalhar nem na indústria de calçado, nem na de moda. Eu cresci vendo as coisas acontecendo muito de perto, em fábricas de amigos. Eu sempre falo que Portugal podia ser um viveiro de convergência à cultura sneaker.”

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Como você se interessou por design e entrou nesse universo criativo?

vitor Alguns anos atrás, lembro de ir a um show na época da banda Mind the Gap, um trio aqui do norte de Hip-Hop. Eu ainda não tinha conexão com o hip hop, era adolescente, sentia que ainda não tinha identidade. Mas lembro que observava como a banda era, a forma de se vestir, usando os Air Force 1 e umas botas da ACG, e aquilo me impactou. Esse foi um momento de virada.

Depois, com as festas, com design gráfico, tive vários estímulos. Tem pessoas que sempre tiveram estímulos criativos de desenhar, de fazer coisas. Confesso que pra mim, vieram depois. Percebi o que eu queria desse universo.

Você lembra quando começou a sua paixão por tênis? Quando foi aquele momento que você viu um par e deu aquele “clique” especial?

vitor Antigamente não existiam muitos tênis casuais, de lifestyle, eram mais de performance. O primeiro que me lembro foram uns Nike Up tempo e uns Reebok. Não sei definir o modelo, mas tenho uma foto de criança com eles e particularmente gosto dessa foto porque estava com aqueles tênis. Mas quando comecei a me interessar mesmo, foi no momento dos Air Force 1, das Timberlands. Depois com as colaborações de marcas de luxo como a Louis Vuitton, e Kanye West. O universo do luxo cruzando com o universo do esporte e da performance, foi um momento muito legal.

E o interessante foi que nesse mesmo momento, eu senti que deveria seguir carreira com calçados. Estudava design gráfico na época, e essas formações de design de tênis não existiam em Portugal, nem na Europa. Achei um curso na Itália mas era muito daquele universo calçadista de botas e sapatos clássicos. 

Eu lembro que as fábricas de calçados eram bem “chatas”, eles fabricavam sapatos pretos e castanhos, em quantidades muito grandes. Mas com a primeira crise, a premissa começou a mudar. Começamos a ver produções menores, mais controladas, mais sustentáveis, com mais opções de cores. Começou a ser mais estimulante para mim estar dentro de uma fábrica, porque no início era muito difícil.

Na minha trajetória, senti que eu sabia exatamente o que queria fazer, quais eram os drivers e que eu teria que esperar pelo momento certo. Não consegui explorar tudo de imediato, mas, fiz aquilo que eu acreditava.

Eu lembro que as fábricas de calçados eram bem ‘chatas’, eles fabricavam sapatos pretos e castanhos, em quantidades muito grandes. Mas com a primeira crise, a premissa começou a mudar. Começamos a ver produções menores, mais controladas, mais sustentáveis, com mais opções de cores. Começou a ser mais estimulante para mim estar dentro de uma fábrica, porque no início era muito difícil.”

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Conta para a gente um resumo da história da Sanjo?

vitor A Sanjo é uma marca que nasceu em 1933. O que me atraiu mais na marca foi ter essa herança verdadeira e não algo construído, ou hype do momento. Ela tem um patrimônio, um histórico grande, tem 90 anos. No meu ver, a Sanjo foi muito cool quando teve protecionismo do Estado Novo. Vivíamos numa ditadura, mas a partir do momento que Portugal se tornou um país democrático, a Sanjo faliu.

É um desafio muito grande para mim, trazer a Sanjo de volta a Portugal. Eu digo muitas vezes, em tom de brincadeira, que a Sanjo é um velhinho com 90 anos que foi super maltratado, que agora está sendo bem cuidado novamente. Eu faço muito esse paralelismo porque é isso que eu sinto…e o desafio está sendo incrível porque consigo fazer aquilo que acredito que muitas vezes não é fácil.

A Sanjo é uma marca que nasceu em 1933. O que me atraiu mais na marca foi ter essa herança verdadeira e não algo construído, ou hype do momento. Ela tem um patrimônio, um histórico grande, tem 90 anos. No meu ver, a Sanjo foi muito cool quando teve protecionismo do Estado Novo. Vivíamos numa ditadura, mas a partir do momento que Portugal se tornou um país democrático, a Sanjo faliu.”

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Hoje em dia, qual é o seu papel na marca?

vitor Eu faço toda a parte criativa, como editoriais de moda e a linguagem da marca. Para mim, a narrativa é a parte mais importante na Sanjo e em qualquer marca. Eu gosto de produtos, gosto de lojas, gosto de sentir as peças, mas acho que a narrativa é muito interessante. Eu trouxe os drivers para a Sanjo, e sinto que ela inova a cultura portuguesa: ela está no esporte, começa a estar nos videoclipes com a categoria de lifestyle.

As pessoas viam Sanjo como uma marca antiga, “marca de pai”, então a gente tinha uma certa rejeição do público mais jovem. Então estamos modernizando a marca para mudar essa visão e como a mensagem do produto chega aos nossos clientes.

Por exemplo, alguns jovens já andavam de skate usando Sanjo, que foi uma coisa muito curiosa. Então criamos uma equipe de skate, com a ajuda de uma magazine chamada Surge, que eu costumo dizer que é a Trasher portuguesa. Financiamos algumas viagens, campeonatos, e os próprios skatistas nos desafiaram a lançar um produto. Foi assim que nasceu o Teste, que é precisamente isso. Não queria que tivesse a pretensão de ser um produto de performance, queria que fosse um produto casual que os jovens andassem de skate, e dar a possibilidade aos jovens da equipe de intervir no par, e nos falar como melhorar o tênis.

Fizemos duas ativações, uma no Porto e uma em Lisboa, e foi incrível. Lá senti que tava todo mundo, que era uma comunidade séria – estavam os Prós, os velhos, os novos, os junkies, conseguimos ter essa convergência entre os dois universos dos tênis e do skate. Essa nova narrativa é das coisas mais bonitas que eu sinto que trouxemos para a Sanjo.

O que você enxerga como o futuro da Sanjo?

vitor Sanjo é democrático. Ao contrário de como era antes, que era imposto, onde você tinha que jogar futebol com esse tênis, tinha que ir para o exército com esse tênis – tem inúmeras fotos do exército com Sanjo. Mas eu queria que fosse democrático, que as pessoas quisessem ter Sanjo. É um exercício. E depois, quero tornar a marca global. Sinto que em Portugal ela está nos canais certos, já fizemos mais de dez colaborações com marcas de moda, com drivers que acredito: Alexandra Moura, PlayStation, La Paz, Wolf & Rita com nossos tênis infantis, e entre outros.

Esse universo de colaborar com pessoas e termos um guarda-chuva maior de produtos, nos protege. Sinto que a Sanjo, apesar de ter 90 anos, que deveria ser uma marca mais conservadora, está fazendo esse papel em Portugal quase sozinha. A Sanjo tem essa ousadia, desde o seu início.

A Sanjo também era muito presente no basquete aqui de Portugal, certo?

vitor Sim, temos alguns arquivos históricos. Cheguei a ouvir histórias de trocarem tênis Sanjo por jogadores nas transferências de jogadores, ou seja, eles calçavam orgulhosamente todos os clubes locais. 

No fundo, meu desejo é que os tênis saltem para a rua, para o casual, quero estar em Berlim ou em Paris e ver gente de Sanjo. Já começo a ver isso em algumas cidades, sobretudo aqui em Lisboa e Porto, mas sinto que Madri e Barcelona estão crescendo também e é muito incrível ver, e participar de todo o processo.

Sinto que a Sanjo, no fundo, está nos espaços onde sempre teve. No basquete, com outra abordagem criativa, com outros cuidados. Na época, se beneficiavam de um protecionismo, só existia aquilo. Mas hoje há muitas opções e isso dá muito prazer, porque as pessoas escolhem ter o tênis de forma democrática e não obrigatório. Quero que as pessoas usem Sanjo porque gostam.

Sinto que a Sanjo, no fundo, está nos espaços onde sempre teve. No basquete, com outra abordagem criativa, com outros cuidados. Na época, se beneficiavam de um protecionismo, só existia aquilo. Mas hoje há muitas opções e isso dá muito prazer, porque as pessoas escolhem ter o tênis de forma democrática e não obrigatório. Quero que as pessoas usem Sanjo porque gostam.”

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Esperamos ver Sanjo nas ruas brasileiras também!

vitor Sim. Conheço bastante pessoas, que trabalham sobretudo no marketing, e falam muito que a Sanjo no Brasil poderia funcionar sim. Já temos distribuidora em Israel, Itália, França e as coisas naturalmente vão crescendo, uma hora vai chegar ao Brasil.

Porque de todos os modelos da Sanjo, você escolheu falar do BSK33 para o seu Kickstory?

vitor Escolhi esse tênis porque sinto que é algo novo na Sanjo. É um modelo mais conservador e ao mesmo tempo contemporâneo numa cápsula. Este, em termos de narrativa, fez o match perfeito. Fizemos uma produção controlada, muito pequena no início, mas depois tivemos três repetições. Só vendemos em seis lojas, sendo uma delas a Latte, em Lisboa, que é uma loja referência, e na 4Elementos, na Espanha, que também é uma loja referência.

Sobre esse tênis com as anotações, eu gosto muito desta história. Eu curto muito suede, camurça, e de color blocks. Tento sempre fazer o match de suede com outros materiais porque ele dá esse ar mais vintage e contemporâneo, mas também, tentei usar soft leather. Quero que sintam que é um tênis que veio dos anos 70 e 80, mesmo sendo um tênis de 1933.

Há algumas coisas que eu tentei trazer para o par. Esses quatro furinhos acho que ninguém repara, mas são quatro furos que aparecem na Sanjo. A caixa faz o match precisamente com esse colorway do universo do basquete. Os detalhes das labels, trouxemos tudo do arquivo. Também fiz a etiqueta com esta imagem dos anos 80. Toda a narrativa é bem amarrada.

Sanjo BSK33 Low
Dono: Vitor Costa
Ano: 2023
Fotos: Kickstory

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