Jeff Staple Jeff S.

Jeff Staple

Air Jordan III 'Black Cement' Air Jordan III 'Black Cement'
13—12—2019 Fotos por: Kickstory (Ian Homem de Mello)
Jeff Staple
Entrevista Nº 156

De todas as 155 entrevistas que fizemos até agora, essa definitivamente é uma das nossas favoritas – e isso por que nós tivemos a incrível oportunidade de sentar com Jeff Staple.

Durante nossa viagem à NY, Jeff nos convidoua seu escritório, para sentar e conversar sobre alguns dos seus projetos, o começo da Staple, sobre o tênis que tudo começou para ele, e até da onde surgiu a idéia da pomba.

Ele é designer, dono da Staple Design Studio e Staple pigeon, fundador da Reed Space, diretor criativo da Extra Butter, locutor de seu próprio podcast, The Business of Hype, e o homem responsável por inúmeras colaborações absurdas e icónicas.

Confira algumas das historias incríveis que ele nos compartilhou na sua entrevista, abaixo.

Nós queremos agradecer muito o Jeff por ser tão gentil e ter o tempo de sentar com a gente para essa entrevista, e também, a todo o pessoal do escritório por serem tão legais com a gente.

“E aí, eu sou o Jeff Staple, estamos na cidade de Nova Iorque, onde eu moro a maior parte do tempo. Eu sou o fundador da Staple, que é uma linha de roupas chamada Staple Pigeon e é também, um estúdio de design e agência criativa chamada Staple Design Studio. Também sou fundador de uma loja pioneira chamada Reed Space e me tornei o diretor criativo de outra loja chamada Extra Butter. Eu também tenho um podcast chamado Business Of Hype no Hypebeast Radio, e é basicamente isso.”

“Ele me perguntou se eu conseguiria fazer 12 e eu disse: “Claro, eu consigo fazer 12”. E eu ainda tinha que invadir a escola, fazer as 12 camisetas e levar de volta para ele. Essa foi a primeira vez que a Staple foi de fato um negócio, com um pedido de 12 camisetas.”

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Então, como você começou sua marca?

JeffEu comecei minha marca há muito tempo atrás, em 1996. Eu estudava na Parsons School of Design e era um designer gráfico. Eu não curtia muito design de moda e essas coisas, o meu interesse era em design gráfico e branding e na verdade, eu só queria colocar as minhas ideias e as minhas artes em camisetas, ao invés de no papel. Foi assim que eu realmente comecei. Nós tínhamos aula de silkscreen e eu aprendi a silkar no papel – mas eu queria mudar para camisetas – e alguns dos meus primeiros silkscreens da escola estão alí em cima. E é engraçado porque, na real, a escola não permitia impressão em camisetas, eles só permitiam impressão em papel, eles haviam banido a impressão em camisetas. Então eu e meu amigo tínhamos que invadir o estúdio de silk screen e usar o maquinário para camisetas.

Todos os dias a gente deixava uma janela aberta na sala de silk screen e depois da escola a gente voltava e pulava a janela com umas camisetas lisas brancas e fazíamos camisetas a noite inteira. Nós estávamos fazendo para dar para outros alunos, não havia intenção do tipo “vamos criar uma marca!” Não, era só “Eu fiz 12 camisetas e eu vou dar elas para os meus amigos, assim eles poderão usar as minhas estampas”. Eu sempre achei que isso era muito mais legal do que só dar 12 pôsteres para as pessoas, que só iam ficar pendurado no quarto delas, e ninguém nunca mais iria ver. Eu achava muito mais legal que eles andassem por aí com as minhas artes.

Em Março de 1997, eu estava usando uma das minhas camisetas, entrei em uma loja na Lafayette Street e o gerente disse: “Que camiseta legal, onde você conseguiu?”. E eu disse: “Eu que fiz”, e ele ficou tipo: “Uau, você deveria fazer mais, que a gente venderia elas na nossa loja”. E essa foi a primeira vez que eu pensei nisso. Ele me perguntou se eu conseguiria fazer 12 e eu disse: “Claro, eu consigo fazer 12”. E eu ainda tinha que invadir a escola, fazer as 12 camisetas e levar de volta para ele. Essa foi a primeira vez que a Staple foi de fato um negócio, com um pedido de 12 camisetas. Elas esgotaram logo e ele disse: “Ok, me faça 24 agora”. Então, eu invadi a escola de novo e fiz 24 camisetas.

Então outra loja no Soho, chamada Union, que hoje é uma lendária loja de streetwear em L.A., rapidamente ficou sabendo sobre as camisetas, e chegaram em mim e falaram “Nós queremos pedir 12, mas você consegue fazer uma estampa diferente?”. Então eu fiz estampa, fiz 12 camisetas para eles, e daí foi tipo, pode fazer 12, 24, 36, 48… Eu estava indo e voltando com isso e todo esse tempo eu ainda invadia a escola para fazer camisetas com meu amigo à noite. Então, foi assim que a marca começou. Foi assim que a marca de roupas começou, o outro lado foi o do negócio de design gráfico, porque eu sou um designer gráfico de formação, então eu não estou lá tentando criar uma marca de moda, eu estou tentando ser um designer gráfico.

Então, por que essas camisetas começarem a ganhar popularidade nessas lojas – Union e Triple Five Soul – as pessoas começaram a me pedir para desenhar capas de CDs, convite de festas, logos, pediam para eu ajudá-las com essas coisas de design. Então muitas pessoas estavam me pedindo trabalhos de design e eu estava ganhando dinheiro com isso. Então, enquanto eu estava apenas no segundo ano da faculdade, eu fazia dinheiro vendendo camisetas e fazendo trabalho de design – e essas duas coisas começaram a crescer bem rápido.

E eu acho que eu tive muita sorte com as pessoas que eu pude trabalhar por que os dois clientes que eu tive desde o início: o primeiro era uma pequena revista que basicamente chegaram em mim e me falaram “Você pode nos ajudar a desenhar toda a revista?”. E essa revista é a The Fader Magazine, que hoje é uma lendária revista de lifestyle e música. E o segundo era um selo de hip-hop chamado Rawkus, na época eles eram bem pequenos e me pediram para desenhar algumas capas de álbuns. Mas a Rawkus acabou assinando com artistas como Mos Def, Common, Talib Kweli, Company Flow, No I.D., Dead Prez, sabe? O Eminem aparece no lado B de um disco da Rawkus. Eram algumas paradas bem underground mesmo e eu estava fazendo o design de tudo isso, e conforme eles cresceram, as pessoas começaram a perguntar quem tinha feito aquelas coisas. E foi assim que eu pude criar a minha reputação também. Foi um bom timing e foram bons círculos para eu estar envolvido naquela época.

Como você soube que era a hora certa para iniciar seu próprio negócio?

JeffMinha marca ainda era um hobby quando eu vendia para aquelas lojas no Soho, ainda não era realmente um negócio. Eu estava apenas tentando ser um designer gráfico e um estudante em período integral. E eu, também tinha um trabalho de verdade numa empresa de design de interiores e um trabalho noturno na Kinko’s. Então meu dia era: eu ia para a escola o dia todo, às três da tarde eu ia para o meu trabalho na empresa de design de interiores, trabalhava lá até às sete, e ia para o meu trabalho noturno no lugar na fotocópia e trabalhava lá até à meia-noite ou uma da manhã. Então eu ia para casa tipo às duas da manhã e só aí eu trabalhava na Staple. Então eu nunca dormia e eu quase nunca fazia lição de casa também (risos). Eu basicamente vivia correndo 22 horas por dia por tipo um ano, fazendo malabarismo com todas essas coisas.

E é uma ótima pergunta porque eu estava vendendo para todas essas lojas no Soho, até que um dia, um cara do Japão ligou na minha casa, e ele falou: “Eu gosto muito da Staple, posso encomendar com você? Eu queria mil camisetas”. E não esqueça que nessa altura eu ainda invadia a escola para fazer camisetas, então eu fiquei tipo: “O quê?”. E ele disse: “É, sabe essas camisetas que você faz? Eu quero mil de cada”. É, então eu tinha tudo isso acontecendo na minha vida. Eu tinha um trabalho que era uma grana constante, eu tinha dois trabalhos, estava cursando integral, eu tinha clientes de design gráfico, a linha de roupas nas lojas do Soho. Então eu decidi largar a escola. Porque eu pensei: “Eu não tenho dinheiro, então uma coisa que eu preciso é mais dinheiro”. E a escola me custava dinheiro. Então em 1997, eu decidi trancar a faculdade, manter meu trabalho, tentar dar conta desse pedido de mil camisetas e ver o que acontecia. Eu saí no meu segundo ano na Parsons, que é uma das melhores escolas de design do mundo, então era um risco, mas foi quando os negócios se tornaram mais sérios. E exatamente nove meses depois, eu deixei todos os outros trabalhos para me dedicar somente à Staple.

E eu literalmente quase me matei de tanto trabalhar. Eu literalmente quase morri. Eu andava de skate na época e, uma noite, eu estava indo de skate do meu trabalho noturno para casa às duas da manhã, e eu caí muito feio no cruzamento da Broadway com a Spring. Eu estava fazendo aquele negócio onde você segura na traseira do carro e eu peguei parafuso enorme. E foi tão forte que eu saí rolando por umas duas quadras. Por sorte eu me recuperei desse acidente, mas eu disse para mim mesmo: “Ok, isso está me matando agora, literalmente, então eu provavelmente deveria parar.” E eu estava com medo de largar a faculdade e o emprego e depender completamente da Staple. Foi assustador, mas eu fui forçado a fazer isso por causa do acidente. Aí eu passei a ser Staple tempo integral e tenho sido Staple tempo integral desde então. E eu nunca voltei para a escola ou tive um trabalho de período integral.

“Mas o único problema com dar aulas é a quantidade de tempo que toma versus a quantidade de pessoas que eu consigo atingir. Por exemplo, quando eu dou aula em uma classe com 30 jovens, essa aula me toma três horas e eu só estou falando com 30 pessoas. Com o SkillShare, com essas mesmas três horas eu falo com 30.000 pessoas. Então eu sempre tento ser muito eficiente com o meu tempo e ter certeza de que, quando eu tenho um tempo para compartilhar, eu consiga fazer isso com a maior quantidade de pessoas.”

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Por que você sentiu necessidade de criar o podcast The Business of Hype?

JeffFoi por que há anos eu venho participando de talks, como eu fiz em São Paulo, eu dou aulas –  e, na verdade, avançando alguns anos, eu eventualmente me tornei um aluno honorário da Parsons, então eles me deram um diploma mesmo eu não tendo terminado a escola – e acabei dando aula na Parsons e na NYU. Eu também tenho esse programa com uma empresa chamada SkillShare que é tipo ensino online. Então eu venho fazendo tudo isso e tentando dar conta de tudo, mas o único problema com dar aulas é a quantidade de tempo que toma versus a quantidade de pessoas que eu consigo atingir. Por exemplo, quando eu dou aula em uma classe com 30 jovens, essa aula me toma três horas e eu só estou falando com 30 pessoas. Com o SkillShare, com essas mesmas três horas eu falo com 30.000 pessoas. Então eu sempre tento ser muito eficiente com o meu tempo e ter certeza de que, quando eu tenho um tempo para compartilhar, eu consiga fazer isso com a maior quantidade de pessoas.

E o podcast é uma evolução natural disso, porque está no Hypebeast e tem tipo 40 milhões de visitas por mês. Então agora quando eu dou uma aula como podcast, isso vai para dezenas de milhões de pessoas. E se tudo der certo, a próxima evolução será um programa de TV na Netflix. Eu estou apenas interessado na maior plataforma possível, eu só quero ter a capacidade de compartilhar a informação com a maior quantidade de jovens possível, sabe? Na verdade, é para isso que a gente faz tudo isso.

O podcast surgiu, literalmente com eu e o CEO da Hypebeast jantando. Tipo ele me perguntou: “O que você tem feito?”. E eu disse: “Eu amo ouvir podcasts.” E ele disse: “Você deveria fazer um, você seria bem bom.” E eu disse: “Ok! Talvez eu tenha uma ideia. Seria legal se eu misturasse a revista Forbes e negócios com a cultura Hypebeast.” Porque o negócio é que as pessoas sempre falam para os mais jovens para largarem seus empregos e seguirem seus sonhos, certo? Mas ok, o que isso significa? Então eu queria ir para o próximo passo e dizer: “É assim que eles fizeram” e ensinar isso para os jovens. Então ele disse: “Vamos fazer três episódios como um teste e ver se funciona.” E agora nós já passamos de 70! Os primeiros três foram: o primeiro foi o Hiroshi, o segundo foi a Sarah da Collete e o terceiro foi o Aaron, fundador da Complexcon (risos). Então o Kevin veio até mim depois desses três e disse: “Bem, você não pode parar agora, vamos continuar.”

A melhor coisa do o Business Of Hype é que eu tenho a oportunidade de falar com pessoas que estão no mesmo barco, e eu acho que eles falam comigo de uma maneira diferente que eles falariam com um repórter porque eles conseguem simpatizar muito melhor comigo e compartilhar as histórias de guerra. Isso é muito da hora.

Você teve a chance de entrevistar várias pessoas incríveis no Business Of Hype. Teve alguma entrevista ou algo que alguém disse que se destacou para você?

JeffEu recentemente entrevistei a Alife e eles contaram uma história muito interessante: eles foram a única loja do mundo que receberam o Nike Air Woven naquela época, e para registrar esse marco, eles chamaram um amigo deles, Todd James Reas, que é um grafiteiro bem famoso, tirar a palmilha, taggear “Alife x Reas” no fundo, e colocar de volta no tênis e vender. Eles disseram no podcast que era a primeira vez que eles contaram isso publicamente – e eles lançaram esse tênis tipo há 20 anos atrás. Então se você comprou um Air Woven da Alife em 2000, você deveria olhar debaixo da sua palmilha para ver se você tem uma collab do Reas com a Nike. E foi incrível ouvir isso em primeira mão. E ouvir que eles fizeram isso, porque eles estavam fazendo uma collab com um artista antes da Nike pensar em fazer, sabe? Hoje em dia, se você fizer algo assim, já faria toda uma campanha de marketing enorme em volta disso. Eles simplesmente fizeram e ficaram: “Nós não vamos contar para ninguém.” E imagina 20 anos depois e você vê isso e tipo: “Oh meu Deus!” As obras desse cara são vendidas por tipo dezenas de milhares de dólares, então você teria ter uma peça autografada do Reas na sua coleção. Ter acesso a essas pequenas informações secretas no podcast é muito maneiro.

Eu tenho outra. Quando eu fui visitar o Jerry Lorenzo no seu escritório da Fear Of God em L.A. Ele tem um escritório super limpo, você não pode nem usar sapatos no escritório, estilo japonês. E tradicionalmente no Japão, você tira seus sapatos quando você entra na casa, mas quando você vai ao banheiro, eles têm um par de chinelos para você usar porque o chão pode estar sujo. Então quando eu perguntei ao Jerry: “Posso usar o seu banheiro?”, no lugar de chinelos, tinham tênis para usar enquanto usava o banheiro, mas os tênis eram tipo, Sacai, Fear Of God, Jordan do Travis Scott! Eram tipo grails que você usa para mijar (risos). E eu fiquei tipo: “Você usa Sacais para mijar, isso é outro nível” (risos).

“Quando eu fui visitar o Jerry Lorenzo no seu escritório da Fear Of God em L.A. Ele tem um escritório super limpo, você não pode nem usar sapatos no escritório, estilo japonês. E tradicionalmente no Japão, você tira seus sapatos quando você entra na casa, mas quando você vai ao banheiro, eles têm um par de chinelos para você usar porque o chão pode estar sujo. Então quando eu perguntei ao Jerry: “Posso usar o seu banheiro?”, no lugar de chinelos, tinham tênis para usar enquanto usava o banheiro, mas os tênis eram tipo, Sacai, Fear Of God, Jordan do Travis Scott! Eram tipo grails que você usa para mijar (risos). E eu fiquei tipo: “Você usa Sacais para mijar, isso é outro nível” (risos).”

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“Eu cheguei um pouco atrasado à aula, e a classe inteira e a professora imediatamente olharam para mim porque eu estava atrasado, certo? E aí eles olharam para baixo para os meus pés porque ninguém tinha visto um tênis assim antes. Até a professora estava tipo: “Uau!”. Então eu quebrei tipo 20, 30 pescoços ao mesmo tempo. E depois disso eu fiquei pensando “Wow! Eu acabei de abalar essa sala inteira, e essa sensação é viciante.  Então, desse ponto em diante eu senti que eu tinha que continuar indo atrás dos tênis para garantir que eu continuasse quebrando os pescoços (risos).”

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Quando foi a primeira vez que você percebeu que gostava de tênis? Você se lembra de um tênis que viu e ficou tipo “Uau!”?

JeffEsse foi o tênis que me transformou em um sneakerhead. Eu já gostava de tênis antes disso mas esse Air Jordan III definitivamente foi a primeira vez que eu vi um tênis e fiquei: “Isso é arte, isso é design, isso é algo diferente”. Era algo completamente diferente porque todos os tênis antes desse pareciam com Nike Air Force 1s, ou Dunks, ou Chuck Taylors. E foi assim que eu aprendi quem era Tinker Hatfield e como ele tinha desenhado aquele tênis com o Michael Jordan.

Eu usava ele na escola e eu estava no sexto ano quando eles foram lançados – e eu cheguei um pouco atrasado à aula, e a classe inteira e a professora imediatamente olharam para mim porque eu estava atrasado, certo? E aí eles olharam para baixo para os meus pés porque ninguém tinha visto um tênis assim antes. Até a professora estava tipo: “Uau!”. Então eu quebrei tipo 20, 30 pescoços ao mesmo tempo. E depois disso eu fiquei pensando “Wow! Eu acabei de abalar essa sala inteira, e essa sensação é viciante.  Então, desse ponto em diante eu senti que eu tinha que continuar indo atrás dos tênis para garantir que eu continuasse quebrando os pescoços (risos). E esse sentimento se sustenta até hoje, sabe, eu adoro entrar em uma sala e fazer todo mundo olhar para o que eu tenho nos meus pés. Eu não sei porque eu sou viciado nessa sensação, mas eu sou.

E eu lembro até dos cuidados com esses. Na versão OG do tênis, por alguma razão, essa tinta branca no logo da Nike Air ficava lascando e saindo, e como eu não tinha muitos tênis, eu usava esses para as aulas de educação física e jogava basquete com eles. Eu fazia tudo com esses tênis e eles estavam ficando destruídos. Então, eu lembro de voltar para casa todas as noites, pegar tinta branca e um palito de dente, e eu mergulhava o palito de dente na tinta branca, e empastava ele bem de leve até ficar brancos de novo. Eu estava obcecado em manter eles realmente impecaveis.

Teve um momento perto dos anos 2000, que eu me livrei de todos os meus tênis. Eu tinha tipo 200 pares de tênis e eu me livrei de todos os velhos. Eu simplesmente levei eles ao exército da salvação e me livrei deles. Eu tinha decidido que ia me mudar para o Japão, eu até achei um lugar, mas no Japão, a casa toda é tão pequena que eu não poderia levar todos os meus tênis, então eu fiquei com tipo um ou dois pares. E aí… Eu mudei de ideia e decidi não me mudar para o Japão. Tentei recuperar tudo de volta mas não consegui, então eu tive que reconstruir minha coleção e hoje eu coleciono versões retrô.

Eu sinto que quase todo sneakerhead tem um momento em que ele eventualmente se desfaz de uma boa quantidade dos seus tênis, certo…

JeffÉ, eu concordo. Todos passam por isso. Agora eu já reconstruí a minha coleção. Eu acho que eu tenho tipo 4.000 pares de tênis agora (risos). Eu reconstruí tudo de volta. Eu mantenho uns 100 na minha casa e mantenho os outros 3.000 em um lugar de armazenamento externo, é o único jeito. E eu nunca vou me livrar deles. Eu vou apenas continuar acumulando porque eu sinto que a cultura sneaker hoje é importante o suficiente, e eu acredito que um museu vai precisar dessa coleção um dia. E particularmente minha coleção é interessante porque eu não compro as coisas do hype. Eu só tenho o primeiro Yeezy Turtle Dove, eu só tenho o Presto Off-White e etc. Eu não compro tudo que é hype. Eu acho que as coisas que eu compro e ganho da minha coleção têm um marco único na história na cultura sneaker, versus, tipo, tudo que tem na Stock X ou no Goat.

E você tenta usar todos os seus tênis? Pelo menos os que estão na sua casa?

JeffAté mesmo o cem da minha casa… Minha rotação é tipo 10 tênis que eu uso regularmente. Mas os outros cem da minha casa são especiais para quando está chovendo ou quando é inverno e neva, ou se eu tenho uma reunião de negócios. Eles são casos de uso mais específicos. Eu também não quero ter que tirar eles do meu armazém e eu sou tão ocupado que eu não tenho tempo de criar um outfit e um look completo, então normalmente eu uso triple black e qualquer coisa que combine com isso.

Eu também gosto de usar os tênis por um tempo porque eu gosto de entender como eles calçam, sabe? Recentemente eu venho usando o Huarache Adapt, e o cara da Nike que fez o tênis me mandou uma DM dizendo: “Eu desenhei esse tênis e você é de longe a pessoa que usou esse tênis por mais milhas.” Ninguém que comprou aquele tênis está usando, e ele esgotou no aplicativo Sneakers. Eles compram e vão direto à Stock X ou mantêm eles guardados. E ele disse: “Você tem usado eles o tempo todo e pelo mundo todo! Você é o meu melhor cobaia, para saber como podemos melhorar.” Então eu gosto de usar e testar tênis. Eu sou um designer de tênis também e preciso saber como fazer melhorias neles.

Então agora falando de collabs, como você sabe quando é o momento certo de colaborar com outra marca, e como fazer o processo orgânico?

JeffEu tento manter o processo de selecionar uma colaboração muito orgânico, muito real para mim e pela natureza de ser uma colaboração, tem duas pessoas envolvidas, então não tem que ser apenas bom para mim, tem que ser bom para a outra pessoa também. E o timing é tudo: às vezes, nós dois queremos fazer algo, mas o timing não faz sentido para nenhum dos dois. Então, algumas colaborações levam algum tempo até para começar. Existem muitos fatores quando uma colaboração acontece e o porquê ela acontece. Eu adoro ouvir os jovens nas redes sociais dizendo: “Oh, você tem que fazer isso acontecer agora!”. E não é tão fácil, mesmo que eu conheça as pessoas e saiba como fazer acontecer, ou até já tenha feito. Você não pode só estalar os dedos e fazer acontecer. Existe todo um processo para isso. Então eu tento manter tudo bem orgânico, e recentemente eu tenho curtido a ideia de collabs não-óbvias, tipo colaborações estranhas, que não são muito típicas e óbvias, sabe? Eu tenho curtido isso no momento (risos).

Isso é uma coisa que a gente sempre quis saber – por que você escolheu o pombo como o logo da Staple?

JeffBem, eu estava procurando por algum tipo um animal para o logo. Desde quando eu era mais novo, eu sempre gostei do cavalo da Polo Ralph Lauren, o crocodilo da Lacoste, e um pouco mais tarde, do rinoceronte da Echo. Marcas que têm animais são muito memoráveis e fáceis de se lembrar. Então eu estava procurando um animal, e como eu morava em Nova Iorque, o pombo, para mim representa muito bem as pessoas que moram em Nova Iorque, eles estão em todos os lugares e sempre dão um jeito de sobreviver e ter sucesso mesmo que as condições não sejam favoráveis a eles, e as pessoas os chamam de ratos porque eles vivem como um rato no sentido deles fazerem o corre e conseguirem sobreviver.

E no início da Staple, eu realmente me sentia como um pombo. Eu realmente estava só tentando sobreviver em Nova Iorque. Ao mesmo tempo, eles são muito confiantes, tipo eles não vão sair do seu caminho e eles cagam em você e saem voando e tal. É bem incrível a atitude deles. Então por isso eu adotei o pombo, e eu estava apenas pensando do ponto de vista de alguém que mora em Nova Iorque. Mas uma ótima coincidência é que os pombos meio que se sobressaem em qualquer cidade urbana como Tóquio, Londres ou São Paulo – onde quer que tenha uma cidade cheia de pessoas, lá estão os pombos. Então quando eu comecei a lançar o pombo, as pessoas achavam que o pombo era para a cidade delas, e quando eu ia à Veneza ou Tóquio, as pessoas ficavam: “Eu entendo o que você quer dizer com pombos, nós temos um monte de pombos aqui!” E eu ficava: “Ah não, isso é para Nova Iorque”.

Isso ajudou a espalhar a marca bem rápido. E eu acho que por mais estranho que pareça, acabou se tornando mais efetivo que o cavalo da Polo porque, como você vai ter uma conexão direta com um cavalo de pólo, se você nunca jogou pólo? Sabe? Eu acho que a rapidez com que o pombo se difundiu na cultura popular foi bem rápida e, mesmo que a Staple seja uma marca de 20 anos e o pombo tenha começado só em 2004, então são apenas 15 anos com o pombo, agora eu escuto as pessoas o tempo todo me falando que não podem ver um pombo lembrar de mim ou da Staple. O que é muito maneiro. Eu acho que eu ajudei o pombo a parecer um pouco menos com um “rato”. Eu até ouço pessoas dizendo que eu fiz pelo pombo o que o Walt Disney fez pelo rato. Então agora o pombo é algo legal para se ter.

Air Jordan III Black Cement
Dono: Jeff Staple
Fotos por: Kickstory (Ian Homem de Mello)

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