A gente já falou por aqui que a Reebok faz as melhores colaborações e parcerias temáticas, aplicando perfeitamente a essência e detalhes de filmes, séries e desenhos em forma de tênis. Mas a gente nunca imaginou ter a oportunidade de conversar com a pessoa por trás desses projetos tão especiais como: Tom & Jerry, Minions, Jurassic Park, Billionaire Boys Club, Ghostbusters, e claro, a colaboração com Power Rangers e o famoso set de caixas que juntas, formam um megazord.
No famoso Waterfront de Portland conversamos com o Chris Hill sobre sua profissão como designer gráfico para calçados, sua trajetória pela adidas, seu tempo na Reebok como Gerente Sênior de Design para colaborações de cultura pop e streetwear, suas referências e muito do processo para fazer essas colaborações. Mas para sua entrevista ele escolheu falar de algo mais pessoal, o seu Air Total Foamposite Max, que não só representa muito do que ele gosta em um tênis, algo mais futurista, maluco e diferente, mas também porque foi aquele tênis especial que ele demorou muitos anos para conseguir.
“Meu nome é Chris Hill, sou designer de calçados há 10 anos. Eu trabalho com cores, materiais, grafismos, modelos novos, embalagens, eu diria que a minha especialidade é fazer um pouco de tudo. Gosto de colecionar brinquedos, ir ao cinema – gosto muito dos filmes da Marvel e coleciono bonecos antigos das Tartarugas Ninja, eles são os meus bens mais valiosos. Fora isso, eu gosto de passar tempo com minha esposa e meus dois cachorros. Não faço muita coisa mesmo (risos).”
Como começou sua jornada no ramo criativo?
chris Desde criança meus pais gostavam de artes e trabalhos manuais. Meu pai era artista antes de se tornar pastor, e a minha mãe fazia bonecas de porcelana, ela costurava as roupas das bonecas. Eles tinham algum tipo de habilidade artística e os dois eram muito bons no que faziam. Então eu meio que cresci cercado por arte.
Eu desenhava monstros e coisas aleatórias quando era criança, e quando eu entrei no ensino médio, levei um pouco mais a sério e comecei a desenhar tênis, carros e mulheres – essas eram as três coisas que eu desenhava. A partir daí, eu sabia que queria fazer alguma coisa de arte. Procurei diferentes cursos e acabei em design gráfico – que não era o que eu precisava para fazer tênis, mas acabou sendo super bom pra minha carreira mais para a frente. E mais tarde, descobri o design industrial.
Na verdade, eu fiz faculdade de design gráfico, mas o que eu queria era fazer faculdade de design de moda porque me disseram que era o que eu precisava para fazer calçados – e esse também não era o caso. Então eu meio que larguei / fui expulso. Minhas notas eram ruins e eu tava fazendo praticamente de tudo, menos ir para a escola; eu jogava basquete e personalizava alguns tênis.
Depois do ensino médio, comecei a fazer camisetas personalizadas, desenhar tênis, e foi assim que ganhei dinheiro na faculdade, customizando roupas e tênis. Na verdade, minha mãe era minha costureira, eu desenhava as roupas e ela fazia as peças personalizadas para mim.
“Depois do ensino médio, comecei a fazer camisetas personalizadas, desenhar tênis, e foi assim que ganhei dinheiro na faculdade, customizando roupas e tênis. Na verdade, minha mãe era minha costureira, eu desenhava as roupas e ela fazia as peças personalizadas para mim.”
Então, você criou sua própria marca? E como você acabou trabalhando com tênis e calçados?
chris Sim, e eu coloquei o nome de “Chrisco”, era a abreviação de “Chris’ company” (empresa do Chris). Isso foi algo que eu comecei para um projeto no ensino médio e era meio brega, mas as pessoas que fizeram o trabalho comigo acharam legal, então eu acabei seguindo com esse nome mesmo.
Mas como comentei, eu fui expulso da escola, tirei uma folga por seis anos e trabalhei apenas customizando tênis. Eu estava em Ohio na época e depois me mudei para Portland porque a Nike e a adidas ficam aqui, e também, minha esposa queria muito vir morar aqui. Voltei a estudar e fiz um curso no Art Institute, me formando em desenho industrial. Foi assim que finalmente entrei no mundo dos calçados – fiz o curso certo dessa vez. Na metade da faculdade, consegui um estágio que virou um trabalho integral na ID Workshop e, de lá, fui para a adidas, depois para a Reebok, para a Universal Studios e agora para a Nike.
Desde quando você gosta de tênis e como isso entrou na sua vida?
chris Eu já curtia tênis desde bem jovem e todos os meus atletas favoritos eram da Nike. Foi isso que realmente me fez gostar de tênis – ver o Griffey jogar, o Deion, Penny, Iverson e Shaq – eram atletas que eu gostava muito, porque todos tinham tênis muito legais. Meu pai gostava de tênis também – ele não era sneakerhead nem nada, como tem hoje em dia, mas eu lembro que ele tinha os tênis do Barkleys e algumas outras coisas, e eu achava isso muito legal.
Você se lembra de quando deu aquele “click” e você percebeu que tênis era algo especial? Quando o tênis se tornou uma paixão?
chris Foram os Deions ou os Griffeys, não me lembro exatamente qual era. Quando lançaram eu tive que esperar que eles entrassem em promoção no final da temporada, e só aí meus pais compraram o tênis para mim. Esses seriam meus tênis de escola para o ano seguinte inteiro. Mas, felizmente, consegui pegar os dois na promoção, porque naquela época não era difícil conseguir as coisas, como é hoje.
Você trabalhou na adidas por um curto período. De quais projetos você participou durante seu tempo por lá?
chris Quando me formei, eu já trabalhava em uma empresa de design aqui na cidade. Lá fizemos principalmente equipamentos de futebol americano, luvas de esqui e militares, coisas assim, e foi aí que meu conhecimento em design e produto fez a diferença. A partir daí fui para a adidas onde trabalhei, de carteira assinada, com tênis de basquete por um tempo, e depois fui para cores e materiais para esportes americanos – que seria beisebol, basquete e futebol americano. Na real, fiquei na adidas por apenas um ano, e aí a Reebok me recrutou para trabalhar e ser responsável por uma área chamada “design gráfico para calçados”.
E o que exatamente é design gráfico para calçados?
chris Basicamente todos os logos e imagens que tenha em um tênis, por exemplo nos tênis do Tom & Jerry, onde tem o loguinho do Droopy (Soneca) no calcanhar, esses elementos são considerados gráficos. Ou mesmo se o tênis for coberto por um grafismo, como uma imagem, um desenho ou um padrão, todos esses são considerados gráficos, como o Galaxy Foamposites, que tecnicamente é também coberto por gráficos.
“Basicamente todos os logos e imagens que tenha em um tênis, por exemplo nos tênis do Tom & Jerry, onde tem o loguinho do Droopy (Soneca) no calcanhar, esses elementos são considerados gráficos.”
Você participou de tantos projetos legais durante seu tempo na Reebok: desde as primeiras colaborações com artistas até esses packs temáticos de filmes como Tom & Jerry e, claro, em algumas das caixas de tênis mais legais que existem. Em que áreas você trabalhou na Reebok?
chris Quando cheguei na Reebok eu era responsável pela área de design gráfico de calçados da marca inteira, mas com o tempo esse tipo de aplicação começou a ter uma baixa, não era mais tão popular nos tênis. Então mudei para a área de projetos especiais e foi aí que comecei a fazer coisas como o Reebok Alien Stomper, os projetos com o Cam’ron, Curren$y e Amber Rose; Também fiz algumas coisas de streetwear e moda, como Bape, JJJJound, Concepts, Pyer Moss – fizemos as três primeiras temporadas – e MISBHV. Trabalhei muito com esses caras e ajudei a facilitar muitas das suas ideias.
E então passamos a trabalhar com cultura pop, que é os Reebok do Tom & Jerry, Predador, Ghostbusters, Jurassic Park e etc. A colaboração do ‘Tom & Jerry’ foi o primeiro grande projeto de cultura pop que a gente fez, e foi muito bem mesmo. Então por causa disso, a Reebok criou sua própria unidade de negócios separada de cultura pop, para que tivesse sua própria seção dentro da marca. Eu eventualmente deixei de fazer streetwear e moda, para fazer apenas cultura pop. E acabou que tudo isso ganhou uma escala enorme. Eu estava encarregado de todas essas coisas no lado criativo, trabalhando com Universal Studios, Sony, Warner Brothers, Power Rangers, Mulher Maravilha e Nerf.
Eu continuei pulando de uma área para a outra, mas todo o tempo eu tava trabalhando em colaborações e projetos especiais, o que foi bem legal e é muito mais divertido de fazer. E foi aí que comecei a fazer as embalagens especiais – a Reebok nunca tinha feito isso antes. Então a primeira caixa que fiz foi para o segundo tênis em colaboração com o Cam’ron, o Ventilator rosa com a caixa camuflada em rosa também. E isso meio que tomou outra escala.
Somos super fãs do seu trabalho e de como você dá vida a essas colaborações. O nível de detalhe é absurdo e dá para perceber que quem fez tudo isso, estava se divertindo. A embalagem do Jurassic Park foi especialmente nostálgica, é exatamente igual a caixa que vinha os bonecos do Jurassic Park nos anos 90.
chris Eu adorava esses brinquedos quando eu era criança também, eles eram muito divertidos na época. Então é por isso que eu quis trazer essa estética e elementos para as caixas, para que remetesse aos brinquedos originais da Kenner. Às vezes era tão divertido, se não mais, trabalhar na embalagem do que nos próprios tênis.
As caixas de Power Rangers em particular, são como nada que a gente já tenha visto por aí. Elas são tão incríveis quanto os próprios tênis. Como foi o processo de confecção dessas caixas?
chris Quando eu comecei a fazer essas caixas, foi uma luta muito grande porque tinha que passar por toda a linha de produção e tinha a questão do custo. Isso era algo que a gente realmente nunca tinha feito naquela época, até por que tirava da verba que tínhamos para fazer os próprios tênis, e naquela época, a gente nem cobrava tanto por tênis. No começo foi muito difícil, mas quando cheguei no Power Rangers e nos Flintstones, que foram os dois últimos sets que trabalhei na Reebok, na real o do Power Rangers foi o último que consegui fazer até o final. Felizmente, o meu chefe me dava muito apoio e era um super fã do trabalho que eu estava fazendo lá dentro. Ele ajudou a fazer uma pressão junto comigo para que aprovassem esses projetos, mas rolavam brigas constantes, toda semana, com o desenvolvimento por causa do custo, das complicações e do quão complexo eram as caixas. Foi algo que nunca tinha sido feito em calçados antes.
A gente fez faca especial para todas as caixas: usamos a mesma faca para os braços e as pernas, e tínhamos o tronco e a cabeça que eram duas facas diferentes. Então criamos essas pequenas peças de conexão, para você ligar os braços e as pernas ao resto do corpo. Foi muito divertido fazer esse projeto, eu criava as diretrizes e as ideias para fazer essas caixas se encaixarem em virarem uma coisa só. Trabalhei com uma artista muito boa chamada Natalie – ela criou todas as artes sob minha direção, como os projetos do Jurassic Park e Flintstones por exemplo.
É uma pena que não tenha tido um pouco mais de publicidade, nem apareceu muito nos blogs também, mas a Reebok também não fez muito marketing em cima desses packs. O pouco de marketing que eles fizeram foi bem legal, eles tinham alguns clipes das caixas se juntando em animação 3D. Eu achei que essas caixas iam quebrar a internet (risos).
“Felizmente, o meu chefe me dava muito apoio e era um super fã do trabalho que eu estava fazendo lá dentro. Ele ajudou a fazer uma pressão junto comigo para que aprovassem esses projetos, mas rolavam brigas constantes, toda semana, com o desenvolvimento por causa do custo, das complicações e do quão complexo eram as caixas. Foi algo que nunca tinha sido feito em calçados antes.”
A gente sabe que é difícil escolher, mas você tem um favorito do pack do Power Rangers?
chris Acho que de todo o pack, o Pink Ranger (Ranger Rosa) é provavelmente o meu favorito por causa daquela peça na parte de trás. Foi só um jeito legal de mostrar o personagem, e foi o tênis que provavelmente eu tive que lutar mais para que ele parecesse realmente bom do jeito que eu queria. Conseguir essa parte no calcanhar também foi uma luta por causa do custo e do tempo que a fábrica precisava para fazer o tênis.
E por que de todos os seus projetos e colaborações, de todos os tênis que você tem, você escolheu especificamente este Nike Total Air Foamposite Max para o seu Kickstory?
chris Só por causa da história por trás deles, de quando eu era criança. Sempre gostei de Foamposites desde o primeiro, o neon royal. Quando eu era mais jovem, meus pais só compravam tênis na promoção para eu usar na escola, e quando fiquei um pouco mais velho, minha avó começou a comprar os tênis para mim, então eu ganhava um par de tênis no preço normal para usar o ano todo.
Quando a gente viajava para Cincinnati, meu pai, meu irmão e eu íamos no Northgate Mall. Ele deixava a gente ir em qualquer loja de tênis que tivessem no shopping para escolher um par de tênis para a escola e, eu tinha que usar esse mesmo tênis para jogar basquete também.
Então um dia eu fui em uma loja dessas menores, não de uma franquia grande, e eles tinham esses Total Air Foamposites Max. Eu nunca tinha visto esse tênis antes. Havia alguns Foamposites normais na loja, mas quando eu vi esse, prateado com o holograma e aquele azul neon, eles realmente chamavam muito a atenção e eu fiquei tipo: “Nossa cara, que foda”.
Eu sempre gostei dos tênis mais futuristas e malucos. Normalmente os meus pais e a minha avó topavam pagar uns US$100, US$120 no tênis. Então eu pedi para o cara da loja pegar meu tamanho, e ele disse: “cara você sabe quanto custa esse tênis, né?”. Olhei para a etiqueta e tava lá US$135, então pensei que eu poderia implorar para a minha avó gastar mais alguns dólares, para que eu conseguisse comprar o tênis que queria. Ele trouxe o tênis no meu tamanho, experimentei e eles eram incríveis! Quando eu fui para o caixa com meu pai, o vendedor falou que o preço do tênis era US$185 e não US $135. Acabou que eu li errado o preço e meu pai falou: “eu não vou comprar esse tênis para você de jeito nenhum, eles são muito caros”. Com os impostos, ficava quase US$200.
Eu nem me lembro qual tênis acabei comprando naquele ano porque fiquei muito decepcionado. Eu sempre quis esse tênis desde criança. Quando eles finalmente relançaram, eu consegui comprar. Acho que foi 2013 ou algo assim, e foi a única vez que este tênis foi relançado. Ele é um dos poucos tênis que eu realmente considero um “grail”, então eu tinha que comprar. Eu fiquei feliz de ter conseguido ter um, pelo menos depois de adulto. Eu não uso ele já faz algum tempo porque eu tava trabalhando na Reebok e para a adidas. Agora voltei a usar Nike de novo, então vou usar mais vezes com certeza. Eu até tenho a regata do Tim Duncan para combinar com o tênis. Espero que as bolhas de ar não estourem (risos).
“Eu sempre quis esse tênis desde criança. Quando eles finalmente relançaram, eu consegui comprar. Acho que foi 2013 ou algo assim, e foi a única vez que este tênis foi relançado. Ele é um dos poucos tênis que eu realmente considero um “grail”, então eu tinha que comprar. Eu fiquei feliz de ter conseguido ter um, pelo menos depois de adulto.”
Nike Total Air Foamposite Max
Dono: Chris Hill
Ana: 2013
Fotos por: Kickstory