Dan Fontes Dan Fontes

Dan Fontes

Air Jordan XI Concord Air Jordan XI Concord
16—04—2019 Fotos por: Deko
Dan Fontes
Entrevista Nº 139

O sneakerhead OG Daniel Fontes participou da décima sétima edição do BBB. Ele contou para a gente sobre a sua experiência na casa e como foi a difícil missão de escolher apenas 3 pares de tênis da sua coleção para levar ao programa. Já para a entrevista com o Kickstory, ele escolheu o tênis pelo qual se apaixonou há 23 anos, o lendário Jordan 11 “Concord”. Um tênis rodeado por historias marcantes e acontecimentos históricos, que foi visto pela primeira vez nos pés do Michael Jordan para o jogo 1 das semifinais de conferência de 95 entre o Chicago Bulls e Orlando Magic.

“Pra quem não me conhece eu o Dan Fontes, sou ex participante do Big Brother Brasil de 2017. E cara, quem me conhece de longa data sabe a minha paixão por tênis e tô aqui hoje com vocês justamente para falar dessa paixão. A cena vem crescendo no Brasil graças a Deus e cada ano que passa só vem agregando, eu acho isso muito foda porque quando eu comecei a colecionar lá no começo dos anos 90, era bem raro ser um colecionador, era muito distante. Hoje com a globalização é muito mais fácil, agora eu tenho acesso as coisas que eu não tinha quando eu era jovem.”

“Eu fui para o confinamento em Janeiro de 2017, comprei o tênis em dezembro e fiquei esperando para usar porque se eu entrasse na casa eu queria entrar com esse tênis, eu queria estrear ele na hora que eu pisasse dentro da casa do BBB. E assim eu fiz.”

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Para começar, como foi toda sua experiência no Big Brother e quais tênis você levou para o programa?

danQuando eles chegaram em casa para me “sequestrar” avisando que eu estava dentro do BBB, me deram 20 minutos para pegar minhas coisas. Eu mirei nos tênis mais fodas que eu tinha, mas eles foram me barrando porque mostrava muita a marca. Então acabei levando para casa do BBB um Air Jordan 16 – eu fui para o confinamento em Janeiro de 2017, comprei o tênis em dezembro e fiquei esperando para usar porque se eu entrasse na casa eu queria entrar com esse tênis, eu queria estrear ele na hora que eu pisasse dentro da casa do BBB. E assim eu fiz. Eu levei também Air Jordan 3 Cyber Monday e um Kobe 8, verde limão com detalhes em cinza.

Eu só não consegui levar mais por que a bag que eles me derma era muito pequena. Meus tênis são tudo 46, ocupa muito espaço, ou eu levava tênis, ou eu levava roupa. Todas as vezes que eu tentava falar sobre tênis dentro da casa, ou mostrar eles, a Globo tirava a câmera de cima de mim, eles não fazem propaganda para os outros de jeito nenhum. Uma das coisas que eu fazia para aparecer, eu pegava meus tênis, ia lá no tanque com a minha escovinha e limpava, friso por friso, pegava creme hidratante para passar no tênis, e depois ficava lá admirando. Obviamente eu fazia isso para chamar atenção para mim, e funcionava.

Um fato muito curioso, na última festa que precedeu a minha saída do programa, o tema era “festa no gueto”, lá eu senti que eu ia sair de programa mesmo porque já tava comentando é que eu tava com saudade de comer pizza, refrigerante de cola, de hambúrguer, de batata frita, só junk food, tinha tudo isso na festa. Além disso, na hora de buscar o figurino para a festa, o Mamão foi primeiro, eu fiquei esperando no quarto azul. Ele voltou pro quarto e falou “Dandan, tem um tênis muito louco no seu figurino, eu não sei qual que é mas eu achei lindo”. Quando eu cheguei lá, era um Jordan Melo M13 todo vermelho! Eu pirei demais, fiquei pulando em cima da cama, abracei e beijei o tênis. O pessoal dentro da casa até veio me perguntar porque tinha ficado tão feliz de ter ganhado o tênis, aí eu comecei a contar toda a história do Carmelo, que ele era patrocinado pelo Jordan, que ele era muito foda e tal, e aí fizeram modelo só para ele e tal.

Foi uma satisfação muito grande trocar de tênis, porque eu já não aguentava mais os que eu tava usando, era sempre as mesmas roupas e tênis (risos). Quando sai do programa me perguntaram o que eu mais sentia falta e respondi “dos meus tênis, depois do meu guarda-roupa, eu quero trocar de roupa, eu não aguento mais vestir e calçar os mesmos tênis” (risos).

Quando exatamente você começou a colecionar tênis?

danEu comecei a minha coleção em 1996. Comprava um aqui e um ali, eu trabalhava o mês inteiro para conseguir aquele grail e assim foi indo. A paixão foi só crescendo e hoje eu tô bem conhecido na cena dos colecionadores. Eu cheguei a ter 319 pares; hoje deve ter por volta de 150.

Você lembra quando foi seu primeiro contato com tênis?

danO meu início foi no skate, eu andei de 86 a 91 – na época não tinha pista pública, as únicas eram as de São Bernardo e São Caetano – então a gente saía lá de Ferraz de Vasconcelos, ia até o ABC para poder rodar em uma pista. Mas eu sempre gostei mais das ruas mesmo. E os tênis da época de 87, 88, era um Qix, que depois de muitos anos eu fui descobrir que era uma imitação da Vans. Então a minha paixão por tênis começou pelo skate. O basquete surgiu com a transmissão da NBA na Band no começo dos anos 90. Virou um boom, a galera começou a jogar e eu comecei a me interessar. Nessa época tive um estirão de 30 cm e quando eu ia andar de skate o pessoal me zuava falando “caraca, olha o vareta andando”. Se tá ligado como é adolescente, né? Pega trauma de tudo. Aí eu abandonei o skate aos poucos e comecei a jogar basquete na escola. A paixão foi muito grande e você sabe, associado ao basquete, veio os sneakers. Aí vira aquilo né, você vê os caras da NBA com os tênis, você quer ter igual.

E qual foi o primeiro tênis que você comprou de basquete?

danEm 1990, quando eu tava chegando mais importados, primeiro tênis de basquete que eu tive foi um Nike Delta Force. Eu usava ele para andar de skate porque eu não tinha um tênis de skate, Nikes eram mais baratos que os tênis de skate. O segundo Nike que eu comprei foi o Bo Jackson Air Trainer SC 2, eu parcelei ele e fiquei tipo 2 anos pagando, muito doido.

Você faz customização nos seus próprios tênis né?

danSim. O negócio é, eu perdi muito tênis por causa de hidrólise e eu ficava puto porque não entendia o porquê aquilo acontecia, para o tênis durar mais você tem que usar ele. Com o passar do tempo eu desenvolvi técnicas de costum de “sole swap“, em que eu troco as solas estragadas por solas novas. Eu normalmente não faço isso para as pessoas porque o preço de um tênis novo só para pegar a sola é o valor de um tênis bom. Os materiais que eu uso para customização são nacionais, não é de boa qualidade mas é o que a gente tem aqui e para trazer de fora o valor do dólar não compensa. E tem essa coisa de brasileiro né, o cara tá pagando e acha que tem que estar perfeito, igual de fábrica, mas é um processo bem artesanal, não tem como ser linha de produção. Por isso que eu não faço custom para as pessoas, somente para mim.

Qual a maior diferente que você sente entre a cena de tênis nos anos 90, quando você já estava inserido no basquete, e a cena atual?

danHoje virou tudo hype, eu acho dahora que a cena tá mais fortalecida, mas tem muito poser no meio sabe? Que não tem a alma ou a essência da cultura, até mesmo porque eu vivenciei toda essa geração e peguei toda a transformação. Quem tá vindo agora, tá vendo o negócio bacana mas não entende o que rolou no passado e por que chegou nesse nível. Tem muita gente que compra vários tênis sem saber o que está comprando e não vão atrás do conhecimento.

Quando eu era mais jovem, eu comprava um guia chamado “Slam” em uma banca de jornal na Avenida Paulista. Ela era importada e o preço era um absurdo, mas eu pagava mesmo assim. Além de vir reportagens sobre o basquete – que eu não entendia porra nenhuma porque a revista era em inglês – tinha uma sessão só de sneakers. Nessa parte da revista eles colocavam todos os lançamentos e os tênis que os atletas estavam usando. Essa era a minha maneira de saber o que tava acontecendo.

“A galera quer ter o tênis para ser melhor que o outro, eu não quero para isso, eu compro por quê eu não tive condições de ter quando eu era jovem.”

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Pra você, o que significa ser um sneakerhead?

dansneakerhead “raiz” como falo, os “jurássicos” assim como eu, ele não precisa ter 500 pares de tênis pra entender ou fazer parte da cultura sneakerhead. O que é ser um sneakerhead? É conhecer a história do tênis – pois cada um tem sua própria, aconteceu alguma coisa para o tênis sair, vender um monte e virar hype. Porque que vira hype? Porque tem tênis quickstrike? Entender essas paradas que te faz um sneakerhead, é você saber diferenciar essas coisas. O que vejo demais na cultura nos dias de hoje é que muita gente se diz sneakerhead sem saber o que é, porque simplesmente vai em uma onda.

Por exemplo, eu odeio, odeio, com todas as forças do universo, do mundo, da galáxia, a porra desses Adidas que parece um sapo – o Yeezy! O Kanye West se acha o pica, mas o cara não manja do bagulho, eu não vou dar $5.000 num par de tênis que o cara desenhou mano. Você olha o tênis em cima ele parece um sapo cururu agachado pronto para dar um salto. É feio demais mano! Até o Air Yeezy que ele fez pela Nike, tem um cara vendendo por R$27.000!Para ele hidrolisar né, o tênis tem mais de 10 anos, você vai dar toda essa grana só porque o cara desenhou o tênis? E na moral, é feio para caralho, ele pegou a sola do Jordan 3, um strap do Bo Jackson, desenhou um negocinho aqui e ali. A galera quer ter o tênis para ser melhor que o outro, eu não quero para isso, eu compro por quê eu não tive condições de ter quando eu era jovem.

“Então o Air Jordan 11 é muito especial para mim pela sua história, eu levei muito tempo para conseguir ele. Depois de exatamente 23 anos depois o tênis foi relançado, com as mesmas especificações do protótipo e com a mesma caixa do Air Jordan 10.”

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E porque de todos da sua coleção você escolheu esse Air Jordan 11 Concord?

danA história desse tênis é que em 1995, o Jordan retorna para as quadras depois da aposentadoria. Ele não tinha um tênis definido para temporada e ele pede para o Tinker Hatfield – designer que criou a maioria dos Air Jordans – um tênis que ele possa usar tanto na quadra quanto com smoking. O Tinker desenvolveu e produziu um protótipo, o tênis não tinha nem caixa, ele pegou uma do Jordan 10, levou para o Jordan ver lá no vestiário porque o Tinker precisava da aprovação para mandar produzir o tênis final. Ele gostou tanto que enfiou o tênis no pé e foi jogar. O Jordan tomou várias multas por que na época tinha lei na NBA que o tênis dos jogadores tinham que ter as mesmas cores dos uniformes de seus times – que nesse caso tinha que ser vermelho e preto, e o tênis é preto, branco com a sola roxa. Além disso o tênis era um protótipo, tinham coisas que precisam ser melhoradas e refinadas.

Depois de pagar muitas multas, teve um jogo, que o Tinker não levou o tênis para o Jordan usar pois ele precisava do tênis para fazer a produção. Só que isso foi na hora do jogo, ele não tinha nenhum outro para usar aquela hora, aí ele pegou emprestado um Nike Air Flight One Penny Hardaway – em um jogo contra o Orlando, nas playoffs!

O Tinker volta com tênis prontinho, com 45 atrás. Em um jogo, o Nick Anderson rouba uma bola do Michael Jordan e elimina o Chicago Bulls das playoffs, pela primeira vez em seis anos o Chicago é eliminado nas playoffs. O Jordan ficou puto da vida – ele sempre teve um espírito muito competitivo – o Nick Anderson vai na imprensa e fala “eu só consegui roubar a bola do Jordan, porque ele não é mais o mesmo sem usar a número 23”.

O Jordan realmente achou que o 45 estava dando azar e resolveu baixar a camisa 23 dele que já estava aposentada. O Tinker chega com tênis número 45 e o Jordan com a camisa 23. E agora? (risos). Aí ele fala que não quer saber e que ele não ia jogar mais com o tênis número 45. A Nike dá um jeito e aí sim ele passa temporada de 96 inteira, jogando com o Air Jordan 11 o número 23, agora, em linha de série. Depois disso veio o Air Jordan 11 na versão preta, que foi apelidado de Space Jam, e o Bred que era preto com a sola vermelha. Eu era apaixonado pelo tênis mas não tinha o acesso, eu não tinha dinheiro e mesmo se eu tivesse, não tinha quem trouxesse de fora para mim. E fiquei com essa vontade de ter porque eu acho esse tênis muito bonito.

Então o Air Jordan 11 é muito especial para mim pela sua história, eu levei muito tempo para conseguir ele. Depois de exatamente 23 anos depois o tênis foi relançado, com as mesmas especificações do protótipo e com a mesma caixa do Air Jordan 10. Essa é a história do meu grail e o que ele representa para mim, é o tênis que de 96 para cá eu mais desejei ter na vida. Esse ano o Bred vai fazer 24 anos e eles vão relançar também, esse é um dos meus grails também, vou pegar com certeza.

Tirando colorway, qual shape de Air Jordan é seu favorito?

danPara mim, os melhores tênis da série Jordan é o 3, 4, 5 e o 11. E eu gosto de todos os Jordans do 1 ao 22, eu quero ter todos algum dia.

Nike Air Jordan 11 Concord
Ano: Dezembro de 2018
Dono: Daniel Fontes
Fotos por: Deko

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