Diego Garcia Diego

Diego Garcia

Nike Air Zoom TI Street Nike Air Zoom TI Street
16—06—2021 Fotos Por Vinicius Martin
Diego Garcia
Entrevista Nº 172

Você lembra do seu primeiro tênis, aquele realmente especial? Para contar sua história, Diego escolheu um tênis muito especial – o Nike Air Zoom TI Street. Talvez não seja o mais conhecido ou o mais óbvio, mas esse foi o seu primeiro tênis da Nike. Embora ele fosse dois tamanhos menores que seu pé, o que importava era que ele tinha o tênis que queria.

Na entrevista Diego conta também como começou sua paixão pelo basquete. Após assistir o filme Space Jam, ele entendeu que esse esporte seria para sempre uma parte importante da sua vida. Ele mudou de área para seguir o sonho de trabalhar com Marketing Esportivo, e hoje, está a 11 anos na Nike do Brasil trabalhando com o que ama: basquete.

“Bom, primeiro queria agradecer vocês pelo convite. Como eu tinha comentado antes, eu acompanho o trabalho de vocês há um tempo já, é um trabalho bem legal que tem alguma coisa diferente das coisas que estão rolando por aí, no sentido positivo. Então obrigado pelo convite.

Eu sou o Diego Garcia. Trabalho na Nike há 11 anos, trabalho com basquete que é também, a minha grande paixão. Sempre joguei basquete desde pequeno e hoje eu tenho o privilégio de trabalhar com o esporte dentro da marca que eu também sempre gostei desde pequeno. E aí eu também já aproveito pra avisar que aqui quem vai falar é o Diego “pessoa física”, não pessoa jurídica – não to aqui falando em nome da Nike, todas as minha opiniões são pessoais e não tem nada a ver com a empresa ou com a marca, ainda que a minha vida seja muito entrelaçada com marca depois de mais de 10 anos aí. O nosso papo vai ser com opiniões do Diego pessoa física.”

“Essa paixão entrou na minha vida com uma bola, uma brincadeira, uma camisa. De repente, eu fui assistir um filme no cinema, estrelando o Michael Jordan e o Looney Tunes – aquilo ali fez todo o sentido para mim. A partir daí eu fui atrás para aprender mesmo a jogar o jogo. Naturalmente começava, no meu bairro, na minha vila, a ser referência como o ‘moleque do basquete'”

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Quando você teve seu primeiro contato com basquete e em que momento você percebeu que era uma paixão?

Diego Eu sempre tive muito contato com esportes desde pequeno por causa da minha família. Eu tenho um tio que era jogador de futebol, depois se tornou preparador físico e é até hoje de um time de futebol; inclusive, ele está há mais de 10 anos na Índia trabalhando com futebol. O meu outro tio, foi corredor amador de provas de rua, mas era aquele amador que estava sempre junto da elite – era meio que a profissão dele. As minhas primeiras lembranças do esporte são essas, de ir aos jogos e às corridas acompanhar os meus tios.

O basquete acabou entrando na minha vida de uma maneira meio inusitada, porque eu nunca tive ninguém da minha família que jogava. Meu pai jogou quando era mais novo, mas depois, na sua fase adulta, o basquete não estava presente na sua vida ao ponto de ser uma coisa passada pra mim. E aí quando eu tinha 6 ou 7 anos, esse tio que era corredor, me deu de presente, do nada, uma bola de basquete e uma camisa do Jordan. E aí essa bola e camisa mudaram totalmente a minha vida, hoje eu consigo enxergar isso. Eu comecei a brincar com essa bola no quintal da minha casa e essa camisa do Chicago Bulls trouxe a figura do Michael Jordan pra dentro de mim. Eu comecei a partir daí a realmente acompanhar mais, de uma maneira muito lúdica como criança: “O Michael Jordan com a camisa que eu tenho”. E então, depois disso, eu só consigo lembrar de estar absolutamente apaixonado pelo jogo.

O fato relevante que fez com que a minha paixão se concretizasse foi o Space Jam. O filme fez com que me declarasse um fã do basquete. Essa paixão entrou na minha vida com uma bola, uma brincadeira, uma camisa. De repente, eu fui assistir um filme no cinema, estrelando o Michael Jordan e o Looney Tunes – aquilo ali fez todo o sentido para mim. A partir daí eu fui atrás para aprender mesmo a jogar o jogo. Naturalmente começava, no meu bairro, na minha vila, a ser referência como o “moleque do basquete”, porque a galera me via batendo bola na calçada, na frente de casa, já que não tinha quadra de basquete no bairro onde eu morava. Do outro lado da rua, tinha aquele poste de ferro com uma cesta que as pessoas usam basicamente pros cachorros não pegarem o lixo, sabe? E essa era a minha cesta. Eu ficava arremessando a bola naquela cesta de lixo e aí comecei a virar a referência do bairro.

Space Jam foi um fenômeno cultural gigantesco, é muito impressionante como o filme marcou uma geração inteira.

Diego É, isso tem a capacidade de mudar a vida de uma pessoa sem ela perceber. O filme entrou na minha vida de um jeito que realmente foi um dos grandes influenciadores inconscientemente nessa minha nova paixão – o basquete. Talvez se não tivesse existido esse filme, eu não sei o quanto eu teria entrado de cabeça, ainda como criança, no esporte. Isso fez toda diferença.

E agora vamos ter o Space Jam 2, você está animado?

Diego Cara, tudo que é 2 tem sempre aquela chance de não ser como a gente espera. As pessoas que assistiram e cresceram com o primeiro, o original, sempre vão olhar com um olhar de desconfiança. Mas vai ser animal e eu acredito que a função desse filme é de trazer uma molecada nova pro jogo – assim como aconteceu no original – mostrando o quanto basquete extrapola o lance do jogo como performance, e como é um esporte super amplo com uma intersecção de cultura gigante. Então eu to ansioso pra ver como o filme virá pra vida.

Na vida e principalmente quando praticamos um esporte, normalmente você tem algum atleta que seja o seu ídolo, sua inspiração, o que te motiva. Quem foi esse ídolo para você?

Diego A figura do Michael Jordan foi uma introdução ao esporte e a partir do momento que eu comecei a pesquisar mais sobre ele, abriu meus olhos para outras coisas. Além de ser o melhor jogador do esporte que eu gostava, ele também começou a ser uma referência de homem negro de sucesso, que era uma coisa que eu não tinha muito na época. Eu comprei o livro Jordan, e você começa a ver o poder que ele tinha como pessoa, como um ser humano, e não só como um jogador de basquete. Então essa referência dele foi muito importante pra mim na minha juventude/adolescência.

Já na minha fase adulta, a outra referência foi e é o Kobe Bryant, que talvez seja o atleta realmente da minha geração, porque o Michael Jordan eu já peguei no final da carreira dele. E aí de novo, a minha identificação maior com ele, mais do que pelo jogo, é por tudo que ele representava e representa até hoje – o Mamba Mentality. A sua filosofia é de muito trabalho duro, perseverança e fazer as coisas acontecerem, que é uma mensagem que ressoa muito pra mim. Eu vejo que é uma mensagem muito parecida com a do Jordan, só que o Bryant conseguiu aprofundar muito mais porque ele começou a falar sobre isso, tanto que ele escreveu um livro sobre a Mentalidade Mamba.

Talvez esse tenha sido o grande triunfo dele. Porque o Jordan tinha uma conversa de perfeição – ele era um cara extremamente competitivo, não tinha a opção de perder. Já o Kobe destrinchou isso e falou “você vai perder às vezes, mas talvez o modo que você lidar com essa derrota ajude você na sua próxima vitória”. E essa mensagem faz sentido para qualquer pessoa e não somente para jogadores de basquete. A Mentalidade Mamba pode ser aplicada para absolutamente qualquer coisa no mundo. Com as suas falhas, seus problemas, como posso ser melhor do que eu fui ontem e continuar crescendo? Eu não quero ser o melhor, o campeão, para ser melhor que você. Se isso vai implicar de eu ser campeão, de eu ser apontado como o melhor, ok, mas é uma consequência. A gente tá o tempo todo contra outras pessoas de alguma maneira, mas isso não precisa ser de um jeito pejorativo tipo: “eu preciso te destruir pra que eu seja apontado o melhor”. Então é por isso que esse lado mais humano do olhar Kobe faz mais sentido para mim.

“A figura do Michael Jordan foi uma introdução ao esporte e a partir do momento que eu comecei a pesquisar mais sobre ele, abriu meus olhos para outras coisas. Além de ser o melhor jogador do esporte que eu gostava, ele também começou a ser uma referência de homem negro de sucesso”

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O Kobe de certa forma humanizou a fórmula para ser o melhor, ele sempre falava: “Você pode ser o melhor do mundo no que você quiser, mas para isso você vai precisar sacrificar muita coisa na sua vida. Talvez você seja o melhor do mundo, mas não seja o melhor amigo, melhor pai, melhor marido. São esses sacrifícios que nem sempre as pessoas estão dispostas a fazer.” Acho que ele coloca isso em uma perspectiva muito mais fácil de entender do que o Jordan.

Diego É muito louco o impacto que ele teve no basquete e nas gerações de pessoas que passaram a olhar o jogo de outra maneira. Hoje, talvez a gente nem tenha capacidade de entender tudo que ele representou, vai passar uns anos pra gente realmente entender o seu impacto. Assim como hoje a gente começa a ver claramente que o Michael Jordan mudou a história do basquete: tem a história pré Michael Jordan e a história pós Michael Jordan. Acho que em algum momento da história vamos conseguir entender que tem um momento pré Kobe Bryant e um pós Kobe Bryant. Quem é o melhor de todos os tempos? Não tem a ver com quem foi o melhor, essa resposta nunca vai existir. Cada geração vai ter um contexto e vai ter um estilo de jogo acontecendo. Mas eu acho que esses caras tão além dessa conversa de melhor, quais números, quem ganhou mais títulos ou menos títulos.

Você está há 11 anos na Nike, e deve ser muito gratificante poder trabalhar com as coisas que você mais gosta em uma marca que você sempre admirou. Qual foi a sua trajetória até chegar onde você está hoje?

Diego Com certeza. Todos os dias eu agradeço por poder fazer o que eu faço, pois eu sei que eu tenho o privilégio de trabalhar com uma coisa que eu sou apaixonado, dentro da melhor marca, da principal empresa nessa indústria e segmento. Isso é um privilégio que eu não esqueço nunca. E também está muito ligado com a minha trajetória. Acho que todo mundo tem uma trajetória de alguma maneira de luta, de esforço. Mas talvez, o lugar onde eu vim, eu não “deveria estar onde eu estou”. Quando o LeBron James ganhou um dos seus MVPs, no discurso dele ele fala algo que faz muito sentido para mim também. Ele está lá no palco fazendo discurso, agradecendo todo mundo e aí ele fala: “Eu não deveria estar aqui. Eu sou um garoto de uma cidade chamada Akron, no interior de Cleveland, e os garotos que vem da onde eu vim não chegam até aqui. Então eu não deveria estar aqui”. Mas quando ele fala “eu não deveria estar aqui”, não é de uma maneira negativa, é do tipo “eu preciso reconhecer tudo que eu fiz pra poder ter chegado onde cheguei”.

Então eu vejo a minha trajetória dessa maneira, porque eu sou de uma família pobre, de classe trabalhadora. A gente morava e mora ainda, na periferia de Osasco, num lugar que se chama Jardim D’Água. É uma família absolutamente trabalhadora em que o objetivo talvez era ter um emprego – não importa qual, para conseguir pagar as contas e sustentar a família. A gente não tinha muito essa perspectiva de ter uma carreira. De ir atrás do seu sonho sim, mas ter uma carreira e trabalhar numa multinacional e ser da liderança de uma multinacional, não fazia parte das coisas que a gente via no dia a dia. Mas de alguma maneira acreditei nisso, eu acho que eu fui muito inocente no começo. E eu agradeço pelo fato de eu ter sido inocente, sonhar alto e querer trabalhar na Nike.

Eu me formei em publicidade e propaganda na Uninove, que não é uma das melhores faculdades avaliadas em São Paulo. Então pessoas que se formam numa faculdade como a Uninove, geralmente, não tem a ambição de ter uma super carreira, elas estão tentando ter um diploma pra conseguir um trabalho. Na faculdade, eu descobri que publicidade é do caralho, mas não era o que eu queria. Eu tinha uma veia mais de negócios, eu queria fazer business. Aí eu descobri o Marketing – era realmente o que eu queria, e eu poderia trabalhar com os elementos da publicidade, mas de uma maneira muito mais ampla. Depois que me formei em Publicidade, fiz vários cursos de marketing esportivo e descobri que essa área é gigante com uma série de especializações e segmentações. E eu queria trabalhar com alguma coisa que eu amasse e tivesse tesão, eu não ia conseguir simplesmente trabalhar pra ter um paycheck ali no final do mês. Bom, e qual é a outra coisa que eu amo? Basquete e esportes no geral.

E aí eu descobri, para minha surpresa, que existia uma área no marketing chamada “marketing esportivo”. Não era e ainda não é uma área super conhecida, é muito nichado e está em desenvolvimento. E aí eu comecei a meter a cara, porque percebi que era nisso que eu queria trabalhar. Isso significou abrir mão de uma série de coisas: eu já estava trabalhando há 3 anos em uma multinacional na área de vendas, eu tava muito bem. Só que era uma empresa que trabalhava com segurança digital, com bancos e com uma operadora de telefone, absolutamente não era o que eu queria pra minha vida. Mas aquilo ali já tava pagando as minhas contas muito bem. Então eu comecei a procurar outras coisas, e fui trabalhar na então Sadia. Ela sempre foi uma marca que esteve próxima dos esportes olímpicos, patrocinou muitos times e eu vi ali uma oportunidade de me aproximar um pouco mais do que eu queria fazer. Fui pra Sadia também para trabalhar na área de vendas, não era ainda na área de marketing esportivo, mas pelo menos existia um departamento dentro da empresa que trabalhava com isso. Eu fui pra ganhar menos do que na outra empresa, mas pelo menos eu tava chegando mais perto do que eu queria.

Nesse meio tempo eu tracei duas metas principais: quero trabalhar com marketing esportivo com basquete, que é o que amo de verdade; e se tem um lugar que quero trabalhar, é na Nike. É a marca que eu gostava e sempre fui muito próximo por causa do basquete, principalmente, e joguei para o universo “meu sonho seria trabalhar com basquete na Nike”. Só que o meu “jogar pro universo” foi ficar todos os dias numa busca insana por vagas na Nike e milhares de tentativas. Inclusive tem uma história engraçada nesse meio tempo: quando eu tinha 19 anos, não sei como eu descobri o e-mail da gerente de RH da Nike e eu escrevi uma carta, literalmente uma carta – digitalizei, assinei e mandei por email. E a carta basicamente falava o quanto eu era apaixonado pela marca, pelo Michael Jordan, que eu era corinthiano roxo, como essas coisas juntas faziam muito sentido e, obviamente, falava da trajetória profissional. Basicamente tava pedindo pra que ela me desse uma chance de participar de um processo seletivo qualquer, não tinha nenhuma vaga específica (risos), mas basicamente era um adolescente. Óbvio que não deu em nada essa carta, ela nunca nem respondeu, como não deveria responder, porque não é dessa maneira que você consegue um emprego. Mas na época, isso me mostrou o quanto eu queria trabalhar lá.

Vai passando tempo e você esquece dos perrengues que passou para chegar onde está. Eu tava limpando uns arquivos super antigos no computador, achei essa carta e aí comecei a fazer as contas de quando eu mandei até eu ser contratado efetivamente – se passaram 5 anos. Foram 4 ou 5 anos com esse sonho na cabeça até que em um momento rolou. Eu me candidatei pra vários processos seletivos, nunca dava, nunca era chamado, e enquanto isso eu continuei me aperfeiçoando pra caramba. Até que um dia, uns 9 meses depois que entrei na Sadia, eu participei de um processo seletivo da Nike e aí entrei. Não era na área que eu queria, não tinha absolutamente nada a ver com basquete, era ainda na área de vendas, e eu fui ainda pra ganhar menos do que na Sadia: então resumindo, eu cortei meu salário 3 vezes pra conseguir chegar na Nike, mas consegui chegar.

Termina o capítulo de “chegar na Nike” e começa o capítulo “conseguir o meu caminho lá dentro”, Mas pra voltar pra tua pergunta – daquele moleque que ganhou uma bola de basquete, uma camisa do Michael Jordan, assistiu Space Jam e se apaixonou pelo esporte, passou uma história, metade da minha vida até que eu conseguisse ter um emprego na empresa que eu sonhava.

“Nesse meio tempo eu tracei duas metas principais: quero trabalhar com marketing esportivo com basquete, que é o que amo de verdade; e se tem um lugar que quero trabalhar, é na Nike. É a marca que eu gostava e sempre fui muito próximo por causa do basquete, principalmente, e joguei para o universo “meu sonho seria trabalhar com basquete na Nike”. Só que o meu “jogar pro universo” foi ficar todos os dias numa busca insana por vagas na Nike e milhares de tentativas.”

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“Sua trajetória não será linear, vai ter idas e vindas e no momento que você achar que as coisas estão uma merda, que tá tudo dando errado, na verdade aquilo é uma construção para um próximo momento. É difícil. Quando você tá nessa situação, você nunca vai enxergar isso.”

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É muito legal saber toda a sua trajetória. Isso mostra que sempre temos uma caminhada a percorrer, a gente não consegue o que quer quando a gente quer.

Diego Agora eu tô passando o começo da minha carreira e chegando mais na metade dela, agora eu consigo olhar pra trás e ver exatamente o que você tá falando. Hoje, por conta das redes sociais, os jovens acabam tendo uma pressão muito maior sobre sua carreira profissional, do tipo “todo mundo tá fazendo, todo mundo tem sucesso… e eu não”. E a vida não é assim. Independente de quem você seja e de onde você venha. Sua trajetória não será linear, vai ter idas e vindas e no momento que você achar que as coisas estão uma merda, que tá tudo dando errado, na verdade aquilo é uma construção para um próximo momento. É difícil. Quando você tá nessa situação, você nunca vai enxergar isso. Hoje eu tenho a capacidade, de novo, já to na metade da minha carreira, de conseguir olhar pra trás e entender isso. E aí quando eu tenho a oportunidade de falar em plataformas como a de vocês, em que eu sei que tem muitas pessoas mais jovens que estão nessa fase, eu gosto de dar esse lado pras pessoas não acharem que estudou, se formou, virou um profissional de sucesso numa grande corporação, tudo rápido e fácil. Isso não existe.

E qual é o seu papel hoje dentro da Nike?

Diego Hoje eu sou o head de basquete para marketing esportivo na América Latina. Então basicamente o meu trabalho é cuidar de tudo que é relacionado à performance para basquete: relacionamento com os atletas, com as ligas, federações, tudo que é relacionado a alta performance dentro do basquete passa por mim. Além do Brasil, também tenho alguns outros países da América Latina, como a Argentina por exemplo.

É muito basquete o dia todo e não me satura. Eu sempre brinco falando que eu acordo de manhã, e a primeira coisa que eu vou fazer é ler notícia de basquete pra ver o que aconteceu e o que tá acontecendo. Tomo café, vou trabalhar, é o dia inteiro trabalhando e pensando em basquete. Aí chego em casa, tem duas coisas que eu faço pra poder relaxar: quando não tinha pandemia era jogar basquete, ou assistir um jogo de basquete. É muito basquete, mas tá muito natural pra mim – talvez se conecte com aquilo que eu falei, que essa paixão entrou pra mim quando criança e não foi uma coisa que eu escolhi. Faz parte de quem eu sou, literalmente, é um privilégio isso também.

Agora falando sobre tênis, qual tênis você mais curte para jogar basquete?

Diego Cara, eu sou Kobe-fan nos tênis também. Não só obviamente pelo fato de serem os tênis assinatura dele, mas porque a linha dele traz muita tecnologia e disrupção. O Kobe foi o primeiro tênis de cano baixo na história do basquete – deliberadamente feito de cano baixo. Ele quebrou o paradigma de que se você joga basquete, você precisa ter o seu tornozelo protegido; ou que os pivôs precisam jogar de cano alto. Hoje a maioria dos jogadores usam tênis de cano baixo, os de cano alto já são a minoria – isso foi por causa do Kobe. Ele que trouxe isso pra Nike.

Uma vez ele contou essa história desse processo: “eu via os caras jogando futebol com a chuteira desse tamanho. Pô, o Ibrahimović tem 1,95m, essa é quase a minha altura! Ele consegue correr o campo inteiro, mudar de direção, pular, saltar, cabecear, dá bicicleta e ele não torce o pé”. O Kobe trouxe isso lá pra dentro e óbvio que no primeiro momento a Nike ficou “não, como assim, você vai querer mudar uma coisa que tá sendo feita há anos?”. E ele insistiu, insistiu, eles começaram a pesquisar muito, até que viram que realmente tinha uma questão técnica e científica pelo o que o Kobe estava falando: não necessariamente o cano do tênis era o que ia te proteger de uma possível torção. E aí a partir disso mudou a história do game. Eu sou muito fã dos tênis Kobe, eles são até mais democráticos porque qualquer posição pode jogar com eles. A galera fala dos tênis do LeBron que são mais pesados, cada tênis tem sua particularidade, mas acho que o do Kobe é aquele mais intermediário, que todo mundo curte.

E agora boa sorte pra quem quiser tênis Kobe. Quem tem, tem, e quem não tem vai ter que ir pro mercado de resell e estar disposto a desembolsar uma grana boa, porque já era. Acabou.

Porque de todos os seus tênis, você escolheu o seu Nike Air Zoom TI Street para o Kickstory?

Diego Eu até brinquei com vocês, eu acho que as pessoas esperavam que eu trouxesse um tênis super raro que ninguém tem e tal. E eu até falei que talvez esse tênis vá decepcionar um pouco. Mas acabei descobrindo através de vocês que ele não é um tênis super conhecido ou popular, não tem muita informação dele por aí, então no final, ele é um tênis raro (risos). Ele com certeza não tá no “top of mind” dos sneakerheads ou da galera que curte tênis. Mas ele pra mim tem um valor sentimental mesmo, porque esse foi o primeiro Nike que eu consegui comprar com a minha grana.

Desde criança, eu tive o privilégio de ter tênis, mas muito longe de ter os que eu queria. Eu sempre tive o tênis de ir pra escola e o de jogar basquete – que era o que tinha que durar alguns anos. Já na adolescência, com uns 17 anos, eu comprei esse tênis quando eu estava entrando na faculdade.

Principalmente quem mora em periferia sabe que sempre tem alguém vendendo alguma coisa mais barato que o amigo trouxe de sei lá onde – seja roupa, tênis, ou enfim. Aí eu tenho esse amigo que falou “eu to com esse tênis da Nike aqui”, novo obviamente, zerado, eu queria muito ter um Nike e sempre gostei de tênis branco. Tava bem mais barato do que na loja mas tinha um porém – ele era um tamanho e meio menor do que eu usava e obviamente não tinha a opção de escolher outro tamanho. Então eu falei “é menor que o meu pé, vai ficar apertado”. Aí o cara falou “tira a palmilha que sem ela cabe” (risos). Eu tirei a palmilha e ficou apertado pra caralho, mas pra mim, naquele momento, o mais importante era ter esse tênis.

Era o tênis que eu podia comprar. Pra você ter uma ideia, esse tênis é tamanho US 9.5 e na época eu calçava US 10.5. Hoje eu calço US 11.5 ou US 12. O fato de estar apertado não estava me incomodando – era muito mais o prazer de poder ter e calçar o tênis, do que a dor ou o incômodo dele tá menor. E assim, eu usei muito esse tênis por uns 2 ou 3 anos, muito mesmo. A sola dele é vulcanizada, super grossa, e no calcanhar ela tá toda gasta. E olha que eu só o usava em situações especiais – quando ia fazer um rolê ele era o meu tênis de sair – até porque ele era o único que eu tinha nesse momento pra isso, então ele acabou tendo um valor muito sentimental pra mim.

Hoje eu tenho alguns outros pares de tênis comigo, mas eu continuo guardando esse porque ele me lembra dos momentos de ralação pesada, mas ao mesmo tempo, de prazer, alegria, de ter sido o tênis que eu consegui comprar e que eu amava. Acho que tem um lance de perspectiva que eu aplico até hoje na minha vida: às vezes a gente tá em uma fase ruim ou difícil – mas cara, talvez se você olhar de uma outra perspectiva, não tá tão ruim assim. E pra mim esse tênis tem essa simbologia também: estava apertado, mas não era isso que importava, pra mim a alegria de ter esse tênis era maior do que isso. Então era essa a perspectiva que eu olhava pra ele.

“Acho que tem um lance de perspectiva que eu aplico até hoje na minha vida: às vezes a gente tá em uma fase ruim ou difícil – mas cara, talvez se você olhar de uma outra perspectiva, não tá tão ruim assim. E pra mim esse tênis tem essa simbologia também: estava apertado, mas não era isso que importava, pra mim a alegria de ter esse tênis era maior do que isso. Então era essa a perspectiva que eu olhava pra ele. “

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Você lembra quando começou a sua paixão por tênis? Quando foi aquele momento que você viu um par e deu aquele “clique” especial?

Diego Quando eu jogava basquete, eu não olhava muito pros Nikes e Jordans porque pra mim era uma coisa inacessível. Então eu focava nos que eu podia ter (e esse eu cheguei a ter): o AND 1 Tai Chi, que era metade branco e metade preto. Na época o AND 1 tava bombando como cultura e basquete de rua mesmo, a gente nem via a AND 1 como uma marca. Passava na ESPN os caras fazendo tour de busão lá nos Estados Unidos. Eles vieram pra cá e o tênis era muito mais acessível, e pra mim, ele durava muito mais porque era um tênis feito pra você jogar na rua. Então para mim era perfeito, eu comecei a jogar basquete no parque Villa-Lobos e também numa escola que tinha perto da minha casa, porque não tinha lugar pra jogar. Se eu não tivesse um tênis que durasse, eu tava ferrado, porque eu só teria a possibilidade de ter um tênis de novo no meu aniversário do próximo ano. Então por pelo menos um ano, aquele tênis tinha que durar.

Lembro que ganhei o Tai Chi de presente de aniversário da minha madrinha e, cara, eu ficava com muita dó de jogar com ele, eu não queria jogar no concreto com o meu AND 1 novinho. Mas se não fosse com ele, eu não teria com o quê jogar. Então esse foi um dos primeiros tênis que eu lembro de ter esse cuidado mais especial.

Hoje eu não tenho ele mais porque eu usei até a última gota de tênis que existia ali. Na época, acho que pelo jeito que eu corria, todos os meus tênis gastavam mais no dedão. Esse meu Tai Chi abriu um buraco no dedão e lembro que eu colocava jornal e papelão embaixo da sola; já passei silvertape em volta dele também, então assim, eu usei até o último momento, não tinha como guardar nem passar pra frente, tive que jogar fora.

É, a AND1 foi gigante, era “a marca” para quem jogava basquete. E foi ela que trouxe esse boom do streetball, o que acabou trazendo muita gente nova para o basquete no mundo todo.

Diego Cara, a AND 1 foi uma das primeiras marcas aqui no Brasil, na história recente, que conseguiu falar sobre lifestyle da maneira mais true possível. Lembro que comprei uma camisa da AND 1 na Centauro e eu queria andar na rua com ela para que as pessoas soubessem que eu jogava basquete. As camisas da AND 1 era muito isso, tinha uns grafismos de uns bonecos e frases muito de ballers. Foi uma época legal. A AND 1 existe até hoje, óbvio que hoje ela tá num outro posicionamento, mas é inegável a importância dessa marca para a cultura do basquete.

Depois de trabalhar tanto tempo na Nike, você acha que no geral mudou a sua relação com tênis?

Diego Eu ainda tenho uma relação muito afetiva com o tênis. Com certeza está muito relacionado a história de não ter tido muitos tênis, então, até hoje, todo tênis que eu compro eu cuido com carinho, fico com aquele medo de sujar. E sou assim mesmo tendo muitos tênis. Não é ter por ter o novo Jordan para deixar lá na caixa, é um lance de afetividade que continua até hoje, mesmo já tendo visto todos os tênis possíveis e já ter tido todos os tênis possíveis.

Esse aqui que eu tô é um deles, que eu quase nunca uso porque é o tênis do Fresh Prince e eu cresci sendo “fãzaço” do Will Smith, sou até hoje. Eu assistia muito o seriado. Pela minha história e personalidade, eu me via muito como o Fresh Prince of Bel-Air. Quando esse tênis saiu eu não consegui comprar porque ele acabou rápido demais. E aí numa viagem, um super amigo meu falou: “eu vi um tênis que me lembrou muito você, e eu comprei ele de presente”. Ele mora no Canadá, então lá ele tinha muito mais acesso do que a gente aqui. Cara, quando eu abri a caixa, que eu vi que era esse tênis, eu falei: “cara, não é possível que você me deu esse tênis!”. Por isso que eu tenho uma relação muito afetiva com esse Jordan.

Então com os meus tênis o carinho continua sendo assim, eu não entrei numa vibe, mesmo onze anos depois de “ah, é só mais um par de tênis”. Para mim nunca é só mais um par de tênis.

Nike Air Zoom TI Street
Dono: Diego Garcia
Ano: 2007
Fotos: Vinicius Martin

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