De todas as 155 entrevistas que fizemos até agora, essa definitivamente é uma das nossas favoritas – e isso por que nós tivemos a incrível oportunidade de sentar com Jeff Staple.
Durante nossa viagem à NY, Jeff nos convidoua seu escritório, para sentar e conversar sobre alguns dos seus projetos, o começo da Staple, sobre o tênis que tudo começou para ele, e até da onde surgiu a idéia da pomba.
Ele é designer, dono da Staple Design Studio e Staple pigeon, fundador da Reed Space, diretor criativo da Extra Butter, locutor de seu próprio podcast, The Business of Hype, e o homem responsável por inúmeras colaborações absurdas e icónicas.
Confira algumas das historias incríveis que ele nos compartilhou na sua entrevista, abaixo.
Nós queremos agradecer muito o Jeff por ser tão gentil e ter o tempo de sentar com a gente para essa entrevista, e também, a todo o pessoal do escritório por serem tão legais com a gente.
“E aí, eu sou o Jeff Staple, estamos na cidade de Nova Iorque, onde eu moro a maior parte do tempo. Eu sou o fundador da Staple, que é uma linha de roupas chamada Staple Pigeon e é também, um estúdio de design e agência criativa chamada Staple Design Studio. Também sou fundador de uma loja pioneira chamada Reed Space e me tornei o diretor criativo de outra loja chamada Extra Butter. Eu também tenho um podcast chamado Business Of Hype no Hypebeast Radio, e é basicamente isso.”
“Ele me perguntou se eu conseguiria fazer 12 e eu disse: “Claro, eu consigo fazer 12”. E eu ainda tinha que invadir a escola, fazer as 12 camisetas e levar de volta para ele. Essa foi a primeira vez que a Staple foi de fato um negócio, com um pedido de 12 camisetas.”
Então, como você começou sua marca?
JeffEu comecei minha marca há muito tempo atrás, em 1996. Eu estudava na Parsons School of Design e era um designer gráfico. Eu não curtia muito design de moda e essas coisas, o meu interesse era em design gráfico e branding e na verdade, eu só queria colocar as minhas ideias e as minhas artes em camisetas, ao invés de no papel. Foi assim que eu realmente comecei. Nós tínhamos aula de silkscreen e eu aprendi a silkar no papel – mas eu queria mudar para camisetas – e alguns dos meus primeiros silkscreens da escola estão alí em cima. E é engraçado porque, na real, a escola não permitia impressão em camisetas, eles só permitiam impressão em papel, eles haviam banido a impressão em camisetas. Então eu e meu amigo tínhamos que invadir o estúdio de silk screen e usar o maquinário para camisetas.
Todos os dias a gente deixava uma janela aberta na sala de silk screen e depois da escola a gente voltava e pulava a janela com umas camisetas lisas brancas e fazíamos camisetas a noite inteira. Nós estávamos fazendo para dar para outros alunos, não havia intenção do tipo “vamos criar uma marca!” Não, era só “Eu fiz 12 camisetas e eu vou dar elas para os meus amigos, assim eles poderão usar as minhas estampas”. Eu sempre achei que isso era muito mais legal do que só dar 12 pôsteres para as pessoas, que só iam ficar pendurado no quarto delas, e ninguém nunca mais iria ver. Eu achava muito mais legal que eles andassem por aí com as minhas artes.
Como você soube que era a hora certa para iniciar seu próprio negócio?
JeffMinha marca ainda era um hobby quando eu vendia para aquelas lojas no Soho, ainda não era realmente um negócio. Eu estava apenas tentando ser um designer gráfico e um estudante em período integral. E eu, também tinha um trabalho de verdade numa empresa de design de interiores e um trabalho noturno na Kinko’s. Então meu dia era: eu ia para a escola o dia todo, às três da tarde eu ia para o meu trabalho na empresa de design de interiores, trabalhava lá até às sete, e ia para o meu trabalho noturno no lugar na fotocópia e trabalhava lá até à meia-noite ou uma da manhã. Então eu ia para casa tipo às duas da manhã e só aí eu trabalhava na Staple. Então eu nunca dormia e eu quase nunca fazia lição de casa também (risos). Eu basicamente vivia correndo 22 horas por dia por tipo um ano, fazendo malabarismo com todas essas coisas.
E é uma ótima pergunta porque eu estava vendendo para todas essas lojas no Soho, até que um dia, um cara do Japão ligou na minha casa, e ele falou: “Eu gosto muito da Staple, posso encomendar com você? Eu queria mil camisetas”. E não esqueça que nessa altura eu ainda invadia a escola para fazer camisetas, então eu fiquei tipo: “O quê?”. E ele disse: “É, sabe essas camisetas que você faz? Eu quero mil de cada”. É, então eu tinha tudo isso acontecendo na minha vida. Eu tinha um trabalho que era uma grana constante, eu tinha dois trabalhos, estava cursando integral, eu tinha clientes de design gráfico, a linha de roupas nas lojas do Soho. Então eu decidi largar a escola. Porque eu pensei: “Eu não tenho dinheiro, então uma coisa que eu preciso é mais dinheiro”. E a escola me custava dinheiro. Então em 1997, eu decidi trancar a faculdade, manter meu trabalho, tentar dar conta desse pedido de mil camisetas e ver o que acontecia. Eu saí no meu segundo ano na Parsons, que é uma das melhores escolas de design do mundo, então era um risco, mas foi quando os negócios se tornaram mais sérios. E exatamente nove meses depois, eu deixei todos os outros trabalhos para me dedicar somente à Staple.
E eu literalmente quase me matei de tanto trabalhar. Eu literalmente quase morri. Eu andava de skate na época e, uma noite, eu estava indo de skate do meu trabalho noturno para casa às duas da manhã, e eu caí muito feio no cruzamento da Broadway com a Spring. Eu estava fazendo aquele negócio onde você segura na traseira do carro e eu peguei parafuso enorme. E foi tão forte que eu saí rolando por umas duas quadras. Por sorte eu me recuperei desse acidente, mas eu disse para mim mesmo: “Ok, isso está me matando agora, literalmente, então eu provavelmente deveria parar.” E eu estava com medo de largar a faculdade e o emprego e depender completamente da Staple. Foi assustador, mas eu fui forçado a fazer isso por causa do acidente. Aí eu passei a ser Staple tempo integral e tenho sido Staple tempo integral desde então. E eu nunca voltei para a escola ou tive um trabalho de período integral.
“Mas o único problema com dar aulas é a quantidade de tempo que toma versus a quantidade de pessoas que eu consigo atingir. Por exemplo, quando eu dou aula em uma classe com 30 jovens, essa aula me toma três horas e eu só estou falando com 30 pessoas. Com o SkillShare, com essas mesmas três horas eu falo com 30.000 pessoas. Então eu sempre tento ser muito eficiente com o meu tempo e ter certeza de que, quando eu tenho um tempo para compartilhar, eu consiga fazer isso com a maior quantidade de pessoas.”
Por que você sentiu necessidade de criar o podcast The Business of Hype?
JeffFoi por que há anos eu venho participando de talks, como eu fiz em São Paulo, eu dou aulas – e, na verdade, avançando alguns anos, eu eventualmente me tornei um aluno honorário da Parsons, então eles me deram um diploma mesmo eu não tendo terminado a escola – e acabei dando aula na Parsons e na NYU. Eu também tenho esse programa com uma empresa chamada SkillShare que é tipo ensino online. Então eu venho fazendo tudo isso e tentando dar conta de tudo, mas o único problema com dar aulas é a quantidade de tempo que toma versus a quantidade de pessoas que eu consigo atingir. Por exemplo, quando eu dou aula em uma classe com 30 jovens, essa aula me toma três horas e eu só estou falando com 30 pessoas. Com o SkillShare, com essas mesmas três horas eu falo com 30.000 pessoas. Então eu sempre tento ser muito eficiente com o meu tempo e ter certeza de que, quando eu tenho um tempo para compartilhar, eu consiga fazer isso com a maior quantidade de pessoas.
Você teve a chance de entrevistar várias pessoas incríveis no Business Of Hype. Teve alguma entrevista ou algo que alguém disse que se destacou para você?
JeffEu recentemente entrevistei a Alife e eles contaram uma história muito interessante: eles foram a única loja do mundo que receberam o Nike Air Woven naquela época, e para registrar esse marco, eles chamaram um amigo deles, Todd James Reas, que é um grafiteiro bem famoso, tirar a palmilha, taggear “Alife x Reas” no fundo, e colocar de volta no tênis e vender. Eles disseram no podcast que era a primeira vez que eles contaram isso publicamente – e eles lançaram esse tênis tipo há 20 anos atrás. Então se você comprou um Air Woven da Alife em 2000, você deveria olhar debaixo da sua palmilha para ver se você tem uma collab do Reas com a Nike. E foi incrível ouvir isso em primeira mão. E ouvir que eles fizeram isso, porque eles estavam fazendo uma collab com um artista antes da Nike pensar em fazer, sabe? Hoje em dia, se você fizer algo assim, já faria toda uma campanha de marketing enorme em volta disso. Eles simplesmente fizeram e ficaram: “Nós não vamos contar para ninguém.” E imagina 20 anos depois e você vê isso e tipo: “Oh meu Deus!” As obras desse cara são vendidas por tipo dezenas de milhares de dólares, então você teria ter uma peça autografada do Reas na sua coleção. Ter acesso a essas pequenas informações secretas no podcast é muito maneiro.
Eu tenho outra. Quando eu fui visitar o Jerry Lorenzo no seu escritório da Fear Of God em L.A. Ele tem um escritório super limpo, você não pode nem usar sapatos no escritório, estilo japonês. E tradicionalmente no Japão, você tira seus sapatos quando você entra na casa, mas quando você vai ao banheiro, eles têm um par de chinelos para você usar porque o chão pode estar sujo. Então quando eu perguntei ao Jerry: “Posso usar o seu banheiro?”, no lugar de chinelos, tinham tênis para usar enquanto usava o banheiro, mas os tênis eram tipo, Sacai, Fear Of God, Jordan do Travis Scott! Eram tipo grails que você usa para mijar (risos). E eu fiquei tipo: “Você usa Sacais para mijar, isso é outro nível” (risos).
“Quando eu fui visitar o Jerry Lorenzo no seu escritório da Fear Of God em L.A. Ele tem um escritório super limpo, você não pode nem usar sapatos no escritório, estilo japonês. E tradicionalmente no Japão, você tira seus sapatos quando você entra na casa, mas quando você vai ao banheiro, eles têm um par de chinelos para você usar porque o chão pode estar sujo. Então quando eu perguntei ao Jerry: “Posso usar o seu banheiro?”, no lugar de chinelos, tinham tênis para usar enquanto usava o banheiro, mas os tênis eram tipo, Sacai, Fear Of God, Jordan do Travis Scott! Eram tipo grails que você usa para mijar (risos). E eu fiquei tipo: “Você usa Sacais para mijar, isso é outro nível” (risos).”
“Eu cheguei um pouco atrasado à aula, e a classe inteira e a professora imediatamente olharam para mim porque eu estava atrasado, certo? E aí eles olharam para baixo para os meus pés porque ninguém tinha visto um tênis assim antes. Até a professora estava tipo: “Uau!”. Então eu quebrei tipo 20, 30 pescoços ao mesmo tempo. E depois disso eu fiquei pensando “Wow! Eu acabei de abalar essa sala inteira, e essa sensação é viciante. Então, desse ponto em diante eu senti que eu tinha que continuar indo atrás dos tênis para garantir que eu continuasse quebrando os pescoços (risos).”
Quando foi a primeira vez que você percebeu que gostava de tênis? Você se lembra de um tênis que viu e ficou tipo “Uau!”?
Eu sinto que quase todo sneakerhead tem um momento em que ele eventualmente se desfaz de uma boa quantidade dos seus tênis, certo…
E você tenta usar todos os seus tênis? Pelo menos os que estão na sua casa?
Então agora falando de collabs, como você sabe quando é o momento certo de colaborar com outra marca, e como fazer o processo orgânico?
JeffEu tento manter o processo de selecionar uma colaboração muito orgânico, muito real para mim e pela natureza de ser uma colaboração, tem duas pessoas envolvidas, então não tem que ser apenas bom para mim, tem que ser bom para a outra pessoa também. E o timing é tudo: às vezes, nós dois queremos fazer algo, mas o timing não faz sentido para nenhum dos dois. Então, algumas colaborações levam algum tempo até para começar. Existem muitos fatores quando uma colaboração acontece e o porquê ela acontece. Eu adoro ouvir os jovens nas redes sociais dizendo: “Oh, você tem que fazer isso acontecer agora!”. E não é tão fácil, mesmo que eu conheça as pessoas e saiba como fazer acontecer, ou até já tenha feito. Você não pode só estalar os dedos e fazer acontecer. Existe todo um processo para isso. Então eu tento manter tudo bem orgânico, e recentemente eu tenho curtido a ideia de collabs não-óbvias, tipo colaborações estranhas, que não são muito típicas e óbvias, sabe? Eu tenho curtido isso no momento (risos).
Isso é uma coisa que a gente sempre quis saber – por que você escolheu o pombo como o logo da Staple?
Air Jordan III Black Cement
Dono: Jeff Staple
Fotos por: Kickstory (Ian Homem de Mello)