Knu Kim Knu K.

Knu Kim

Paracia R-Type 01 Paracia R-Type 01
27—11—2023 Fotos: Kickstory
Knu Kim
Entrevista Nº 194

Caminhando por Malasaña, em Madri, nos deparamos com a Paracia, uma loja discreta por fora, mas cheia de produtos autênticos por dentro. Conhecemos Knu, o criador da marca, numa conversa animada sobre design e tênis. Contamos sobre o Kickstory, e ele topou na hora participar da nossa entrevista. O que começou como um passeio se transformou em uma conexão única que o tênis nos trouxe.

Nesta entrevista, mergulhamos na trajetória de Knu Kim. Nascido na Coreia do Sul, ele é o co-fundador da Paracia – marca especializada na produção de sapatos, botas de couro, bonés e até alguns modelos de tênis. Sob a liderança de Knu e seu sócio, a Paracia se destaca, não apenas pela qualidade de seus produtos, mas também como uma marca independente, moldada pela fusão de design contemporâneo e tradição. Pra amarrar tudo isso, o tênis escolhido por ele foi o Paracia R-Type 01. Ele conta como foi o processo de criação de seu tênis estilo Runner, e quais foram as inspirações.

“Meu nome é Knu. Sou originalmente da Coreia do Sul, me mudei para a Espanha há dez anos, e antes disso, morei na Alemanha por uns cinco anos. Sou um dos cofundadores da Paracia, onde produzimos tênis, sapatos e botas de couro. Além disso, temos alguns acessórios, como bonés. Iniciei a marca na Coreia com meu melhor amigo, e hoje somos parceiros.

Além da Paracia, me interesso por fotografia. Tiro fotos para minha marca, para outras marcas e, às vezes, para revistas. Isso é meio que o meu ‘trabalho hobby’, eu adoro. Também trabalho com estratégia de design e dou aulas na universidade. Faço muitas coisas, mas no momento, meu trabalho principal é a marca.”

Como você entrou no design?

knu Na verdade, eu estudei administração, nunca estudei design. Me mudei para a Alemanha, comecei a trabalhar lá e, após cinco anos, quis mudar de carreira. Queria fazer algo mais criativo. Foi por isso que me mudei para a Espanha e fiz meu mestrado.

Depois disso, eu tava buscando aprender mais, não necessariamente design, mas algo criativo. E, claro, sempre gostei de roupas, e na época, meu amigo, que agora é meu sócio na Paracia, já estava fazendo trabalho de assessoria de produção para outras marcas. Ele morava na China na época e um dia falou: “ei, por que não começamos algo? Eu sei como produzir, tenho alguns contatos na China, e você entende de negócios. Então, vamos fazer isso”. Foi assim que começamos.

Mas na época, eu também entrei na metodologia de design por meio do meu mestrado. Após um ano, entrei em um estúdio de design. Como eu tinha formação em administração, entrei como estrategista de design. Trabalhei lá por seis anos. Eu tava mais envolvido na parte estratégica, mas trabalhava com diferentes designers, como UX/UI, gráfico, visual, design interativo – com isso, fui aprendendo design. Enquanto construía a marca, tive que aprender o design do produto também. Era aprendendo, fazendo.

Hoje, a Paracia tem dois tipos diferentes de calçados, tênis e sapatos, e também bonés. Por que você decidiu entrar no negócio de calçados?

knu Iniciamos esse projeto em 2014. Na época, ao observar a indústria de calçados, ela era dominada por marcas mainstream como Nike, adidas, Puma, etc., e também algumas marcas independentes menores estavam surgindo com seus próprios designs. Vimos que tinha um mercado que poderíamos entrar como uma marca pequena.

Não tínhamos formação em design de moda, então fazer roupas era algo que não nos sentíamos confortáveis em fazer. Mas calçados era mais sobre o produto, então percebemos que era algo que poderíamos começar, que tínhamos contato e vimos que era um mercado de nicho. Ao mesmo tempo, a gente queria criar algo valioso para os clientes, porque na época, as ofertas eram principalmente de marcas mainstream. Nossa ideia era “por que não criar algo mais local e independente?”. Foi assim que começamos.

Na época, eu morava na Europa e meu amigo tava na China. Ele voltou para Seul, então produzíamos entre China e Coreia. Tentamos fazer calçados em algumas fábricas na Coreia, mas a qualidade não era tão boa quanto nas fábricas chinesas. Agora, trabalhamos principalmente com elas para calçados, e nossos bonés são produzidos na Coreia. No momento também estamos trabalhando com uma fábrica espanhola para introduzir novos modelos.

Quando começamos a marca, vendíamos principalmente na Coreia, tínhamos nosso escritório e uma loja pequena. A gente vendia através de nossa loja e várias lojas na Coreia do Sul. Na época, eu estava trabalhando em tempo integral, em três empregos diferentes, e também, na nossa empresa, ainda fazíamos esse trabalho de assessoria para outras marcas – imagine ter uma marca de roupas e não saber como produzir ou projetar sapatos, então eles vinham até nós e ajudávamos a projetar novos modelos de acordo com a direção deles. Também temos fábricas onde realizamos um controle de qualidade reduzido e depois entregamos as mercadorias, então esse negócio sempre esteve presente.

Como a gente tava fazendo todas essas outras coisas, a marca meio que estava morrendo. Ela tava lá, mas ninguém conseguia cuidar dela. Eu queria sair do estúdio que trabalhava para me dedicar a esse projeto, mas aí aconteceu a COVID e eu não pude sair do estúdio. Isso se prolongou por mais dois anos. Eventualmente, em 2021, quando tudo estava voltando ao normal, finalmente deixei o estúdio para me dedicar integralmente à Paracia.

Mas eu estando em Madri, tentando vender nossos produtos na Coreia, não tava funcionando. Decidimos reformular a marca, recriar tudo, introduzir novos modelos e depois abrimos esta loja que estamos, então mudei o ponto central para Madri. A partir daqui, começamos a introduzir essa nova marca no mercado europeu, fomos pra Paris apresentar nossa coleção e trabalhamos com pequenas boutiques.

Iniciamos esse projeto em 2014. Na época, ao observar a indústria de calçados, ela era dominada por marcas mainstream como Nike, adidas, Puma, etc., e também algumas marcas independentes menores estavam surgindo com seus próprios designs. Vimos que tinha um mercado que poderíamos entrar como uma marca pequena.”

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Qual seria seu próximo passo para a Paracia?

knu Atualmente, temos esta loja e nossa loja online. Também começamos a trabalhar com algumas lojas multimarcas, principalmente na Europa. O próximo passo para a marca será ter mais presença, com diferentes produtos através de outras lojas multimarcas. Essa é uma maneira de introduzirmos nossos produtos para um público mais amplo. Também estamos trabalhando em algumas colaborações com outras marcas.

O próximo passo para a marca será ter mais presença, com diferentes produtos através de outras lojas multimarcas. Essa é uma maneira de introduzirmos nossos produtos para um público mais amplo. Também estamos trabalhando em algumas colaborações com outras marcas.”

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Quando começou seu relacionamento com tênis?

knu Quando eu era jovem, eu realmente gostava de tênis. Eu tinha os Reeboks, sabe, os tênis de basquete. Também tive provavelmente um dos primeiros modelos dos Nike Air Max, eram meus tênis favoritos. Teve um grande sucesso dos Air Max 95, 97, então eu sempre tinha um par. Sempre gostei de sapatos e tênis, não podia comprar muitos deles, mas sempre tive pelo menos um par de tênis bom que eu gostava. Hoje em dia não uso tanto, mas ainda gosto deles, especialmente quando se trata de design.

E o que fazemos como marca é sempre tentar reinterpretar, ou encontrar uma nova maneira de fazer um design de calçado tradicional e clássico. Já foi feito e existem tantos designs bons, mas buscamos trazer um toque contemporâneo.”

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Você escolheu falar sobre o Paracia R-Type 01 para sua entrevista no Kickstory. Pode contar um pouco sobre esse tênis?

knu Este é o modelo que tínhamos antes de lançarmos as botas e toda a linha de calçados. Antes a gente tinha mais tênis, mas como tem muitas marcas independentes fazendo tênis, sentimos que os modelos que tínhamos antes eram muito simples. Percebi que precisávamos nos diferenciar das outras marcas. Este tênis estilo corrida é na verdade mais difícil de produzir do que os tênis tradicionais de sola-caixa, porque geralmente esses têm apenas um ou dois materiais, e o design do cabedal é mais simples. Então é fácil para marcas pequenas fazerem.

O R-Type, o design original vem de um tênis dos anos 80. Nos anos 70, materiais tipo EVA, não existiam ainda e a sola precisava ter várias camadas, mas mais tarde isso foi inventado pela Nike. E o que fazemos como marca é sempre tentar reinterpretar, ou encontrar uma nova maneira de fazer um design de calçado tradicional e clássico. Já foi feito e existem tantos designs bons, mas buscamos trazer um toque contemporâneo.

Pra este modelo em particular, o que fizemos é que a sola é ligeiramente maior do que a de um tênis comum, para que você tenha um visual mais contemporâneo. Existem algumas versões com colorways mais clean, porque sempre precisamos delas, mas esta que escolhi tem um couro especial de uma curtidora inglesa chamada CF Stead, e trabalhamos com eles em muitos de nossos modelos de botas. Então você consegue ter esse efeito especial e esse visual desgastado para combinar com o tipo de couro. A sola é nosso próprio design, claro, parece semelhante aos tênis tradicionais, mas temos nossos pequenos logotipos P nela.

Esse modelo é chamado R-Type 01 e estamos trabalhando no R-Type 02. Como é um tênis estilo runner, por isso que é “R” type. Temos o D-Type, B-Type e assim por diante. O “B” type é para botas, o “D” type é para derby e o “C” type é para bonés (caps em inglês). Todos os nossos modelos têm o nome do tipo.

Uma das coisas que não fazemos é nunca colocar nossos logotipos em nossos produtos. Temos logotipos, claro, na palmilha, mas do lado de fora você não vê nenhum logotipo. Essa é uma dos valores e filosofias da marca – nossa abordagem é que um bom design deve ser reconhecido pelo próprio design, pelos materiais utilizados. Você não precisa colocar um grande logotipo para saber de qual marca é. Por exemplo, eu amo cadeiras, como essas peças renomadas. E esta é uma das minhas cadeiras favoritas, então quando olho para esta cadeira, sei quem a projetou, não precisa colocar um nome ou um logotipo para saber quem fez. Isso é algo que tentamos fazer. É difícil, mas é o nosso mantra, quando lançamos algo, não queremos lançar algo semelhante a outra marca. Queremos que realmente se destaque como um design em si.

Essa é uma dos valores e filosofias da marca – nossa abordagem é que um bom design deve ser reconhecido pelo próprio design, pelos materiais utilizados. Você não precisa colocar um grande logotipo para saber de qual marca é.”

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Além dos tênis, você também produz outros tipos de calçados. Pode nos contar mais sobre isso?

knu Queremos criar uma marca de calçados que você possa encontrar diferentes estilos que combinem com suas diferentes roupas. Uma marca de calçados completa. Agora estamos trabalhando em outro tênis, é mais com sola reta e sola-caixa. Espero lançar em breve, ainda estamos fazendo alguns protótipos.

Expandimos para derbies e botas, porque você pode não querer usar tênis todos os dias, às vezes quer usar um visual diferente. Agora temos dois modelos diferentes de derbies, Type 01 e 02, e botas também 01 e 02. Todos esses são sapatos de alta qualidade – tudo é costurado, usamos couro de muito boa qualidade de fábricas de curtumes ingleses e americanos, e a sola é da Vibram. Tentamos usar o máximo de materiais premium possível. Agora estamos trabalhando em derbies um pouco mais despojados, mais elegantes. Vamos adicionar mais modelos para combinar com diferentes tipos de roupas para os nossos clientes.

Queremos criar uma marca de calçados que você possa encontrar diferentes estilos que combinem com suas diferentes roupas. Uma marca de calçados completa.”

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Você usa uma fivela muito única em alguns de seus sapatos e em seus bonés. Qual é a ideia de usar essa fivela específica, e não apenas uma comum?

knu Para o D-Type 02, usamos essa fivela magnética de uma empresa alemã chamada Fidlock. Eles fazem esse tipo de fivela para esportes, capacetes de motocicleta e bolsas. Eles têm fivelas muito boas e design incrível. Para o D-Type 02, por exemplo, ela vem do design original da double monk strap, quando você tem duas tiras que se fecham com uma fivela. Mas então mudamos para algo mais conveniente, fácil de abrir e fechar, e que tem uma vibe futurista, mas também uma paleta de cores dos anos 90, com preto e vermelho.

Começamos a usar essa fivela também para nossos bonés, como o C-Type 01, que tem a fivela na parte de trás. Como são magnéticas, você pode simplesmente colá-las em uma superfície metálica. É bastante prático e funcional.

você precisa acreditar no que tá fazendo, acreditar no seu projeto. No final, com esse tipo de produto, não estamos inovando o mundo. Vamos dizer que você não está indo para Marte (risos), tem um limite para fazer algo novo. E isso significa que a execução é realmente importante. Você precisa acreditar no seu projeto, simplesmente siga em frente e faça direito.”

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É realmente inspirador ver você e seu sócio abrirem uma marca em um mercado tão grande e competitivo. Que conselho você daria para quem quer abrir seu próprio negócio em um mercado desafiador, como o de calçados?

knu Tem muitas coisas que eu poderia dizer, mas a primeira delas seria: você precisa acreditar no que tá fazendo, acreditar no seu projeto. No final, com esse tipo de produto, não estamos inovando o mundo. Vamos dizer que você não está indo para Marte (risos), tem um limite para fazer algo novo. E isso significa que a execução é realmente importante. Você precisa acreditar no seu projeto, simplesmente siga em frente e faça direito. Provavelmente isso é o mais importante.

E a segunda coisa para mim é: você precisa começar pequeno. Não tente criar uma grande marca com uma identidade enorme. Se você gosta de algo, crie algo bem pequeno, teste com seus amigos, sua família, com as pessoas ao seu redor, e veja como as pessoas reagem ao que você acabou de criar. A partir daí, você começa a replicar. Não precisa ser uma marca desde o início. Quando começamos, fizemos apenas um sapato, sem ter nenhuma ideia de design ou marca. Mas com o tempo, aprendemos como fazer. Comece com algo pequeno e teste com as pessoas ao seu redor. Fazendo isso, você realmente valida sua ideia, conceito e design. Isso também ajuda a identificar as lacunas em suas habilidades, onde você precisa de ajuda e onde precisa crescer. Eventualmente, depois de testar as coisas por alguns anos, você pode decidir algo mais concreto.

Quando começamos, fizemos apenas um sapato, sem ter nenhuma ideia de design ou marca. Mas com o tempo, aprendemos como fazer. Comece com algo pequeno e teste com as pessoas ao seu redor. Fazendo isso, você realmente valida sua ideia, conceito e design.”

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Paracia R-Type 01
Dono / Proprietário: Knu Kim
Fotos / Fotos: Kickstory
Ano: 2023

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