Nick DePaula Nick

Nick DePaula

Nike Air Zoom Flight 95 Nike Air Zoom Flight 95
22—12—2022 Fotos por: Kickstory
Nick DePaula
Entrevista Nº 185

Ir até a casa do Nick DePaula falar sobre tênis, basquete e ver ao vivo algumas das raridades que ele tem na sua coleção, foi mais uma das coisas surreais que fizemos na nossa viagem a Portland. Porém, que o pai dele é brasileiro e que ele até já morou no Brasil, a gente realmente não esperava!

Do momento que Nick viu Kevin Garnett na capa da primeira edição da revista Slam Kicks, ele decidiu que queria escrever sobre tênis. No decorrer da sua trajetória já trabalhou nas principais mídias do segmento como Sole Collector e Nice Kicks. Hoje ele trabalha para a ESPN, Boardroom e é uma das principais fontes de notícias quando se trata de tênis de basquete e contratos dos atletas.

E mesmo já tendo vistos milhares de tênis, participado de colaborações exclusivas e tido acesso a alguns dos samples e pares mais malucos, Nick escolheu falar do seu tênis de basquete preferido, desenhado por Eric Avar e que ficou famoso nos pés de Jason Kidd – o Nike Zoom Flight 95.

“Meu nome é Nick, eu cresci em Sacramento na Califórnia. O nosso time da NBA era o Sacramento Kings, então é claro que esse era o meu time favorito. Mitch Richmond e Jason Williams eram meus jogadores favoritos, e os tênis que eles usavam eram os meus preferidos quando eu era criança – Mitch usava o Nike Air Thrill Flight, e o Jason Williams usava o Nike Hyperflight, então eu acabava me interessando mais por esses.

Desde jovem eu tenho uma paixão muito grande pelo basquete, eu era uma criança alta, e eu amava jogar. E o jogo era algo que requeria tanto a imaginação, era incrível. A gente jogava todas as noites – no parque, em casa, onde quer que fosse. Crescendo, a gente tinha um orçamento de $40 no ensino fundamental e $50 no ensino médio para comprar tênis. Nunca tive os melhores tênis como os Air Penny e os Jordans, então sempre ficava de olho tentando encontrar ofertas e promoções, para conseguir os tênis que eu achava que eram os mais legais. Eu achava umas promoções dos tênis do Dennis Rodman, Scotie Pippen e Keving Garnett, eu ficava super animado e achava que tinha os tênis mais legal, e também era um jeito de eu me sentir parte da cultura do tênis mesmo sendo mais novo.”

O que você estudou na faculdade e como começou seu interesse por escrever?

nick Quando você é jovem, você quer ser jogador de basquete e jogar na NBA. Então essa foi a minha primeira meta na vida. Mas na real, quando a primeira edição da revista KICKS da SLAM saiu, foi quando eu me dei conta, e pensei  “Uau, talvez eu possa escrever sobre tênis”. E esse passou a ser o meu objetivo a partir daquele momento. Eu tava no ensino médio quando a primeira edição da revista KICKS saiu e na capa o Kevin Garnett tava usando um elástico no pulso esquerdo, e desde quando essa capa saiu eu passei a usar um também, mais como uma lembrança daquele primeiro momento onde tudo começou. Quando a SLAM fez uma edição em tributo ao Kevin Garnett, quando ele entrou para o hall da fama, eles até pediram que eu fizesse uma matéria falando desse elástico, o que acabou sendo um dos momentos mais legais de todos para mim.

Eu era o editor de esportes do jornal da escola e fui para a Universidade de Oregon para estudar editorial e jornalismo. Meu objetivo era escrever para Slam Kicks, mas a Sole Collector foi lançada quando eu estava no primeiro ano da faculdade e eu provavelmente enchi o saco deles mais do que eu deveria, até que finalmente me deixaram escrever um artigo para eles (risos). Foi na décima edição em 2006. Então, gradualmente, comecei a fazer mais e mais materiais para eles e acabei me tornando o editor-chefe. De repente eu tava trabalhando em colaborações e entrevistando designers.

Os três designers que estavam naquela primeira edição da Slam Kicks era o Tinker Hatfield, que fez todos os Jordans; o Aaron Cooper, que fez os tênis do Gary Payton e Scottie Pippen; e o Eric Avar, que desenhou os tênis do Jason Kidd, Dennis Rodman, Jason Williams e Penny Hardaways. Então, quando entrevistei todos esses três caras para a revista Sole Collector, foi muito legal, esses eram todos os meus tênis favoritos quando eu era mais jovem.

Quando você é jovem, você quer ser jogador de basquete e jogar na NBA. Então essa foi a minha primeira meta na vida. Mas na real, quando a primeira edição da revista KICKS da SLAM saiu, foi quando eu me dei conta, e pensei  ‘Uau, talvez eu possa escrever sobre tênis’. E esse passou a ser o meu objetivo a partir daquele momento.”

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fotos por: divulgação
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fotos por: Nick DePaula
fotos por: Nick DePaula

Você entrevistou várias pessoas legais e interessantes ao longo dos anos. Tem algum momento que se destaca ou uma entrevista favorita?

nick Sim. Em 2008 foi o aniversário de 5 anos da Sole Collector e também foi a nossa 25ª edição. Ambos grandes marcos para uma revista – como vocês sabem, às vezes é difícil manter o nível de interesse e garantir que as pessoas queiram ler o que você está produzindo. Então sentimos que foi uma conquista muito legal. Ainda estávamos no começo e o nosso time nem era muito grande, mas todos nós tínhamos uma ideia do quão legal era bater a marca de 5 anos.

O Penny Hardaway foi a capa da edição 25 e fomos até a casa dele em Memphis. Ele era um dos meus jogadores preferidos quando eu era moleque e eu sempre curti mais os armadores, os jogadores que criavam jogadas e tinham um certo etilo no jeito de jogar.  Então o Penny, Jason Kidd, Jason Williams, esses eram meus jogadores.

Durante a entrevista, o Penny foi super gente boa. Ele tinha uma quadra de basquete na casa dele com o logotipo do um centavo (1 cent) no garrafão, e também uma coleção de tênis maluca! Alguns caras que jogavam como Scottie Pippen, que eu gosto muito, na verdade eles nem colecionam seus próprios tênis, eles falam tipo: “Ah, esses tênis aí eu usava quando jogava, hoje eu uso Air Force ou Jordan 1”.

Mas o Penny tinha um armário customizado incrível, com todos os seus tênis e era muito legal ver o quanto ele ainda se importava com eles e respeitava as pessoas que ainda gostavam dos seus tênis. Eu tinha por volta de 23 anos na época e eu sempre brinco que eu poderia ter parado de fazer o que estava fazendo ali mesmo, terminado a minha carreira, e estaria tudo bem, porque nada poderia superar aquela experiência.

Eu lembro de perguntar que colorway de Foamposite ele gostaria que a Nike fizesse, que eles ainda não haviam feito, e ele nem hesitou! O Penny disse “cobre, como a moeda de um centavo”. Mesmo antes de lançarmos a revista, enviei um e-mail para a Nike falando “ei, o Penny quer um Foamposite todo cobre”. Eles responderam “legal, vamos fazer”. Então eles fizeram os Foamposite de cobre por conta do que o Penny disse na nossa entrevista. Isso foi muito legal e eles ficaram ótimos.

Sabe, às vezes o jogador gosta de tênis porque ela tem um contrato que paga muito dinheiro, e eles ficam empolgados em falar o quão bom o tênis é. Às vezes a pessoa está realmente interessada no design. E tem aquela pessoa que gosta de colecionar. O Penny era todas essas coisas ao mesmo tempo, e tinha muito orgulho pela sua linha de tênis , então foi incrível de ver.

Sabe, às vezes o jogador gosta de tênis porque ela tem um contrato que paga muito dinheiro, e eles ficam empolgados em falar o quão bom o tênis é. Às vezes a pessoa está realmente interessada no design. E tem aquela pessoa que gosta de colecionar. O Penny era todas essas coisas ao mesmo tempo”

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A gente sabe que produzir qualquer tipo de conteúdo sobre tênis é difícil e dá muito trabalho, já que é um nicho tão pequeno. Como você conseguiu fazer uma carreira disso, e como foi trabalhar para a revista naqueles primeiros anos?

nick A primeira coisa que descobrimos foi que, basicamente, a Sole Collector era um painel de mensagens on-line, tipo um fórum na internet, que tinha uma revista impressa. Mas o nosso maior objetivo era fazer eventos, encontros diferentes, levar todas essas pessoas de todos os cantos – tínhamos leitores de Boise, Idaho, Texas etc. – e todos queriam vir se encontrar em um evento, para conhecer pessoas como eles e falar sobre tênis.

Eu diria que essa foi a sacada, tentar construir uma comunidade em torno disso tudo (tênis). O fórum foi meio que a primeira mídia social e estávamos tentando descobrir como trazer todas as pessoas dessa plataforma para a vida real e construir essa conectividade. Isso é o que realmente criou a comunidade em torno de pessoas que queriam celebrar a revista. 

Outra coisa divertida que a gente fez foi, sempre que passávamos em alguma cidade para fazer entrevista, como Nova York, Boston, Los Angeles, Portland, a gente falava para as pessoas no fórum “venha para este local, às quatro horas, e a gente vai te fotografar e colocar na revista”. Estávamos fazendo perfis de pessoas de todo o país, foi divertido também, porque como a revista era vendida em todo o mundo, queríamos mostrar o que as pessoas estavam vestindo em determinadas cidades. O que estão usando em Houston vai ser diferente de Boston ou Chicago, ou mesmo de Paris.

Então percebemos que em vez de dar só a nossa opinião nos lançamentos de tênis, queríamos trazer informações privilegiadas que ninguém conseguiria achar em nenhum outro lugar. Foi por isso que me mudei pra Portland logo depois que saí da faculdade. A gente tentava trazer samples exclusivos – de alguns tênis que você não conseguiria ver em nenhum outro lugar –, e conversas com designers para descobrir mais sobre o design de um tênis e assim poder trazer informação e imagens novas para o leitor. Idealmente em todas as edições. A ideia foi sempre ter o melhor acesso às informações e, quando você lesse as nossas revistas, aprenderia algo que não encontraria em nenhum outro lugar. Algumas edições saem melhores do que outras, mas no geral espero que os leitores possam ter tido essa experiência.

Então percebemos que em vez de dar só a nossa opinião nos lançamentos de tênis, queríamos trazer informações privilegiadas que ninguém conseguiria achar em nenhum outro lugar. Foi por isso que me mudei pra Portland logo depois que saí da faculdade. A gente tentava trazer samples exclusivos – de alguns tênis que você não conseguiria ver em nenhum outro lugar –, e conversas com designers para descobrir mais sobre o design de um tênis e assim poder trazer informação e imagens novas para o leitor. Idealmente em todas as edições.”

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E quanto tempo você ficou na revista?

nick Fiquei na Sole Collector por quase oito anos e depois vendemos a marca para a Complex em 2013. A revista foi fundada originalmente por Steve Mulholland e Alex Wang em 2003, então foram dez anos incríveis. Na época, e até agora, eu sinto que realmente foi o melhor momento de conteúdo que já tiveram. Não muito depois disso, comecei na Nice Kicks, que também é aqui dos Estados Unidos e tinha um ótimo grupo de pessoas na época com Matt, George, Ian e Gabe que sempre respeitei muito e por quem eu tenho muito carinho.

Agora, eu estou na ESPN há cinco anos e também trabalho com a equipe da Boardroom também. É legal porque no início, tênis era só uma comunidade de gente realmente apaixonada em um fórum, essa base de fãs de algo tão nichado que eram os leitores da revista. Eu sou só uma formiguinha no totem da ESPN, mas é obviamente uma grande plataforma que tem o seu legado, então escrever sobre tênis, da menor plataforma em um fórum de conversas até o palco mais alto de uma rede esportiva icônica, tem sido incrível.

E de onde vem seu interesse por tênis de basquete e tênis em geral?

nick

Eu sempre brinco que a maioria dos tênis de assinatura que impulsionam a indústria são tênis de basquete. Você pode usar exatamente o que os jogadores estão usando na quadra, diferente de outros esportes – por exemplo, eu não vou usar uma chuteira com cravo para um jantar, mas se é isso que você curte manda vê (risos). O que sempre me atrai mais é o design. Quando eu tinha 10 anos, eu desenhava tênis e enviava para a Nike. Eu desenhava tão mal, e acho que por isso que eu sempre apreciei muito o trabalho dos designers, tendo uma ideia de o quão difícil é, e sabendo quão longo e complexo é todo o processo para projetar um tênis inteiro.

Não posso deixar de falar que eu adoro histórias sobre tênis bem únicos, por exemplo quando o D’wayne Edwards, o fundador da Pensole Academy, desenhou uma bota de equitação para a estreia do esporte nas Olimpíadas. Seja uma Magista da Copa do Mundo ou uma bota de equitação para as Olimpíadas, esses são belos designs feitos para os maiores momentos do esporte, mas também estão tentando elevar a performance do atleta no seu maior momento. Eu sempre tento encontrar histórias divertidas que eu ache realmente legais e interessantes, para que os outros se interessem e gostem também.

Você é super "O cara da Nike" e tem uma ligação especial com a marca. Como surgiu essa relação?

nick É meio engraçado mas quando eu estava lendo aquela primeira edição da Kicks Magazine, ela falava do Eric Avar, Aaron Cooper, Tinker Hatfield, e lá mencionava que eles trabalhavam na Nike em Beaverton, Oregon – Eu nunca tinha ouvido falar em nenhum desses nomes disso, e foi quando descobri pela primeira vez que a Nike ficava em Oregon. Comecei a pesquisar e vi que o Phil Knight, fundador da Nike, e o Tinker, estudaram na Universidade de Oregon. Então pensei “bem, talvez eu devesse estudar na Universidade de Oregon, parece que é o caminho certo”. No verão entre meu segundo e terceiro ano do ensino médio, convenci meus pais a fazer uma viagem para visitar a universidade, mas, na verdade, eu só queria ir ao campus da Nike. Naquela época, eu não sabia se queria trabalhar na Nike, na Slam ou na Kicks Magazine, mas sabia que queria trabalhar com tênis.  

O que eu mais queria fazer era ver a sede da Nike. Naquela época era diferente, era um sábado normal e a gente literalmente estacionou o carro no estacionamento e entramos. O campus inteiro estava aberto, não havia ninguém lá e a gente tinha tudo aquilo só para nós. Vimos a estátua do Tiger Woods, a do Ronaldo, o prédio do Jordan, foi tudo incrível. Eu não entrei em nenhum prédio nem vi nenhum sample de tênis porque estava tudo fechado, mas só de ver o campus foi muito inspirador para um garoto de 16 anos. Foi uma viagem muito legal. 

Comecei a pesquisar e vi que o Phil Knight, fundador da Nike, e o Tinker, estudaram na Universidade de Oregon. Então pensei ‘bem, talvez eu devesse estudar na Universidade de Oregon, parece que é o caminho certo’. No verão entre meu segundo e terceiro ano do ensino médio, convenci meus pais a fazer uma viagem para visitar a universidade, mas, na verdade, eu só queria ir ao campus da Nike.”

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É muito legal a história de como você entrou em contato com pessoas da indústria do tênis e da Nike. Quando começou tudo isso?

nick Tudo começou durante meu último ano no ensino médio. Eu descobri este site da Nike onde você pode se inscrever online para testar produtos da marca, então eu me inscrevi e me aceitaram. Primeiro, eles enviavam um tênis de basquete de $80 para te testar e ver se você iriam realmente jogar com eles e retornar com o feedback necessário. Você jogava com eles por oito a dez semanas e eles te davam um relatório de três páginas, com uma escala de um a cinco para avaliar conforto, ajuste, amortecimento, aderência, suporte. Você só tinha que “ticar” as caixas e avaliar de um a cinco. Mas eu mandava de volta o meu relatório com mais cinco páginas digitadas, falando tipo: “Esta pode ser a campanha de marketing”. Ou, “Você poderia atualizar o material neste painel, ou que tal o Zoom Air no antepé?” Era super desnecessário (risos) Mas era porque eu tinha só 17 anos e estava falando com o pessoal da Nike! Mandei de volta e eles responderam “valeu pelo esforço, não vamos usar nada disso, mas vamos te enviar outro tênis” (risos).

O cara com quem eu tinha contato na Nike para testar os tênis chamava Matt Greg. Eu lembro de comentar com ele que na verdade eu ia estudar na Universidade de Oregon, que ficava só duas horas de carro de Portland, e se ele tivesse tempo, seria legal marcar um almoço. Eu dirigi até lá e ele me mostrou todo o campus, os laboratórios, todas as coisas de teste, foi super legal e ele foi muito generoso.

Eu testei tênis para a Nike por dois ou três anos – fiz o Kobe 1 e 2, 2K5s e vários outros. Eles estavam enviando tênis de oito a dez meses antes deles serem lançados para garantir que nada iria soltar no tênis e que ele estava pronto para o mercado. Foi perfeito já que eu tava jogando basquete todos os dias. Mas hoje infelizmente, como iphones e redes sociais eles não fazem mais isso, por que os tênis iam vazar na internet em questão de segundos se alguém chegasse para jogar no parque em uma terça-feira de noite com o próximo tênis do Kobe ou do KD.

Foi por meio do Matt, que eu comecei a entrar em contato com o pessoal da Nike. Depois de nosso tour pelo campus, eu perguntei para ele se havia mais alguém da equipe de basquete da Nike que ele poderia me apresentar. Eu também sabia que o e-mail do Matt era só “matt.gregg@nike.com”. Eu ia vendo os nomes das pessoas nas suas mesas no escritório da Nike, e quando cheguei em casa, em Eugene, eu saí adicionando “@nike.com” nos nomes e enviando e-mail para todos eles. (risos)

O lance é que nunca foi sobre pedir emprego ou “Você pode me arranjar esse tênis?” Era sobre desenvolver relacionamento, porque eu realmente estava curioso sobre como toda essa indústria funcionava e sabia que queria fazer parte dela no futuro. Sempre pensei que eu era o garoto que estava no fórum NikeTalk todos os dias, dirigindo e acampando para comprar tênis em Seattle, então provavelmente poderia contar para eles algo sobre como é ser um jovem de 20 anos que realmente gosta de tênis.

Comecei a testar para a And1 também, que na época ficava aqui em Portland. Era muito engraçado porque eles enviavam alguns tênis que eles sabiam que não eram bons, alguns concepts, e falavam “me fala se isso é realmente ruim, porque recebemos alguns comentários de que é bem ruim mesmo. Só queremos ter certeza.” Foi legal também porque mostrou que as marcas são super abertas a críticas e querem que você diga a elas como podem melhorar porque, no final das contas, isso só vai ajudá-las a criar uma versão melhor para a próxima rodada. O Kobe 1, 2 e 3 são bons tênis, mas o Kobe 4 não existiria se não tivessem feito esses três primeiro, e resolvido como fazer melhoras durante o processo. Tudo isso faz com que eles melhorem a cada ano.

Durante seu tempo na Sole Collector, você fez colaborações exclusivas com a Nike. Você tem uma preferida?

nick Provavelmente as duas que mais me marcaram foram as do Zoom Flight Club – que é uma combinação dos tênis do Gary Payton, o Nike Zoom Flight ‘The Glove’, o Nike Hyperflight e o Nike Air Flight 89. Eu usava esses dois tênis no colegial, então sempre amei muito eles. A primeira pessoa sobre quem eu escrevi na revista foi um cara que desenhava tênis e logos para a Jordan Brand, chamado Justin Taylor, que acabou virando um dos meus amigos mais próximos. O diretor de design da And1 leu o artigo, ligou para ele e o contratou na hora. Foi muito legal porque foi o meu primeiro artigo, e obviamente ele era incrivelmente talentoso, e com certeza teria sido contratado por alguma grande empresa em algum momento, mas aquele primeiro emprego ele conseguiu por que ele saiu na nossa revista.

Como uma forma de agradecimento, ele fez um logo para mim, com o meu nome, e o cara que trabalhava na Nike na época, colocou esse meu logo no calcanhar do tênis da colaboração – o que é meio louco já que isso nunca acontece. Normalmente são os jogadores que recebem os seus logos nas versões exclusivas dos seus tênis, mas foi bem legal. Então esse foi provavelmente um dos meus favoritos. Sempre achei que esse tênis tinha um design futurista legal e, além disso, foi a primeira vez que eles usaram Foamposite não moldado. É apenas uma folha de Foamposite que não foi moldada à calor, então o tênis tem uma textura maluca e um material único. Eu guardo ele alí em display ao lado do Hyperflight do Jason Williams, que sempre foi um dos meus tênis preferidos também. Esse foi bem divertido de fazer. 


E a segunda colaboração seria a do Nike Air Penny 2 – o cinza e neon – que a gente fez para celebrar o quinto ano da Sole Collector. É engraçado porque o Air Max 95 era o tênis  preferido do nosso fundador Steve e foi por isso que ele escolheu cinza e neon como as cores originais do site da Sole Collector. Eu sempre dou risada quando lembro que ele tava de Air Max 95 na primeira vez que foi ao escritório da adidas, a gente sempre se diverte com essa história. Mas essa era bem a ideia, dar a sensação e a aparência do Air Max 95. Você sabia que eles nunca tinham usado neon em nada do Penny antes? Só as cores do Orlando Magic. Talvez até daria para dizer que o Foam Voltage era meio nessas cores, mas era um Foam Pro. É um dos tênis que eu mais gosto com certeza, e eu ainda uso esse par o tempo todo. Acho que só fizeram 12 pares, o que foi uma loucura – o Penny conseguiu um, nós conseguimos quatro ou cinco pares, e Gentry, Mark Dolce e Marcus Smith, que trabalhavam na Nike na época, todos eles ganharam um par também.

fotos por: divulgação
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Desde sempre você gosta de tênis e hoje isso é o seu trabalho. Você sente que a sua relação com o tênis mudou, agora que ele faz parte do seu dia a dia?

nick Cara, essa é uma ótima pergunta. Naquela época, qualquer dinheiro que eu ganhasse trabalhando na NikeTown, ou em qualquer outro emprego, eu tentava comprar algum tênis, e para mim era sobre comprar todos os tênis que eu não pude ter quando era criança. Tinha os Flights e Flightposites, os tênis do Dennis Rodman, o Shake NDestrukt, os Pennys e Hyperflights. Eu tenho 20 e poucos pares de Flight 95. Era sobre ficar animado para usar o que eu não pude ter quando eu era menor.

E é muito legal como isso evoluiu ao longo dos anos, tipo, eu não sou muito do hype ou qual o tênis mais caro. Para mim, é sempre sobre qual tênis você tem uma conexão pessoal, ou que você acha que tem uma história legal, ou que tem alguma ligação com um jogador com o qual você se conecta, ou talvez até feito por um designer que você curte muito o estilo e trabalho. E isso, para mim, tem sido a coisa mais legal à medida que vou ficando mais velho. 

Todas as pessoas que conheci, como meu amigo Victor que mora em Pequim e publica a Sole Collector e a Dime Magazine, ele é alguém com quem eu converso toda hora, e eu nunca teria conhecido ele se não fosse por tênis. Tem tantas pessoas da indústria que conheci, a maioria dos meus melhores amigos são pessoas que trabalham com marcas ou revistas diferentes. Então acho que essa é a parte que faz tudo isso ser divertido, e que faz sentido para que as pessoas continuem envolvidas com tênis. Sim, você ainda quer jogar basquete e ter os tênis legais, mas espero que as pessoas que você conhece ao longo do caminho tornem isso divertido também.

Todas as pessoas que conheci, como meu amigo Victor que mora em Pequim e publica a Sole Collector e a Dime Magazine, ele é alguém com quem eu converso toda hora, e eu nunca teria conhecido ele se não fosse por tênis. Tem tantas pessoas da indústria que conheci, a maioria dos meus melhores amigos são pessoas que trabalham com marcas ou revistas diferentes. Então acho que essa é a parte que faz tudo isso ser divertido, e que faz sentido para que as pessoas continuem envolvidas com tênis.”

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E por que de todos os projetos e colaborações que você já fez, de todos os seus tênis, você escolheu especificamente este Nike Air Zoom Flight 95 para o seu Kickstory?

nick Sempre brinco que fiz o meu primeiro cartão de débito na faculdade, porque eu descobri que você precisava de um para criar uma conta no eBay. O primeiro par de tênis que eu comprei foi o Zoom Flight 95 na colorway que Jason Kidd usou no ‘All-Star Game’ de San Antonio em 1996.

Para mim, o Zoom Flight 95 tem o melhor design de tênis de todos os tempos. Eu amo Tinker Hatfield, ele obviamente fez designs incríveis com os Air Jordans, Trainers, Air Maxes e tudo mais, mas para mim, o Eric Avar tem alguns dos melhores designs de todos, e o que ele fez com o Zoom Flight 95, o jeito como ele é tão futurista, tem que ser um dos meus tênis preferidos.

Eu lembro do dia que vi um par pela primeira vez – eu tava em um passeio de classe na sexta série e a gente sempre tinha uma hora extra no shopping para almoçar, então é claro que eu ia na Footlocker para ver quais eram os tênis mais novos. Quando vi eles na vitrine, não pareciam com nada que existisse naquela época, eles pareciam estar quase em movimento, era um tênis com uma estética rápida e futurista. Até nos dias de hoje, eles têm 27 anos e eu ainda acho que eles têm cara de futurista. O Jason Kidd era um dos meus jogadores favoritos e ele usava o branco/marinho no Dallas Mavericks. 

Eu gosto que tênis pode representar um certo capítulo para pessoas diferentes – lembro deste tênis de quando ele foi lançado originalmente, outra pessoa pode lembrar dele quando relançou em 2008, e até pode ter um jovem agora que nunca viu os originais, mas que curtiu os retrôs que acabaram de sair. Eu não sou super fã da nova versão com a Supreme, mas talvez ele ache legal, ou talvez esse jovem veja a cor original, o preto com fibra de carbono, e pense “nossa, que tênis legal também”. 

Você vê um tênis como o Nike Air More Uptempo, que teve muitas épocas diferentes, e eu fico muito animado agora que o Zoom Flight 95 está voltando. Parece que a Nike vai dar uma atenção especial para ele, ou talvez ele continue como um clássico, ou as pessoas realmente vão gostar dele se ele voltar a ganhar força. Eu trabalho com tênis há muito tempo e provavelmente já vi milhares de pares – e toda vez que vejo o Zoom Flight, eu penso “caramba, esse tênis é muito louco”.

Quando eu tava na quinta série eu tinha o Nike Thrill Flight, que era a versão mais barata. O Zoom Flight têm três esferas na lateral e o Thrill Flight tem duas – quando eu era mais novo, tentei esculpir outra esfera na lateral, mas não ficou muito bom, então desisti no meio do caminho (risos).

Para mim, o Zoom Flight 95 tem o melhor design de tênis de todos os tempos. Eu amo Tinker Hatfield, ele obviamente fez designs incríveis com os Air Jordans, Trainers, Air Maxes e tudo mais, mas para mim, o Eric Avar tem alguns dos melhores designs de todos, e o que ele fez com o Zoom Flight 95, o jeito como ele é tão futurista, tem que ser um dos meus tênis preferidos.”

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Qual é o seu top 3 de tênis de basquete para jogar?

nick Essa é uma ótima pergunta. O primeiro eu diria que não é um tênis esteticamente bonito, não é um design inovador, mas o Nike Zoom Hyperdunk 2011 ‘Elite’, o preto e dourado, é o melhor tênis que já joguei. Eles custavam $200 no varejo e tinham Flywire de Kevlar, Zoom no calcanhar e no antepé, tudo em fibra de carbono e língua de Pro-combat acolchoado. Era muito louco! Cada peça do tênis foi atualizada a partir do Hyperdunk daquele ano. Eles eram incríveis, aquele tênis era bom demais. 

Em segundo, o Nike Air Garnett III é um dos meus designs favoritos e um dos melhores tênis que já joguei também. Foi desenhado por Aaron Cooper. Eu tinha um par desses no colégio, o preto e azul com a malha degradê. A aderência, a transição e o suporte que tinha aquele tênis era incrível. As cores do meu time eram branco e bordô, e eu usava o preto e azul, ficava péssimo com o uniforme, mas eu não tava nem aí. Então esse fica provavelmente em segundo lugar.

E em terceiro eu diria que provavelmente é um empate entre o Nike Zoom Generation ou o Nike Lebron II, na versão original. Eu entrava no eBay e comprava um par novo a cada três ou quatro meses por cerca de $40, então eu tive sempre uns seis ou sete pares desse tênis por dois anos e meio. Eu só jogava com eles, eu adorava esse tênis, principalmente o preto e branco, ele era muito bom. Era um tênis super rápido e responsivo com muito suporte. Eu até tenho um par original novinho em folha de 2003 lá em baixo.

É uma história engraçada, quando a Nike estava tentando convencer o Lebron de assinar com a empresa, o Aaron Cooper, que acabou desenhando o primeiro tênis do Lebron, falou para ele “se você assinar com a gente, vou criar o tênis mais confortável que você já usou na vida”. E eu lembro do Coop me contando essa história, “então a gente fez o tênis, eu finalmente levei ele para o Lebron. Ele estava jogando com eles pela primeira vez. Ele olha para baixo e fala que este é o tênis mais confortável que ele já usou”. E eu também acho que é. Você tem que tá bem confiante para falar isso para alguém, especialmente para o Lebron James, mas se você vai dar 90 milhões para o cara, é bom você comprir a sua palavra. Eu amo esse tênis, então provavelmente esse é o meu top três.

E você tem alguma outra história divertida com tênis?

nick Quando eu era mais jovem, eu gostava muito do adidas Top Ten 2010, que era o tênis que o Kobe usou durante o seu primeiro ano na NBA. Ainda acho engraçado essa história, mas o que eu mais queria no meu aniversário de 13 anos era o adidas KB 8s. Em vez disso, meu avô me deu uma mini TV, e deu muito para perceber que eu fiquei chateado quando abri o presente. Eu tava tão bravo que não falei mais disso pelo resto do dia. E foi um ótimo presente, eu tive aquela TV durante todo o ensino fundamental, ensino médio, até meu primeiro ano na faculdade. Foi um presente muito útil. Eu arregaçava meus tênis em uns seis meses, então a TV provavelmente era o presente certo (risos), mas eu realmente queria aqueles tênis do Kobe.

Ficamos surpresos quando você disse que seu pai era brasileiro e que você morou um tempo no Brasil. Você tem alguma lembrança de basquete de quando você morou aqui?

nick Sempre gostei de jogar no Brasil porque eles tinham o gol de handebol na mesma quadra que o basquete, então eu sempre tentava enterrar na trave do gol de hand. Eu era tão alto quando criança, e eu era muito bom quando morava no Rio. Eu deveria ter me naturalizado brasileiro e jogado por lá, quem sabe eu não teria uma chance, mas eu não era rápido como Barbosa. Eu jogava bem no Rio, mas quando voltei percebi que nem era tão bom assim (risos). Por sorte esse lance de escrever até que deu certo.

Nike Air Zoom Flight 95
Dono: Nick DePaula
Ano: 2022
Fotos: Kickstory

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