Como fundadores do basquete, faz parte da honra americana ser a seleção mais bem sucedida da história do esporte, e eles são. Ao todo, as seleções americanas de basquete masculina e feminina juntas detém agora 32 medalhas olímpicas, sendo dezessete de ouro para o masculino e dez para a equipe feminina. As duas equipes ganharam medalha em todas as suas participações nos Jogos Olímpicos. Além de ser a maior campeã do esporte, as seleções acumulam diversos recordes que explicam o tamanho da sua relevância para o basquete mundial, como o recorde da seleção masculina de a maior sequência de vitórias da história dos jogos olímpicos em qualquer esporte de equipe, que foi quebrada esse ano pela seleção americana feminina de basquete com 8 ouros consecutivos.
Fotos e conteúdo: Kickstory
Texto: Pedro Pasa Mota e Kickstory
Edição: Kickstory
Nike Zoom Kobe 2
O Pré-Olímpico das Américas de 2007 marcou a primeira participação de Kobe Bryant jogando pela seleção americana. Kobe estreou duas colorways exclusivas nas cores dos EUA, cada uma em uma versão do Zoom Kobe 2.
O segundo modelo da linha de Kobe Bryant pela Nike, o Zoom Kobe II, foi criado pela lenda do design de tênis Ken Link, responsável também pelo Kobe I, II, Lebron Soldier I, II, III, sem contar que esteve envolvido em projetos importantes como o Zoom Generation e outros modelos famosos da Nike. Hoje ele atua como diretor de design na Under Armour dentro de corrida, basquete, training e Curry.
O Kobe II foi pensado como uma versão mais nova e mais leve do famoso Nike Zoom 2K4, e levava um pouco de tudo de mais avançado que a Nike tinha na época para o basquete. Uma placa de carbono para dar a estabilidade e leveza necessária para o tênis de um dos melhores jogadores de basquete da época, uma bolsa de Zoom Air no calcanhar e outra no antepé, envolvidas por uma entressola de Cushlon, que foi usada pela primeira vez em um tênis de basquete. Também, o solado segmentado como um modelo de Nike Free da época, para maior mobilidade. A qualidade do tênis em si é algo que raramente vemos hoje em dia. O tênis era composto por diferentes painéis de couro, com texturas diferentes e era parte do projeto Considered da Nike, uma linha de produtos que seguiam um manifesto de redução de materiais e produtos químicos, o precursor do que hoje seria o Move to Zero. O tênis não tinha nenhuma gota de cola no seu cabedal, tudo no tênis era costurado, até o cabedal sobre a entressola.
Kobe disse que a inspiração para o seu segundo modelo veio de um vídeo que assistiu sobre as Orcas caçando na natureza. Como cada uma tinha o seu papel dentro de um sistema de caça que aprendem desde pequenas. Além da agilidade, força e inteligência dos animais representadas no tênis, também partiu a ideia de ter diferentes versões, específicas para cada estilo de jogo.
O tênis tinha três versões, uma para cada estilo de jogo:
UltimateA versão normal (Ultimate) com cano alto, cabedal inteiro de couro com um toe cap em uma peça única, uma característica presente nos modelos de Ken Link daquela época, além de um velcro para dar firmeza na “gola” do tênis, e uma bolsa de Zoom Air inteiriça na entressola.
StrengthA versão ST (Strength) recebeu mais um velcro no meio do pé para mais firmeza e controle, e também ganhou uma bolsa de Max Air no calcanhar para substituir o Zoom Air. A versão ST foi a primeira a ser lançada, na colorway ‘Orca’, uma das mais famosas do modelo.
LiteA versão Lite tinha como proposta simplificar ao máximo o tênis, trazendo uma única peça no cabedal e ressaltando o DNA dos clássicos de basquete da Nike, como o Blazer e o Bruin, possibilitando que o tênis pudesse ser usado dentro e fora das quadras. De acordo com Kobe, a ideia era manter a simplicidade e criar um tênis para jogar basquete, sem distrações.
Nike HyperDunk 2008
Para as Olimpíadas de 2008, Kobe, vindo de uma temporada de MVP, não estava usando o seu Nike Kobe III, nem o IV, que ainda estava por vir. Kobe foi o atleta perfeito para apresentar ao mundo o que a Nike tinha de mais inovador em um tênis de basquete – o HyperDunk.
A ideia era revolucionar o conceito de um tênis de basquete até então, e foi exatamente isso que Eric Avar fez, designer da maioria da linha de Kobe Bryant. Ele também criou modelos icônicos como o Zoom Flight 95, Air Penny, Foamposite, Nike Shox BB4 e muitos outros ícones da marca. A primeira grande inovação do tênis era a mais nova tecnologia da Nike, inspirada na engenharia das pontes suspensas, o Flywire. Pequenos cabos que, se aplicados no lugar certo, podem sustentar enormes pesos, e essa foi a base para o tênis.
Usando o Flywire para estruturar o tênis, Eric Avar entendeu que poderia eliminar outros materiais, reduzindo muito o seu peso. Além disso, o Hyperdunk foi o primeiro tênis de basquete a introduzir o Lunarlon, espuma proprietária da Nike, leve e responsiva, inserida em um recorte, dentro da entresola no antepé. Tanto o Flywire quanto o Lunarlon foram as principais tecnologias da marca nos próximos cinco anos, sendo a base para a chegada do Flyknit, tricô tecnológico da Nike.
O Hyperdunk influenciou fortemente a estética dos tênis da Nike na época, com o cabedal composto por plásticos e materiais fusionados. O modelo também contava com uma placa de suporte e estabilidade de fibra de carbono e uma peça de contenção do calcanhar inspirada no Air Mag. A linha passou por muitas edições, e esses modelos foram sempre utilizados pela Nike para aplicar suas inovações mais recentes e tecnológicas.
As Olimpíadas foram o palco perfeito para apresentar o Hyperdunk ao mundo, em que quase todos os atletas e times patrocinados pela Nike estavam com suas versões nos pés. Mas Kobe tinha sua própria colorway, com texturas e ilustrações pelo tênis, e seu logotipo na língua. Ao voltar para a temporada regular da NBA, Kobe ainda usou o Hyperdunk por alguns meses e até chegou a usar uma versão híbrida, com o cabedal do Hyperdunk e a sola do seu próximo tênis, o Kobe 4, para testar e se acostumar com o novo modelo, que estava por vir e novamente revolucionaria o mundo do basquete.
Curiosidade
Conversando com Jeff Staple no seu escritório em Nova York, ele comentou que já tinha trabalhado em um Kobe II, para o qual havia feito uma colorway especial. Não conseguimos obter muitas informações sobre isso, mas é curioso que ele tinha alguma conexão com o modelo.
O Dream Team
Em 1989, a FIBA alterou a regra e passou a permitir que os jogadores profissionais da NBA participassem dos Jogos Olímpicos. Era um anúncio do que estava por vir nas Olimpíadas de 1992, simplesmente a melhor e mais completa seleção da história do basquete. A equipe contava com nomes como Larry Bird, Scottie Pippen, Karl Malone, Magic Johnson e, para completar, ninguém mais do que Michael Jordan. Por contar com tantos craques, a seleção americana ficou conhecida como Dream Team (Time dos Sonhos). A sua superioridade era tão grande que venceram todas as partidas e tiveram uma média de 44 pontos de vantagem para os seus adversários. A diferença mínima foi de 32 pontos na final contra a Croácia.
Dos 12 atletas que compuseram o Dream Team 10 foram nomeados em 1996 entre os 50 maiores jogadores da história da NBA, na lista oficial dos primeiros 50 anos da liga. Para completar os grandes feitos, Michael Jordan e Scottie Pippen se tornaram os primeiros a ganhar o anel de campeões da NBA e a medalha de ouro Olímpica no mesmo ano, jogando pelo Chicago Bulls.
As derrotas de 2002, 2004 e 2006
Com a possibilidade de utilizar os astros da NBA nas olimpíadas, os Estados Unidos começaram a encarar o torneio com ainda mais facilidade e confiança. Porém em 2004, após vir de uma derrota no Mundial de 2002 a seleção precisava vencer para manter a sua hegemonia. Assombrados pelo 11 de setembro e a Guerra do Iraque, muitas das estrelas do basquete americano se recusaram a ir para os jogos olímpicos e a equipe dos Estados Unidos foi montada às pressas, contando com jovens calouros como Dwyane Wade, Lebron James e Carmelo Anthony e alguns craques como Tim Duncan e Allen Iverson. Já na primeira partida um anúncio do que estaria por vir, derrota para a seleção de Porto Rico. No dia 27 de agosto de 2004, pelas semifinais, a Argentina, que viria a conquistar o ouro, venceu o grande favorito Estados Unidos por 89 a 81, com show de Ginobili, ala-armador dos Spurs , marcando 29 pontos.
Após o resultado frustrante nos jogos de Atenas, os americanos queriam recuperar o título e a honra de melhor seleção do mundo. Para isso a USA Basketball tinha Jerry Colangelo como seu novo diretor e Mike Krzyzewski, o Coach K, técnico da Universidade de Duke, como seu novo treinador. Além das mudanças na diretoria, a equipe foi construída em meio a um projeto de longo prazo, diferente dos outros anos onde se reuniu às vésperas da competição. Desta vez o objetivo era montar um time e não somente reunir grandes astros e jogar de qualquer forma.
O primeiro grande teste desta nova seleção foi o Mundial de 2006 e novamente mais uma derrota, desta vez para a Grécia, na semifinal. Com o resultado negativo a equipe americana precisaria conquistar a vaga para Pequim na Copa América de 2007 e para isso, concluiu que necessitava de uma grande estrela no seu elenco, mais especificamente, a principal da NBA no momento: Kobe Bryant.
Kobe Bryant e o Redeem Team
Kobe chegava à seleção com a missão de elevar o nível e ser o grande líder daquele elenco, ele finalmente iria disputar uma olimpíada após se recusar a ir para os jogos de Sydney em 2000 e de Atenas em 2004. Porém mesmo sendo o principal nome do basquete no momento, o astro colecionava algumas polêmicas que faziam os americanos questionarem se ele conseguiria dar conta do recado. A qualidade do craque dos Los Angeles Lakers nunca foi questionada, mas a forma como jogava dentro de quadra, sendo visto por muitos como egoísta e a influência na troca de Shaquille O’neal do Lakers para o Heat, colocavam o astro em questão. Para Kobe era a oportunidade perfeita de quebrar todos os rótulos colocados em cima dele e para a seleção americana a grande chance de se reerguer.
Com a derrota no mundial o USA basketball precisava do Pré-Olímpico para ir a Pequim e cumpriu o seu dever, classificando-se para a Olimpíada que poderia recuperar a honra do basquete americano. O time era formado por craques como Lebron James, Carmelo Anthony, Dwyane Wade, Chris Bosh, Jason Kidd, Dwight Howard, Chris Paul e a sua principal estrela e a grande arma para voltarem aos seus tempos de glória, Kobe Bryant.
Ao chegar na China, Kobe era ovacionado e caçado pelos fãs. Mas mesmo com a empolgação o astro não se deixou levar e manteve o foco ao extremo, servindo como exemplo para todo o grupo, tanto no treinos como no dia a dia.
Na primeira fase, os Estados Unidos se sobressaíu e a vitória mais apertada foi por 21 pontos, contra Angola. Já nas eliminatórias bateram com folga Austrália e Argentina. Na final enfrentaram novamente a fortíssima seleção espanhola, em um confronto extremamente equilibrado. Porém, quando a Espanha conseguiu reduzir a vantagem para dois pontos, Kobe chamou a responsabilidade e converteu diversas cestas seguidas, com destaque para um arremesso épico de três pontos com falta e um sinal pedindo silêncio para o ginásio, mostrando que o jogo estava sob controle e os Estados Unidos venceriam.
No final a partida acabou com 11 pontos de vantagem para os Americanos e a medalha de ouro. Desta forma finalmente os Estados Unidos recuperou a sua hegemonia no basquete e a histórica seleção de 2008 ficou marcada como o Redeem Team, ou seja, Time da Redenção.
A geração atual
Com o quarto lugar no mundial de 2023, a seleção reuniu novamente os seus principais astros com o objetivo de recuperar sua hegemonia e conseguiu. A equipe foi a Paris com força máxima e um novo Dream Team. O time contou com: Lebron James, Stephen Curry, Kevin Durant, Joel Embiid, Anthony Edwards, Anthony Davis, Devin Booker, Jayson Tatum, Jrue Holiday, Bam Adebayo e Tyrese Halliburton, para a conquista do ouro. Após a vitória em 2008, os Estados Unidos nunca mais perderam uma Olimpíada. Vencendo em 2012, 2016, 2020 e agora 2024.