luanVou contar a história inteira dele então. Quando eu tava nessa imersão de entrar pra faculdade, eu estava sem grana, ia fazer uma faculdade cara, de boy, sem bolsa, sem nada, então eu tive que fazer dinheiro. Eu comecei a vender tudo o que eu tinha. Vendi roupa, vendi minha coleção de bonés, meus tênis e vendi várias câmeras analógicas também. E eu trampava num lugar zoado, eu era analista de TI da Polícia Militar, então eu trampava dentro do Quartel General da Polícia Militar lá na Estação Tiradentes, no Bom Retiro. Era estressante estar dentro daquela parada, era tóxico. Aí eu tava nessa de entrar na faculdade, pagar tudo, então eu tinha na minha cabeça que eu ia ficar um grande período sem comprar tênis, sem comprar roupa, sem viver (risos). Ou viver comendo miojo.
Lá dentro da polícia é tudo padrão. Todos se vestem igual, todos os cortes de cabelo são iguais… E como eu vendi vários tênis, eu tava usando só botas e coturnos. E eu tava parecendo um deles, eu tava usando coturno, e todo mundo lá de coturno! Eu fiquei desesperado, eu não podia ser assim igual a eles! Aí nisso, trampando nesse lugar horrível, falaram “você é tão próximo de nós, até parece conosco, usa coturno igual nós”. Aí eu “Cara… não!”, comecei a ficar louco e falei “eu vou comprar um tênis agora”. E lá perto tinha a loja da Guadalupe, que fica bem pertinho do comando geral. Eu saía pra almoçar, e toda vez eu passava na frente, e ficava olhando os boots na vitrine.
Aí na época a Adidas lançou aquela coleção de Superstar da rivalidade do Brooklyn Nets com o New York Knicks. O Brooklyn era preto e branco e do Knicks era azul e laranja. Aí eu olhei e falei “nossa, foda, eu vou ter um Superstar, um clássico que eu ainda não tive. Vou ter que comprar esse boot”. Aí por maldição das coisas, a Guadalupe colocou na vitrine o preto, e eu ia almoçar todo dia olhando pra ele. Eu queria muito ele. E eu tava meio sem grana, tinha acabado de pagar a faculdade. Vendi tudo pra pagar a faculdade. Aí pra juntar a grana eu comecei a comer pouco e economizar no almoço.
Tinha um Banco do Brasil do lado do trampo, fui lá e falei “preciso de dinheiro, que que dá pra fazer aí? Que que nós podemos fazer? Empréstimo, cheque especial?” (risos). Aí fizemos um esquema lá, falaram “pega um cheque especial e paga quando receber”. Aí eu peguei a grana e fui na hora comprar o boot e já coloquei no pé. Eu não vou ficar parecendo esse putos e já fui trampar com ele já. Aí todo mundo ficava olhando o tênis, “ow, e esse tênis aí?”, daora né, velho? Muito foda, é o Brooklyn e pá. Aí depois disso eu saí do trampo. Eu fiquei lá mais uns dois meses.
Então esse tênis ficou marcado nessa trajetória de sair do trampo zoado, que todo mundo queria que eu fosse igual eles e me jogar direto na fotografia. Meu Superstar fez parte da maioria dos corres, porque era um dos únicos tênis que eu tinha, e foi o que eu mais usei. Por isso que ele ficou bem detonado. Ele era o tênis do corre. Aí rasgou a frente, ficou bem amarelinho, mas até que ele resistiu bem pra um boot de camurça.