Sneakers MOB Sneakers MOB

Sneakers MOB

New Balance 1600 CM1600G New Balance 1600 CM1600G
19—08—2019 Fotos por: Vinicius Martin
Sneakers MOB
Entrevista Nº 145

O Alexandre Felix criou o Sneakers MOB para resgatar histórias e o vínculo emocional com os tênis. Desde pequeno ele viveu na cultura do hip-hop, teve sua fase no skate, hoje é engenheiro, mas os tênis sempre estiveram na sua vida.

Foi em um rolê de skate que o Alexandre topou com o New Balance 1600. Ele ficou tão impressionado com o modelo que foi andando atrás do dono para ver mais do tênis e tentar ler o que estava escrito nele. Dessa primeira olhada no 1600 até descobrir qual era o modelo e fundar a Sneakers MOB rolou muita história.

“Eu sou o Alexandre Felix e tenho 27 anos. Atuo em uma área totalmente diferente de tênis, eu sou engenheiro eletricista e trabalho na área de projetos. O Sneakers MOB, o projeto que criei, nasceu a partir de um bate papo com amigos. A cultura do tênis cresceu, fiquei feliz demais com isso, só que percebi que o que os outros canais estavam fazendo era só um incentivo a cultura de consumo mesmo, você não tinha mais identidade de tênis, não tinha ninguém mais interessado em tênis históricos. Vários modelos icônicos estavam indo para as prateleiras e a galera realmente não se interessava, não via que tinha uma outra história por trás daquilo ali, que tinha uma referência cultural, que tinha um time inteiro por trás do design. A questão de material! Ninguém se importava mais em sentir o cheiro do couro por exemplo; ou ninguém sabia mais diferenciar um couro original de um sintético.

Então com o Sneakers MOB a minha ideia era realmente ter esse resgate emocional e fazer alguns vínculos baseados na minha vivência mesmo. Eu sou um moleque que cresceu em comunidade, eu sempre ouvi muito rap desde moleque.”

Você dançava Break quando era mais jovem – como a sua relação com dança começou e como isso influenciou o Sneakers MOB?

alexandreMinha trajetória começou mesmo na Casa do Hip Hop de Diadema. Quando eu tinha por volta de uns 13 ou 14 anos um professor meu, o Dudu, tinha um projeto em que ele dava aula de Street Dance, eu fazia as aulas com ele e comecei a pesquisar mais sobre. Eu via os caras fazendo uns movimentos diferentes e aí pensei “quero outros estilos também, quero fazer uma parada diferenciada“. E aí me falaram da Casa do Hip Hop, que eles davam oficina de Break, de Graffiti, e fui lá conferir!. E aí eu fiquei uns dois anos enfiado lá dentro da casa, todo final de semana. Eu fiz a oficina de Graffiti com o consagrado Tota, fiz as oficinas de Break junto com a Back Spin Crew, conheci DJs lá que hoje tão bombados na cena, como o Dandan.

E eu sempre gostei de tênis, desde molequinho, porque minha mãe trabalhou em lojas de sapato. Em casa eu não tinha muita grana, minha mãe me dava os tênis que eram usuais. Eu tinha uma chuteira de futsal Topper, que também dava pra ir pra escola, sair de rolê, fazer tudo, era multiuso total – e aí eu queria fazer multiuso também para as minhas aulas de Break. Porém, quando eu tentava fazer os movimentos naquele solado encerado, eu não tinha abrasão nenhuma, eu tomava vários rolas e era terrível (risos). Para fazer os movimentos de power move, quando eu tava aprendendo, era ótimo porque eu escorregava e ela vuw! Fazia umas paradas que tipo ninguém mais fazia.

Mas eu precisava de abrasão. Tinha um cara na Back Spin, não vou me lembrar qual B-boy, que tinha um Converse One Star com a sola gum. E aí eu pensei “meu, já sei, eu preciso de um tênis com essa sola aí”. Na época eu nem sabia o que era sola gum, eu só sabia que era o tênis com solado marrom. Fui na Galeria do Rock com um objetivo na cabeça: achar um tênis Converse One Star com solado marrom. Só que nas lojas, todos os solados eram brancos, aí eu pensava “não, branco não é. Acho que não vai dar a mesma coisa que a Topper, preciso do solado marrom”. Aí uma moça falou “ah eu tenho um aqui, mas não sei se você vai gostar”. Ela me trouxe um roxo, com uns detalhes cinzas, e a sola era gum! Falei “é o tênis da minha vida, é esse eu vou levar”. E eu ia pra qualquer lugar, ia pra escola com esse tênis, ia treinar, fazia tudo com esse tênis, eu acabei com o tênis de tanto usar.

Quando fiz 15 anos eu comecei o SENAI e não consegui mais unir a dança, o graffiti com os estudos. Eu queria independência tal e pensei “meu, vou guardar essas duas paixões porque um dia eu vou conseguir resgatar isso.“ Eu saí, mas mantive todos os contatos né? Eu participava com a galera, mas não atuava diretamente. Se eu pudesse, eu estaria dançando até hoje. Mas tive que estudar e fazer minhas coisas. E aí quando veio o projeto pra mim, da Sneakers MOB, aí eu falei “vou fazer essa parada. Eu preciso me colocar lá dentro. Preciso colocar minha paixão nesse projeto porque a galera vai se identificar com isso”. E então comecei a colocar Rap junto com os tênis, e a galera tá curtindo real! Muito satisfatório.

“A idéia foi criar um projeto, para quem se une e tem aquela paixão de alma, que compartilha do mesmo amor com os tênis, eu queria trazer de uma forma diferente. Eu não vou falar qual modelo tá lançando, qual o valor. Eu vou falar ‘meu, você viu esse modelo na rua? É o Air Jordan. Você sabe a diferença do Air Jordan, pro Dunk e pro Dunk SB? Eu vou te mostrar’.”

Compartilhar

Qual foi sua trajetória desde a criação do Sneakers MOB, até hoje?

alexandreEu criei a Sneakers MOB no ano passado, meados de Julho ou Agosto. Meu amigo tem um pub chamado Mundo Inca e eu sempre ia lá pra conversar sobre tênis e streetwear. E aí um dia ele falou assim “pô, você conhece demais sobre tênis cara. Você já viu como estão as matérias hoje em dia? A galera tira muito conteúdo da gringa, é muito conteúdo traduzido.“ Aí eu falei “ah velho, eu também sinto falta da parada mais histórica mesmo. Trazer um contexto cultural.” E então ele falou “meu, por que que você não faz um conteúdo assim?”, e fiquei pensando a respeito. Na época, eu tava fazendo TCC, tipo fudido, eu não tinha tempo nem pra minha mina de final de semana. Mas mesmo assim, eu decidi que ia fazer isso funcionar.

A idéia foi criar um projeto, para quem se une e tem aquela paixão de alma, que compartilha do mesmo amor com os tênis, eu queria trazer de uma forma diferente. Eu não vou falar qual modelo tá lançando, qual o valor. Eu vou falar “meu, você viu esse modelo na rua? É o Air Jordan. Você sabe a diferença do Air Jordan, pro Dunk e pro Dunk SB? Eu vou te mostrar.“ E aí eu vou pegando mais por esse aspecto. Eu fico caçando tênis em imagens antigas, tipo do Tupac, The Notorious B.I.G, vários rappers dos anos 90 que era a Golden Era. Aí eu faço esses resgates e tento unir esses dois mundo. E eu acho que isso é conteúdo, saca?

Quando me perguntam qual formato você utilizou para basear o Sneakers MOB? Eu sempre falo: foi o Kickstory. Eu falei isso pra vocês uma vez. O que o Kickstory faz sim é um conteúdo. Eu paro e eu leio. Porque assim, cada história faz várias conexões de momento, todo mundo tá ali, todo mundo tá falando do tênis. E não falam só do tênis, falam de pontos, lugares onde ocorreram fases legais de tênis, locais de tênis, onde comprar. Agrega demais para a cultura isso.

É muito gostoso de fazer isso. Por isso, falam “putz mano você trabalha o dia inteiro e estuda a noite?” Sim, eu trabalho o dia inteiro e estudo a noite. “Como você arranja tempo?” Eu falo que assim, eu trabalho das 8h até as 17h30 da tarde. Eu gosto do meu trabalho, faço ele por amor também. Mas quando eu vou estudar, eu também estudo por amor. Mas quando eu chego em casa às 23h, fico até às 2h escrevendo. Eu posso estar morto de cansado mas eu paro e realmente escrevo para o Sneakers MOB.

“Eu usava muito o Orkut, e ficava procurando umas comunidades de tênis mas eu não achava nada no Brasil, mas eu fui procurando e descobri que tinha umas comunidades na gringa que falavam sobre tênis – comunidades que hoje têm site e Instagram. Muito japonês falava sobre tênis também. Era uma zona porque tinha textos em inglês, espanhol, japonês, misturava tudo.”

Compartilhar

O que achamos mais legal do Sneakers MOB é como o conteúdo é extremamente rico, tanto na questão de texto, como de imagens. Como é seu processo de pesquisa?

alexandreEu comecei meu processo de pesquisa quando eu tive meu primeiro computador. Eu usava muito o Orkut, e ficava procurando umas comunidades de tênis mas eu não achava nada no Brasil, mas eu fui procurando e descobri que tinha umas comunidades na gringa que falavam sobre tênis – comunidades que hoje têm site e Instagram. Muito japonês falava sobre tênis também. Era uma zona porque tinha textos em inglês, espanhol, japonês, misturava tudo. E os caras lançaram muitos catálogos com muitas informações. Comecei a gravar tudo isso em disquete, mas não durou muito. Mas quando rolou o CD, aí eu salvava mais coisas, mais conteúdo – e tudo isso era pra mim mesmo – eu tenho tudo isso até hoje e uso muito desses conteúdos para o Instagram. Misturo tudo nesse bolo junto com música e faço acontecer.

“Eu cheguei perto do cara. Vi que tinha uma escrita na frente e eu queria ver o que tava escrito na frente, mas aí ele percebeu. Ele ficou olhando pra trás achando que eu ia roubar ele (risos). Ele foi acelerando o passo e eu todo skatista, fui acelerando o passo também. E eu quase gritei ‘ow, calma aí, deixa eu ver o tênis, cara, calma aí!'”

Compartilhar

E por que, de todos os seus 52 tênis, você escolheu esse New Balance 1600 CM1600G para fazer o Kickstory?

alexandreÉ uma história que acho que vocês vão achar louca (risos). Meados de 2010, eu andava de skate com um pessoal. Então assim, eu estudava a tarde na escola e como qualquer moleque que andava de skate, a gente saía da escola e ia pra porta da outra escola ver os outros amigos e as meninas também, né? (risos). Então a saída era mágica pra gente, porque a gente via todo mundo. Um belo dia eu tava na porta com os meus amigos lá, molecão, com meu tenisinho da Topper, e aí me passa um moleque altão, com um New Balance 1600 no pé. Eu olhei aquele tênis, eu não sabia que era o New Balance 1600, não sabia que modelo que era, mas eu simplesmente travei, eu nunca tinha visto esse tênis. Pra mim foi tipo…não sei explicar.

O cara tava indo pro terminal Diadema, dava 500 metros andando, eu larguei o pessoal e falei “gente, segura meu shape aí que eu vou dar uma olhada em um negócio”. Aí fui seguindo o cara. Eu cheguei perto do cara. Vi que tinha uma escrita na frente e eu queria ver o que tava escrito na frente, mas aí ele percebeu. Ele ficou olhando pra trás achando que eu ia roubar ele (risos). Ele foi acelerando o passo e eu todo skatista, fui acelerando o passo também. E eu quase gritei “ow, calma aí, deixa eu ver o tênis, cara, calma aí!“ E ele correu e foi pro terminal. E eu pensei “puts, que merda. Não vou pagar a passagem pra entrar no terminal só pra ver o tênis”.

Eu fiquei com aquela memória, lembrava do shape do tênis perfeitamente. Quando eu tive o meu primeiro computador, eu entrei nas comunidades a primeira coisa que fiz foi tentar achar aquele tênis. Eu ia lá, procurava, e nada. Eu só fui encontrar em 2012 – um cara do Brasil fez uma postagem lá com o tênis. E era ele. Tiozão, no meu feed, com o tênis! Todo mundo comentava na foto dele tipo “como você tá?”, “manda um abraço pra sua família”, aí eu perguntei “que tênis é esse?” (risos). Ninguém entendeu nada. Eu ficava entrando quase todo dia, gastando minha internet, conferindo se o cara tinha respondido. Mas nada.

Um tempo depois, em um belo dia eu tava no meu escritório, vendo notícia de tênis e aí apareceu lá: ‘O icônico 1600 da New Balance retorna novamente’, ‘O clássico dos anos 90’. Vários 1600 que tinham sido lançados anteriormente, eles fizeram até uma heritage dele com várias versões. Quando eu olhei a foto eu travei, era aquele tênis! Só que na época eu não podia gastar grana, eu não tava acreditando. É o tênis que é um marco pra mim, foi um momento que uma chave foi ligada pra mim naquele momento. E mesmo sem grana eu fui pegar o tênis. Lançou na loja, acho que foi um dos primeiros. Nem hypou. Ficou muito tempo ainda no site. Mas eu fui na loja e peguei ele na mão.

O que você acha da cena de tênis que tá rolando no Brasil, e principalmente em São Paulo?

alexandreEu fico feliz pela cultura ter expandido, por ter chegado em vários lugares e vários patamares de formas diferentes. Igual o Ian tinha falado, tudo que aconteceu com o Fila Grant Hill, com o Tupac, foi tudo muito natural. Não teve contrato, patrocínio, nada, foi uma coisa natural. Porém, hoje não, tudo patrocínio. Tudo é dinheiro. E o que acontece hoje na cena que eu percebo é em um evento de tênis, às vezes se o cara não tem um tênis foda, ele nem tá indo porque ele se sente acuado de ir. E não pode ter isso. A cultura sneakerhead, o principal ponto dela é identidade. Você tem que ter a sua identidade. Tanto pela identidade no pé, quanto a identidade visual, você tem que ter a sua cara ali.

Um cara pode estar com um tênis de 5 mil e não ter conteúdo nenhum. Não ter nada pra falar dele. Acho que é muito vago. Quanto tem de história por trás daquilo ali? Quanto ele significa pra você? Hoje o que eu vejo é que as pessoas, elas não tem aquele respeito em você estar com um tênis mais caro do que o outro, você com um modelo colecionável e a outra pessoa com um modelo mais simples que pra ela é muito importante, pra ela faz parte da vivência dela. Cada um tem as suas escolhas. Eu acho que falta um pouco disso, dessa sensibilidade. Mas a cena tá mudando, tá convertendo isso, tá trazendo mais informação, pra justamente mudar um pouco o pensamento das pessoas, para o que você veste, o que você calça, não demonstre o seu valor realmente. Seu valor é o que você tem dentro. Aquilo ali é sua identidade.

“Tudo que aconteceu com o Fila Grant Hill, com o Tupac, foi tudo muito natural. Não teve contrato, patrocínio, nada, foi uma coisa natural. Porém, hoje não, tudo patrocínio. Tudo é dinheiro. E o que acontece hoje na cena que eu percebo é em um evento de tênis, às vezes se o cara não tem um tênis foda, ele nem tá indo porque ele se sente acuado de ir. E não pode ter isso. A cultura sneakerhead, o principal ponto dela é identidade.”

Compartilhar

É isso aí. Muito obrigado pela entrevista e por ter compartilhado uma parte da sua história com a gente!

alexandreEu queria agradecer muito o convite. Como eu falei pra vocês, pra mim é uma realização mesmo estar participando do Kickstory. Acho que esses momentos que vocês trazem, essas histórias, é uma parada que agrega muito e é um conteúdo muito, muito legal. E queria agradecer muito pelo trabalho que vocês fazem com a página. To bem ansioso com o lançamento da camiseta (risos).

New Balance 1600 CM1600G
Ano: 2017
Dono: Alexandre Félix
Foto por: Vinicius Martin

Journal

All posts