Karem Keiko Karem

Karem Keiko

Nike Dunk High x Ambush Nike Dunk High x Ambush
26—05—2021 Fotos por: Pérola Dutra
Karem Keiko
Entrevista Nº 171

A entrevista desta semana é com a Karem Keiko – jornalista, modelo e criadora de conteúdo. Para sua entrevista aqui no Kickstory, ela escolheu um tênis que tem um significado muito especial – o Nike Dunk High x AMBUSH. Não só um tênis maravilhoso por si só, mas ele também representa sua admiração pela Yoon Ahn, diretora criativa da AMBUSH.

Seu primeiro contato com a Yoon foi no clipe de ‘L$D’ do A$SAP Rocky, e a partir de então, começou a pesquisar e conhecer a história dessa marca que começou no mercado de joias, e hoje é referência no mundo do streetwear.

“Eu tenho 22 anos, sou formada em Jornalismo, mas eu trabalho com produção de conteúdo em agência de publicidade, então eu sou meio publicitária na verdade. Em 2018, eu estava  pensando em fazer vídeos sobre tênis, até algumas pessoas já falavam pra eu fazer e o maior incentivo era “não tem mina falando sobre tênis, você precisa fazer conteúdo, você sabe as coisas, você gosta”. E aí aos poucos eu fui fazendo, comecei fazendo vídeo pro YouTube, Instagram também, começou a ir melhor no Instagram e fui entrando nesse meio. Tô falando só agora de tênis, mas sempre gostei desde pequena.”

Você sempre quis fazer Jornalismo? Como você conheceu e se interessou pela profissão?

Karem Quando tive que prestar o vestibular, eu não sabia o que eu queria fazer, mas eu sabia que ia ser ligado à comunicação. Primeiro pensei em Design Gráfico, aí eu desisti. Depois pensei em fazer publicidade, meu pai é formado em publicidade, e falou “acho que você não vai gostar de trabalhar em agência”. Aí pensei em fazer jornalismo. Só que eu sabia que eu não queria trabalhar com jornalismo. Na faculdade, todos os meus colegas de sala falavam “aí eu quero trabalhar em grandes mídias, quero trabalhar na TV” e eu, tipo, eu não quero isso (risos). Por acaso, surgiu uma oportunidade de um emprego de redator na área de conteúdo e produção de conteúdo e eu gostei muito.

Eu gosto bastante do meu trabalho, no momento eu não tenho vontade de largar meu emprego pra viver de conteúdo de tênis. Ainda não tenho essa vontade.

A gente se conheceu no shooting para a Fila, onde você era uma das modelos da campanha. No seu Instagram além de falar sobre e mostrar os seus tênis, você foca bastante nos looks também. Como você chegou na moda e começou a trabalhar com isso?

Karem Quando eu estava na escola, eu tirei do nada que queria fazer moda. Minha mãe tem uma loja de roupas desde antes de eu nascer, então eu cresci nesse ambiente e sempre queria montar vitrines da loja e escolher as roupas para colocar nos manequins. Eu cheguei a visitar faculdades de Moda, eu queria fazer lá fora, até eu prestei o SAT…mas aí o dólar aumentou do nada e não deu pra fazer.

Depois eu pensei em jornalismo de moda e achei que seria uma ótima opção. Ao longo da faculdade eu fui meio que desistindo dessa ideia, mesmo gostando muito do assunto. Eu sempre acompanhava marcas, estilistas e revistas de moda – sempre fui louca por revistas de moda. E foi assim que aconteceu. Eu não planejei fazer um Instagram e postar looks, só aconteceu, as pessoas gostaram e pediram mais. E foi bem estranho porque eu só me vestia porque eu gostava de me vestir, e aí a galera começou a falar “nossa, gosto muito do seu estilo; dá uma dica de como usar tal peça; como você usa isso? Onde você compra isso?”.

Na época de escola, quando eu tinha uns 15 anos, eu tive um blog de moda no Tumblr com uma amiga, acho que durou um ano, mas a gente foi notada pela Kylie Jenner (risos). Então eu sempre gostei e aí foi indo.

Em algum momento você pensou que um dia teria um instagram focado nisso, tanto em streetwear como em tênis também?

Karem Eu não imaginava que isso ia acontecer. Uma coisa eu sabia, que eu gostaria de trabalhar com algo relacionado a tênis algum dia. Na época do TCC na faculdade, eu sabia que queria fazer ele sozinha. E aí eu pensei “tem um monte de gente que consegue emprego por causa do tema do TCC e começa a trabalhar com isso. Vou fazer um livro sobre tênis”. Eu falei pra minha orientadora e ela disse que eu só poderia fazer isso em dupla. Mas eu queria fazer sozinha porque não tinha ninguém da minha sala com quem eu poderia formar uma dupla, eu não era próxima de ninguém na verdade. As pessoas com quem eu falava queriam fazer sobre jornalismo esportivo, sobre não sei o quê, e eu não – eu queria fazer um livro sobre tênis.

Até me inspirei no Kickstory, coloquei vocês no meu TCC. A minha ideia era meio o que vocês fazem só que em formato de livro – falando com pessoas, contando a história delas através de algum par de tênis. Eu tinha uma lista de pessoas que eu queria entrevistar, já tinha até falado com elas em eventos. Mas aí minha orientadora falou “Para fazer sozinha tem que ser uma monografia e tem que ter a ver com jornalismo”. Então no final o meu TCC acabou sendo uma análise dos sites que fazem conteúdo especializado em cultura sneaker.

Nessa época não tinha muito conteúdo ainda no Instagram sobre isso. E aí eu postei e um monte de gente falou “nossa que legal, deixa eu ver seu TCC. Quero fazer meu sobre tênis também”. Só que quando eu estava fazendo o TCC, foi um ano muito difícil na minha vida pessoal e aí eu não consegui fazer ele do jeito que eu queria. O meu plano era que depois que acabasse a faculdade, depois que eu desse um respiro, eu refazer ele. Até agora não consegui porque no último ano da faculdade eu comecei o emprego novo e aí fui emendando com um monte de coisa. Mas o meu plano ainda é voltar nele e dar uma reformulada.

Mesmo a cultura de tênis sendo algo tão grande e tão presente hoje em dia, não são muitos os registros escritos, em um único lugar com um compilado de informações. Como foi para achar essas informações para o seu TCC?

Karem Foi bem complicado, porque na monografia, cada parágrafo, cada informação que você traz, você tem que ter uma referência. E eu falava pra minha orientadora “Não tem. Eu vou falar que eu tirei de um site que fala sobre tênis, tudo bem?”. Aí ela “Não, você precisa botar alguma referência”. Aí eu comecei a voltar em documentários que eu já tinha visto e anotar a minutagem da onde eu tirei, tipo anotar tudo. Eu via o documentário escrevendo. E mesmo assim só tinha alguns documentários e aqui no acadêmico do Brasil não tem trabalhos sobre tênis. Lá na gringa eu ainda achei uns 3 trabalhos de conclusão de artigo. E aí o meu TCC foi usando como base documentários, um ou outro trabalho acadêmico, SneakersBR, Kickstory, Instagram e mais um ou outro lugar.  Eu tenho muita vontade de fazer um livro real porque não tem em português. Esse é um plano muito pro futuro, mas eu tenho muita vontade.

Você lembra quando começou a sua paixão por tênis? Quando foi aquele momento que você viu um par e deu aquele “clique” especial?

Karem Eu lembro. Eu gosto muito de tênis por influência do meu pai. Não sei se ele sabia que existia ou se ele conhecia o “universo sneakerhead”, mas ele tinha uma coleção de mais de 100 pares. Então desde pequena eu lembro de em casa, abrir sapateiras e ver milhões de tênis.

Meu pai é apresentador de TV e radialista. Ele tinha um programa na filial da Globo no Japão, então pelo menos uma vez por ano ele ia pra lá. E ele sempre trazia tênis porque quando meu avô ia pro Japão, ele trazia tênis pro meu pai. Era isso a infância dele, e aí ele me trazia tênis. E eu lembro de uma vez, quando eu tava na 4ª série, que meu pai trouxe um Puma muito diferentão. Era branco com a sola preta e tinha uns velcros, não parecia tênis de criança, e eu usava muito ele. E uma uma vez eu tava num evento, nada a ver com a escola que eu estudava, com esse tênis e aí uma amiga minha chegou e falou “Karem? Nossa, sabia que era você por causa do seu tênis”. Me reconheciam por causa dos tênis diferentes que meu pai trazia do Japão, desde criança.

Em 2012, na época que eu usava Tumblr, eu tinha uns 14 anos. O primeiro tênis que eu vi e falei “nossa, eu preciso dele” foi o adidas Jeremy Scott Wings. E aí do nada apareceu um monte de fotos desse tênis, eu comecei a salvar, tirei vários prints, fiquei enchendo o saco dos meus pais e aí quando meu aniversário chegou, eles me deram.

Como meu pai é radialista, eu sempre ouvi todo tipo de música – eu gosto de rap, só que minha banda preferida é Green Day. Eu já fui no show do Green Day sozinha, no do Gorillaz sozinha, no show do Justin Bieber, tipo coisas completamente aleatórias (risos). Então muito de eu gostar de tênis também vem da influência dos rappers. Quando eu tava na escola, com uns 15 anos, eu queria uma Yellow Boot e aí eu juntei dinheiro, fui na Timberland do Shopping Higienópolis com meu dinheiro contado para comprar uma Yellow Boot (risos). Então, acho que desde sempre, sem querer, cresci gostando de tênis.

“Sempre que eu vejo uma mina asiática fazendo alguma coisa dahora eu fico obcecada, é muito foda ver minas asiáticas no topo de alguma coisa, sendo reconhecida. Até a Carla que vocês entrevistaram, eu já mandei mensagem pra ela falando o quanto eu admirava o trabalho dela.”

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E por que de todos os seus tênis, você escolheu o seu Nike Dunk High x AMBUSH para o Kickstory?

Karem Eu sou muito fã do A$AP Rocky, tenho até tatuagem. Quando ele lançou o clipe L$D que é em Tóquio, eu fiquei muito obcecada, e a mina do clipe é a Yoon. Até por causa dela, eu tava numa época de querer mudar meu cabelo, eu queria descolorir ele porque eu vi uma asiática – a Yoon – com cabelo descolorido e eu pensei “hum, posso fazer que vai ficar legal”. E aí só depois que eu fui descobrir que ela era designer, que tinha uma marca e não sei o quê. Sempre que eu vejo uma mina asiática fazendo alguma coisa dahora eu fico obcecada, é muito foda ver minas asiáticas no topo de alguma coisa, sendo reconhecida. Até a Carla que vocês entrevistaram, eu já mandei mensagem pra ela falando o quanto eu admirava o trabalho dela. Já tinha tido alguns lançamentos de tênis com a Ambush, aí eu vi esse e falei “Nossa, eu preciso e se eles continuarem lançando isso…eu preciso de todos” (risos).

Eu gosto muito da AMBUSH. A Yoon é coreana, mas ela mora em Tóquio e é casada com o Verbal, que é japonês. Tem muita influência do Japão nas coisas que eles criam e eu gosto muito. Uma coisa que gosto muito da AMBUSH é que é uma marca que quebra as barreiras de gênero. E isso é muito foda porque eu nunca escolhi roupa só na seção feminina…eu até vou na masculina primeiro pra ver se eu gosto de alguma coisa. Acho que a única coisa feminina que eu tô usando hoje é esse body (risos). E amo também como eles pegam coisas do dia a dia e transformam em jóias, em inspiração pras roupas, eu acho isso muito legal.

Então, tudo da história, da Yoon, da proposta da AMBUSH, eu amo e fiquei apaixonada por esse tênis. Eu chorei quando eu consegui comprar – acho que foi o primeiro tênis que eu chorei de verdade quando chegou em casa.

Eu tava tão desesperada para conseguir esse tênis que os meus seguidores tentaram comprar pra mim no site da Nike. De tanto que eu tava postando um moleque falou “ou, eu vou tentar pra você e aí se eu conseguir você me transfere”. E ele ficou me atualizando “Tô no site da Nike, to tentando, to tentando”. E aí aprovou, só que depois cancelaram. Esse eu consegui no sorteio da Cartel 011.

Você vê muita diferença do momento que você estava fazendo o seu TCC, com uma visão de fora, para agora que você faz conteúdo, conhece as pessoas, tem contato com as marcas, e está “inserida” na “cena”?

Karem Na verdade, meio que aconteceu tudo ao mesmo tempo. Eu já tinha ganhado um tênis antes de fazer meu TCC, eu já tinha uns dois vídeos no YouTube e aí comecei a postar mais. O primeiro tênis que eu ganhei foi o Nike Air Force 1 Shadow, porque uma amiga minha coincidentemente trabalhava na assessoria da Nike e aí, quando eu comecei a postar, ela falou “Karem, posta mais, não to achando outras meninas que fazem esse tipo de conteúdo e eu quero te incluir nas coisas aqui. Posta vídeos, faz qualquer coisa”.

Enquanto eu fazia o meu TCC, eu falava pros meus amigos que é completamente diferente do que eu pensava. Sendo sincera, eu sentia muita falta de ver conteúdo mesmo sobre tênis. Porque o que eu acompanhava era “vai lançar esse tênis”, era só isso que eu via no meu feed – tudo muito comercial e muito release repostado. E aí quando eu fiz meu TCC, eu queria criar conteúdo porque não tinha muita gente fazendo isso. Não quero saber de lançamento de tênis, tem 20 páginas gringas que postam isso. No meu feed só tinha isso: vai lançar tal tênis amanhã, vai lançar tal tênis segunda-feira.

As pessoas me procuravam falando “Karem, onde eu encontro esse tênis? Karem, o que é esse tênis?”. E eu comecei a postar, eu queria que as pessoas soubessem o porquê que a gente gosta de tênis. Eu queria me dedicar, nem que seja só os meus amigos vendo no começo, isso já vai ajudar porque eles tão me perguntando no WhatsApp. Decidi começar a postar, vai que alguém também precisa, vai que alguém também quer saber essas informações.

“Enquanto eu fazia o meu TCC, eu falava pros meus amigos que é completamente diferente do que eu pensava. Sendo sincera, eu sentia muita falta de ver conteúdo mesmo sobre tênis. Porque o que eu acompanhava era “vai lançar esse tênis”, era só isso que eu via no meu feed – tudo muito comercial e muito release repostado.”

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Para todo criador de conteúdo é super gratificante quando uma marca reconhece o trabalho e apoia o que você está fazendo. Como foi esse primeiro contato com as marcas?

Karem Então, essa minha amiga disse: “eu tenho que fazer uma apresentação com influenciadores, creators, que vai ser apresentada pra a diretora da Nike Global. A Nike quer a galera que traduz o que a marca é e não influenciadores com milhões de números. Eu vou te colocar na apresentação, tá bom?” e eu falei tá bom. Depois de uns dias, ela “Karem, meu Deus, a gente apresentou e a galera da gringa te amou”. E eu “Quê? Você tá me zoando?”. E ela: “Não, a galera te amou real e a galera da Nike daqui já te conhece”. E aí foi isso. Às vezes eu fico “Não sei porque a marca gostou de mim mas que bom que eles gostaram” (risos).

Você tem algum conselho para meninas que tem vontade de criar alguma coisa delas, seja sobre tênis, moda ou o que for?

Karem Meu conselho é: vai com tudo, não tenha medo e não ligue pro que as pessoas falam, muito menos pros homens que acham que as minas não podem falar sobre tênis. Se joga e se arrisca. Não tenha vergonha e vá treinando até sair do jeito que você quer. É isso.

Nike Dunk High X AMBUSH
Dono / Owner: Karem Keiko
Ano / Year: 2020
Fotos / Pictures: Pérola Dutra

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